7º dia – Keylong – Pang

Acordei ansioso. Nesse dia eu chegaria a Ladakh, onde se encontram as estradas e as passagens de montanha mais altas do mundo, algumas das paisagens mais fantásticas do Himalaia e o destino principal dessa minha viagem de moto.

Demorei um pouco para ir para a estrada. Fiz um lanche no restaurante do próprio hotel, paguei as despesas, arrumei a bagagem na moto e iniciei a viagem por volta das 8h30.

Como a moto é muito econômica, acreditava que os 13 litros do tanque seriam suficientes para percorrer os 480 km que que teria que percorrer nos próximos três dias para chegar a Leh, mas pretendia abastecer em Jispa, 23 km à frente e onde ficava o último posto do percurso, por garantia. Mas quando passei pela cidade não vi o posto, apesar de ter olhado atentamente. Segui em frente mesmo assim.

Viagem de Moto pelo Himalaia - Ladakh

6 km depois de Jispa, na vila de Darcha, tive que parar em um posto da polícia para apresentar documentos e preencher os dados em um grande livro.

Um comboio de caminhões do exército indiano seguia à minha frente e foi complicado ultrapassá-lo. A estrada de cascalho estreita, cheia de curvas, aclives e declives complicava o processo. Num determinado momento veio um caminhão em sentido contrário e bloqueou a estrada, não sobrando espaço para passar nem com a moto. Perdi muito tempo até que encontrassem um jeito dele dar ré até um lugar que permitia a passagem.

Passei por um lugar lindo, onde havia uma base do exército. As casas eram de metal e fiquei imaginando o frio que os soldados passavam naquele lugar. Nesse trecho havia uma fina e estreita camada de asfalto sobre a estrada, facilitando um pouco o deslocamento.

Viagem de Moto pelo Himalaia - Ladakh

Outro trecho à frente, sem asfalto, tinha várias quedas d`água que percorriam a estrada, com fundo cheio de pedras que tornavam muito difícil a passagem com a moto.

O tempo estava ótimo, temperatura agradável, ensolarado, e a estrada, no início, estava excelente. Um buraco aqui e ali no asfalto, mas permitia desenvolver uma boa velocidade para contornar as curvas. Na medida em que os quilômetros foram passando, ela foi piorando até sumir completamente o asfalto e começar o cascalho.

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No início a altitude variava entre 3200 e 3600 metros, mas foi subindo gradativamente: 3800, 4000, 4200… até atingir 4.850 metros na primeira passagem de montanha, BarachaLa, cerca de 75 km de Keylong. Eram 11h30. Montanhas cobertas de neve rodeavam toda a região.

Às 13h30 cheguei ao pequeno povoado de Sarchu, a 4.300 metros de altitude, que existe apenas entre maio e outubro. Nos outros meses ele é coberto pela neve e não existe acesso ao local. É formado por dhabas (restaurantes) bastante precários contruídos ao longo da estrada para atender aos viajantes, tudo feito com paredes e teto de folhas de zinco, onde os viajantes podem alimentar e pernoitar. Como um oásis em meio ao deserto gelado das montanhas. Ao lado, mais uma base do exército, que são vistas ao longo de quase todo o percurso. Tive que apresentar documentos em posto de checagem na entrada da vila.

Viagem de Moto pelo Himalaia - Ladakh

Parei em um dos dhabas, onde uma senhora de mãos calejadas me atendeu. Apesar da higiene precária, pedi dois omeletes com pão e chá de gengibre e limão. O óleo que passou na frigideira parecia ser reaproveitado de muitos usos. Nos entendemos por mímica. Tirei fotos dela trabalhando e ela pediu para ver. Depois perguntou meu nome e escreveu os sons na língua dela em um caderno.

Na saída da vila, outro posto de checagem, onde também tive que parar e apresentar documentos, pouco mais de 500 metros distante do anterior.

Segui viagem e a paisagem ficava cada vez mais bonita. A estrada começou a acompanhar o Rio Tsarap com águas azuis muito bonitas. Pouco depois cheguei ao Gata Loops, um trecho da estrada que sobe dos 4200 para os 4700 metros de altitude em pouquíssimos quilômetros, com 21 loops – idas e vindas com curvas de 180º -. Nesse ponto a estrada está sendo asfaltada. No ponto mais alto desse trecho existe um marco indicando que é o NakeeLa com 4.739 metros de altitude. Havia um ciclista no lugar com duas bicicletas. Era da República Tcheca. Perguntei onde estava seu companheiro e ele respondeu que estava viajando com sua namorada, que havia ido ao toilet. Eles pretendiam chegar ainda hoje a Pang, o mesmo lugar que eu queria pernoitar. Enquanto tirava fotos do lugar, uma moça muito bonita saiu de trás de um barranco, me cumprimentou, pegou a bicicleta e ambos saíram para a estrada.

Viagem de Moto pelo Himalaia - Ladakh

Depois percorri um trecho da estrada com um asfalto precário, com ondulações que fizeram a moto pular que nem cabrito. Ela se mantém próxima aos 4700 metros até a próxima passagem de montanha: LachungLa, 5.065 metros acima do nível do mar. Eram 4h da tarde.

Durante o dia vi pouquíssima vegetação. Basicamente é um deserto de altitude, arenoso, seco, frio e com muita água de degelo da neve descendo as montanhas em cachoeiras até encontrarem um rio no fundo de um vale. Muitas curvas e piso de terra, areia e cascalho.

Pouco depois das 17h30 cheguei à vida de Pang, a 4.602 metros de altitude. Assim como Sarchu, é uma vila que existe apenas durante alguns meses do ano, mas ao contrário da outra, os dhabas ali eram contruídos com paredes de pedra e barro. Parei num deles e perguntei se havia lugar para pernoitar. O rapaz me mostrou um cômodo onde havia várias camas coladas uma à outra. Perguntei se havia um quarto individual para alugar e ele me levou para os fundos, onde havia um barraco com paredes de barro e teto de zinco. Uma cama com tapetes em cima e uma pequena mesinha de madeira no canto eram os únicos móveis. O colchão era feito de tecidos estendidos e muitos calombos. Depois de acertarmos o valor do quarto fui para o “restaurante” onde pedi arroz com vegetais cozidos e chá. Sentia uma leve dor de cabeça, por causa da altitude, mas preferi não tomar remédio.

Conversei com um inglês que também estava viajando de moto, mas retornando de Leh. Conhecia o Brasil e pretendia voltar para viajar pelo país de moto. Comentei que as estradas do Brasil eram muito perigosas por causa do movimento e da velocidade e ele ficou meio desanimado.

Foram 9 horas para percorrer os 116 km entre Keylong e Pang.

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