3º dia – Recong Peo – Nako

O escritório do governo onde eu pegaria a autorização para ir para o Spiti Valley só abriria às 10 horas, mas antes das 7h eu já estava de pé para tirar fotos das montanhas com picos cobertos pela neve que rodeiam a cidade. Era a primeira neve que eu via durante a viagem.

Pouco antes das 10h fomos para o escritório e já tinha fila de estrangeiros no local. Havia um grupo de motociclistas de vários países europeus que estavam sendo conduzidos por uma agência de turismo. Motos grandes, carro de apoio e uma grande estrutura. Tinha também um motociclista de Bangladesh que estava viajando pela Índia. Escutei o agente que o atendia lhe falando que não poderia lhe fornecer a permissão por causa da sua nacionalidade. Índia e Bangladesh são vizinhos com problemas com a delimitação de suas fronteiras e as relações diplomáticas não são muito amistosas entre os dois países.

Apesar de demorado o processo, não tive problemas para obter a permissão.

Viagem de moto pelo Himalaia - Spiti Valley

Por volta das 11 horas montamos nas motos e seguimos para o Chandika Devi Temple, um templo hindu que fica em Recong Peo. Para entrar, tive que tirar as botas e deixar na porta. Ficamos por lá cerca de 30 minutos. Depois seguimos para Kalpa, para conhecer o monastério budista da cidade. Foram cerca de 40 minutos para chegar ao lugar. Apesar da estrada ser asfaltada, era muito estreita e tinha muitas curvas de 180º que nos levaram até o alto da montanha onde fica a cidade. No monastério eu vi pela primeira vez as rodas de oração budistas.

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Já era uma hora da tarde quando finalmente fomos para a estrada.

Voltamos para a NH 5 (National Highway 5), que acompanha o rio Sutlej e seguimos em frente. Tabo, o destino planejado para o dia, ficava a apenas 150 km de distância, mas a estrada de areia, cascalho e terra não nos permitiu desenvolver uma boa velocidade. Demoramos uma hora para percorrer pouco mais de 20km e paramos em uma fonte que ficava à beira da estrada. Segundo o Ankur, a água daquela fonte era especial e abençoada por um dos deuses hindus. Ele encheu sua garrafa, mas eu preferi não beber daquela água, com receio de ter problema estomacal.

Uma hora e meia depois e mais 25 km percorridos passamos por um templo hindu que ficava na beira da estrada, encravado nas rochas. O lugar chamava-se Shrimati Dhang. Paramos, tiramos fotos e o Ankur passou tinta na minha testa e disse que aquilo e o fato de ter entrado no templo de Recong Peo me protegeria na estrada.

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Mas a viagem continuou muito difícil. A estrada intercalava trechos asfaltados com outros muito ruins. Às 17 horas tínhamos percorrido apenas metade do percurso programado para o dia, cerca de 75 km. Passamos por uma pequena vila e paramos à frente para tirar fotos de uma ponte muito interessante.

Cerca de 3 km à frente a estrada atravessava novamente o Rio Sutlej e passava a percorrer uma face da montanha onde era recortada na rocha. A partir daquele ponto passamos a acompanhar o rio Spiti, que percorria uma extensa garganta cortada entre rochas. Entrávamos oficialmente no Spiti Valley.

Frequentemente a estrada subia as encostas das montanhas em zigue zague com curvas de 180º, nos levando a altitudes cada vez maiores. Agora estávamos a mais de 3000 metros acima do nível do mar.  A noite veio logo depois e a viagem tornou-se dramática por que a estrada percorria encostas de montanhas com precipícios profundos e o frio estava de rachar.

Às 19h30 chegamos a uma vila chamada Nako onde havia alguns hotéis e resolvemos ficar por ali. Estávamos a 3600 metros de altitude. Tínhamos percorrido 122 km desde que saímos de Recong Peo. Arrumamos dois quartos no Lovon Hotel, onde não tinha água quente para tomar banho (segunda noite seguida que não tomava banho), não tinha toalha, papel higiênico e a roupa de cama era bem suja. Tive que dormir no saco de dormir e cobrir com várias mantas grossas para aguentar o frio. Estávamos a menos de 30 km de distância da fronteira com o Tibete.

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