20º dia – Putre – San Pedro de Atacama

Amanheceu fazendo muito frio em Putre, uma pequena cidade chilena que fica a 3.600 metros de altitude, Próximo à divisa com a Bolívia. Comemos alguns biscoitos, bebemos água e deixamos a pensão simples onde estávamos hospedados. Nosso quarto era este da foto acima. Com muita dificuldade conseguimos tirar as motos do estacionamento. Tinha piso de brita, um pequeno aclive e nenhuma área para manobras. Aproveitei para colocar a bandeira do Chile na moto.

Pegamos uma estrada com muitas curvas, névoa intensa e pedras soltas sobre o asfalto que caíram das encostas.

Avançamos lentamente até que chegamos a uma região mais baixa, o tempo abriu e a estrada melhorou bastante. Chegamos ao Deserto do Atacama. A estrada ficou muito melhor, permitindo que desenvolvêssemos uma velocidade muito boa. As grandes dunas de areia e cascalho circundam grandes vales onde correm rios, à beira dos quais existem fazendas com plantações.

Em um determinado momento, absorto em meus pensamentos, olho para baixo e vejo uma fita preta balançando ao vento e saindo por debaixo do pára-brisas da moto. Logo reconheço ser a fita que levava presa à câmera que havia perdido ontem. Não sei como ela deslizou para baixo e ficou presa entre o pára-brisas e a mesa da moto. Parei e comemorei a recuperação da câmera, não só por ela, mas principalmente pelas fotos, como as que mostram o “emplacamento” das motos na Bolívia.

Depois de abastecer e fazer um lanche num posto, continuamos nossa viagem pelo deserto, agora subindo até 2.000 metros de altitude. De vez em quando apareciam grandes vales que, para transpor, tínhamos que descer pela encosta arenosa até 1.700˜1.800 metros abaixo, subindo em seguida até o nível anterior.

de repente começamos a passar por trechos de asfalto molhado. Achei estranho, pensando a princípio que poderia ser algum caminhão que espalhara água sobre a pista. Mas comecei a perceber que o céu estava coberto de nuvens negras. Eu me lembro que da outra vez que estive por aqui o céu estava completamente azul. Nuvens não são comuns no deserto mais árido do mundo. Será?

De repente, chegamos num trecho em que a estrada estava interrompida e um grande rio de lama cobria o asfalto, correndo de um lado para o outro. Havia uma placa indicando que a passagem era somente para caminhões.

Paramos e eu fui avaliar melhor. Voltei e falei para o Marcelo para esperarmos pelo menos um carro atravessar para ver como se comportaria. Passou um caminhão e logo depois um 4X4. Parecia tranquilo. Perguntei ao Marcelo o que ele achava e ele respondeu: Não dá para voltar daqui. Vamos em frente. Combinamos que eu iria primeiro e se conseguisse filmaria a passagem dele. E foi o que fizemos. Tanto as motos como nós saímos bastante respingados.

Continuamos pelo deserto e começamos a ficar preocupados com o combustível. Já havíamos percorrido mais de 300 km de muita subida e descida desde o último abastecimento sem ver um único posto e estávamos agora em uma subida muito íngreme em direção a Calama. A luz reserva acendeu, o indicador de autonomia já mostrava low e ainda tinha mais subida pela frente. Vagarosamente passamos pelo ponto mais alto e começamos a descer. As motos chegaram no posto quase sem gasolina, 328,5 km depois do último abastecimento.

Passamos por Calama com o sol se pondo. Ainda faltavam mais de 100 km, mas a estrada tinha voltado a ficar muito boa. Aceleramos para chegar logo ao nosso destino, San Pedro do Atacama. Elegemos um carro como coelho e o acompanhamos à distância, mantendo a mesma velocidade que ele. Tudo corria bem até que de repente pensei que o carro havia parado mas a noite no deserto confunde muito as distâncias. Sem luz alguma no céu, nem lua, nem estrelas, retas enormes. Estávamos descendo, o Marcelo mantendo uma boa distância atrás conforme combinamos, pois seu farol estava desregulado e me atrapalhava. Olhei para o GPS e a velocidade que eu estava era de 126 km/h. Olhei de novo e parecia que as lanternas traseiras do carro / coelho estavam aumentando de tamanho. Comecei a diminuir desacelerando e pisando no freio traseiro e de repente a moto saiu de traseira. Começou a espirrar algo sobre o pára brisas da moto, depois em mim, olho com atenção e vejo o piso cheio de barro. A moto continua dançando de um lado para o outro. Começo a visualizar o carro à frente, agora não somente a lanterna, mas toda a sua silhueta. Ele havia parado no meio de um rio que atravessava a pista. E eu me aproximando, sem conseguir parar a moto. Faltando pouco para colidir com sua traseira o carro arranca. Passo pelo rio de lama e ando mais doze quilômetros até San Pedro com a certeza de que havia acabado de me livrar de um acidente.

Chegamos em San Pedro e a cidade estava um caos. Lama para todo lado. O que antes eram ruas de terra poeirenta, agora estavam cobertas de grandes lagoas. Paramos para conversar antes de ir procurar um hotel. Olhem na foto abaixo como chegamos no hotel em San Pedro.

Havia chovido por quatro horas seguidas em San Pedro de Atacama. Um cara com quem conversei disse que mora lá há 20 anos e nunca havia visto isto acontecer. Disse a ele que foram dois mineiros que levaram chuva para o deserto.

Números do dia:

Distância percorrida: 890,2 km
Distância total: 7.690,9
Gasolina: R$ 103,61
Valor por litro: R$ 2,47
Lanche: R$ 12,60
Hospedagem: R$ 35,00
Jantar: R$ 44,80

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