6º dia – Kaza – Keylong

Seria o primeiro dia sozinho pelas montanhas do Himalaia. Estava com um frio na barriga, como na primeira vez que fiz uma viagem de moto para o Atacama, mas seguro de que o meu planejamento era bom o suficiente para que os próximos 20 dias na estrada fossem um sucesso e todos os desafios que encontraria seriam vencidos.

Acordei cedo, arrumei a bagagem, pedi um Pharanta com chá – que estava bastante apimentado -, paguei a conta do hotel e passava pouco das 7h quando fui para a estrada.

Ainda dentro da cidade, parei para tirar algumas fotos junto às enormes stupas budistas que ficam às margens da estrada. Tentei tirar fotos de alguns monges que andavam em volta delas, mas não consegui um bom ângulo.

Viagem de moto pelo Himalaia - Índia

O sol ainda estava encoberto pelas montanhas e apenas os picos mais altos eram iluminados. A estrada acompanhava o rio Spiti e no início estava excelente, mas as muitas curvas e o fato de ser muito estreita, me obrigaram a conter a velocidade. Tinha rodado cerca de 10 quilômetros e avistei o Ki Monastery do outro lado do rio, permitindo uma visão muito melhor que a do dia anterior. Parei para registrar algumas fotos. Várias na verdade. Segui em frente, mas olhando para a impressionante construção à minha direita. Cerca de 3 quilômetros depois tive a melhor vista do lugar que eu poderia querer. O sol iluminava o lado do complexo, como que destacando-o dos demais elementos do entorno. Parei para tirar mais fotos e gostei do resultado.

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Depois de uma pequena reta o asfalto acabou e começou o cascalho. Na maior parte compactado, mas com muitos aclives, declives e curvas, a viagem não rendia. Dificilmente eu conseguia ultrapassar 40 km/h na moto. Uma curva complicada e uma derrapada com a roda da frente me fez reduzir ainda mais a velocidade.

Às 10h tinha percorrido cerca de 50 km e cheguei a Losar, uma pequena vila. As ruas estavam desertas. Apenas uma mulher carregando um grande fardo de capim. Após a vila, um posto de checagem da polícia, onde tive que apresentar o passaporte e a permissão para viajar pelo Spiti Valley.

Viagem de moto pelo Himalaia - Índia

Poucos quilômetros depois encontrei uma manada de iaques, o boi peludo do Himalaia. Parei e peguei a câmera para tirar fotos, mas os bichos eram muito ariscos e correram. Mesmo com sol, a temperatura era muito baixa. Aproveitava cada parada para fazer xixi e beber água da garrafa, que estava como que tirada de dentro de um freezer.

Alguns trechos da estrada que eu percorria – NH 505 -, passavam ao lado do rio, noutros ela subia as montanhas bem acima do seu leito, percorrendo encostas com profundos abismos ou pequenas áreas planas onde finalmente tinha algumas curtas retas, mas sempre em altitude próximas aos 4 mil metros acima do nível do mar.

Cheguei a um local onde havia um entroncamento em Y sem nenhuma indicação para onde deveria seguir. Eu não tinha GPS ou mapa, tinha decorado o roteiro e não lembrava de ter visto esse entroncamento. Optei pelo que tinha mais marcas de pneu na terra e me pareceu ser o mais usado e acabei acertando.

Cheguei ao Kunzum La (na placa do lugar estava escrito Kunjom Top). Uma passagem de montanha a 4.590 metros de altitude. O sol já não aparecia. Ventava e fazia muito frio. Bandeiras de oração budistas fixadas em cordões demarcavam uma pequena via até um monumento budista.

Depois da passagem, uma difícil descida em zigue zague com muitas curvas de 180º. A altitude baixou para próximo de 3 mil metros e a estrada passou a acompanhar o rio Chenab, que conheci ano passado na viagem com o Rafael.

Viagem de moto pelo Himalaia - Índia

Pouco depois do meio dia parei em um Dhaba na beira da estrada perto de uma pequena vila chamada Batal, onde havia algumas pessoas escondendo do frio, inclusive dois cilcistas romenos. Pedi um Omelete com pão e um suco de caixinha. Uma senhora que almoçava ao lado do banco que sentei comia em uma marmita e fazia muito barulho com a boca.

Começou a chover fraco. E esfriou mais ainda. O vento chegava a assoviar. As mão começaram a congelar e tive que reforçar, colocando a luva mais grossa sobre outra.

Um trecho da estrada não passava de uma trilha atravessando o leito pedregoso do rio, com água correndo em toda a extensão. A moto dançou muito sobre as pedras para atravessar o lugar. Depois comecei a subir uma montanha onde havia muito barro. O pneu liso dificultou ainda mais transpor o trecho.

Cheguei à vila de Khoksar, onde a NH 505 encontra a NH-21. Mais uma barreira policial para apresentar passaporte e permissão de viagem e depois segui em frente. Alguns quilômetros depois peguei uma excelente estrada, mas a chuva, que tinha dado uma trégua, voltou forte e me obrigou a parar e colocar as capas de chuva.

O plano era pernoitar na cidade de Jispa, mas às 18 horas eu cheguei à cidade de Keylong, 20 km antes, então resolvi ficar na cidade, onde já tinha pernoitado um ano antes. Peguei uma estrada que levava à cidade e achei que era a mesma que tinha percorrido no ano passado, mas era outra. Ela me levou para uma área onde tinha muitas lojas. Parei em frente a um hotel e negociei o valor de um bom quarto, onde tinha internet e água quente (depois de quatro dias poderia enviar notícias e sem um banho decente), banheiro inglês e uma cama confortável. O que mais queria era um banho quente e duradouro, mas a água quente durou menos de 10 minutos.

Destaque para o consumo de combustível. Antes de sair de Kaza eu completei o tanque e reabasteci em Tandi, 9 quilômetros antes de Keylong e coube apenas 4,5 litros, tendo percorrido 193 km. Foram quase 50 km/litro.

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