Viagem de moto até o Deserto do Atacama

Roteiro: San Pedro de Atacama

Antes de fazer a minha primeira viagem de moto até o Deserto do Atacama, no norte do Chile, pesquisei na internet notícias e relatos de quem já havia ido até lá, li muitas histórias de viajantes, me encantei com as fotos e filmes incríveis que vi e que me fizeram sonhar em um dia conhecer aquela região ímpar. Quando tive a oportunidade de fazer aquela viagem, em janeiro de 2009, constatei que o Atacama era muito mais do que havia imaginado. A beleza exótica e diferente de tudo que nós brasileiros conhecemos em nosso país e a mística do lugar superaram as minhas expectativas.

Naquela oportunidade eu vim com minha moto do sul do Chile. Passei por Santiago, La Serena, Copiapó, Caldera, Chañaral, Antofagasta e Calama para chegar a San Pedro de Atacama. Na segunda viagem pela região eu vim do norte. Saindo da Bolívia, passei por Arica, Iquique, e Calama para também chegar a San Pedro de Atacama.

San Pedro é o centro dessa região que tanto atrai a atenção de motociclistas, mochileiros, fotógrafos, astrônomos, cientistas, pesquisadores e aventureiros de todo o mundo. No seu entorno ficam as principais atrações turísticas do Deserto do Atacama.

Nesse artigo, vamos falar da cidade de San Pedro de Atacama, o que conhecer na região, como escolher um hotel para pernoitar, os restaurantes, as principais atrações turísticas que poderão ser visitadas e sobre os roteiros mais usados pelos motociclistas brasileiros para chegar à cidade.

O Deserto do Atacama

O Deserto do Atacama está localizado na região norte do Chile, tendo o Peru ao norte, a Bolívia a nordeste, a Argentina e a Cordilheira dos Andes a leste e o Oceano Pacífico a oeste. Com cerca de 1000 km de extensão, é considerado o deserto mais alto e mais árido do mundo.

As temperaturas no Atacama variam muito durante um dia. Na parte da manhã e tarde elas oscilam entre 25º e 32º C. Durante o período noturno a temperatura cai bruscamente, atingindo até 25 graus negativos. Isto ocorre, como na maioria dos desertos, porque não há vegetação ou água em quantidade que poderiam conservar o calor do dia para o período noturno. Não ocorre muita variação climática entre os períodos do verão e inverno na região.

Em função destas características e das muitas dificuldades para viver ali, o Deserto do Atacama é uma região inóspita e muito pouco habitada. Em compensação, por causa de sua singularidade, atrai muitos turistas do mundo todo e é rica em recursos minerais como, por exemplo, ferro e cobre. O Chile é um dos maiores produtores de cobre do mundo graças à exploração de minas desse metal no Deserto do Atacama.

San Pedro de Atacama

San Pedro de Atacama é uma cidade da província de El Loa, localizada na Região de Antofagasta, Chile. Possui uma área de 23.438,8 km² e uma população de 1.938 habitantes (2002). Localiza-se a 2.400 metros de altitude. Por ser um lugar ímpar numa região inóspita como o Atacama, é denominada de oásis de San Pedro de Atacama.

Originalmente um centro de parada para os colonizadores espanhóis, originou-se a partir da construção da Igreja de San Pedro, que ocorreu por volta da metade do século XVI . Foi o principal centro da cultura atacamenha e atualmente é o grande centro turístico do Deserto do Atacama.

Por ser uma cidade pequena, em pouco tempo é fácil e rápido conhecer a cidade inteira. A rotina da maioria dos visitantes, que se hospedam em suas pousadas simples ou em grandes hotéis, consiste em passar o dia explorando as redondezas e, no fim da tarde e à noite, relaxar, caminhar pelas ruas poeirentas, se distrair nas lojas de artesanato e experimentar as muitas opções de pratos em uma boa variedade de restaurantes disponíveis.

No inverno a temperatura em San Pedro varia entre 22 °C durante o dia e 4 °C à noite. No verão a temperatura gira entre 27 °C durante o dia e 16 °C à noite. O céu se mantém limpo e azul durante quase todo o ano.

Os principais pontos turísticos do aglomerado urbano podem ser visitados a pé:

Igreja de San Pedro de Atacama – construída em meados do século XVI com adobe, madeira de cacto e couro de lhama, é uma bonita construção deixada pelos jesuítas espanhóis.

Museu arqueológico Gustavo Le Paige – rico em cerâmica atacamenha, relíquias das antigas culturas locais, múmias, tecidos e objetos religiosos.

Pukará de Quitor – A 3 km de San Pedro se encontra sobre o cerro de Quitor. Este pukará (forte) foi construído pelo povo atacamenho para defender-se de outros povos que habitavam a América do Sul. Ideal guardar duas horas para essa visita.

Museu do Meteorito – uma pequena coleção particular de rochas espaciais exposta numa tenda em forma de iglu, cuidado pelo próprio dono, Rodrigo Martínez, que percorre o deserto atrás desses objetos e recebe os turistas na entrada. Os visitantes podem tocar os diferentes tipos de meteoritos e, se quiserem, também podem comprar pequenos fragmentos como lembrança.

Centro Artesanal de San Pedro do Atacama – composto por várias lojinhas, é também uma das atrações da cidade que merece ser visitada.

 

As principais atrações estão nos arredores da cidade. Alguns podem ser visitados de bicicleta ou cavalo, que podem ser alugados na cidade. Minha sugestão é contratar um pacote com uma agência de turismo de San Pedro e ir de carro, deixando a moto descansando no hotel. Normalmente os pacotes incluem o transporte, lanche, guia e as entradas para as atrações que são pagas (a maioria). Pode ser contratado com antecedência, pela internet, ou no local, até de um dia para o outro.

Os valores dos passeios estão expressos em Pesos Chilenos e para converter é fácil: tire três zeros, multiplique por 4. O resultado não é exatamente o valor do câmbio em Reais mas dá para ter uma ideia do custo das coisas.

Valle de la Luna

Localizado na cordilheira do sal e rodeado por morros com formações exóticas que lembram o solo lunar. Destacam-se as “Três Marias”, o anfiteatro e as cavernas. Há uma grande quantidade de Cristais de sal. O melhor período para visita é no horário da manhã cedo ou no final da tarde, devido ao intenso calor do dia que pode chegar facilmente aos 54°C. Melhor visualizado de uma duna existente no local, para a qual é necessário pagar para subir.

Duração do passeio: de 2 a 3 horas
Distância: 17 km
Passeio por agência: $8000
Entrada: $2.000

Valle de la Muerte

Dá para ir a pé ou de bicicleta, dependendo da disposição do viajante. A entrada para o vale ocorre por um cânion, que descortina um terreno árido, com rochas vermelho alaranjadas e irregulares com grandes dunas de areia dourada que tomam conta da sua borda. Uma grande pedida para quem gosta de fotografar.

Duração do passeio: 2 horas
Distância: 3 km

Gêiseres del Tatio

A 4.300 metros de altitude aos pés do vulcão Tatio, esse campo geotérmico é uma das principais atrações da região. Todos os dias, ao amanhecer, afloram violentos jatos de vapor que sobem de poços de água fervente. O conjunto formado pelo colorido do solo, o céu limpo e as colunas de até 6 metros de vapor são de rara beleza. As excursões geralmente saem ainda de madrugada, para que o nascer do sol possa ser acompanhado do local. Na volta, há a possibilidade de se banhar em águas a 30° graus, nas Termas de Puritama.

Recomenda-se levar roupa para frio intenso, roupa de banho, toalha, protetor solar e água mineral.

Duração do passeio: 8 horas
Distância: 89 km
Passeio por agência: de $18.000 a $12.000
Entrada: $3.500 para chilenos e $5.000 para estrangeiros

Lagunas Altiplânicas

Miscanti e Miñique estão localizadas a mais de 4.000 metros acima do nível do mar e apresentam como principais destaques o seu entorno e o colorido da água. A viagem a partir de San Pedro passa por Toconao e contorna o Salar de Atacama.

Duração: de 5 a 6 horas
Distância: 90 km
Passeio por agência: de $30.000 a $35.000

Toconao e Salar de Atacama

Ao sul de San Pedro fica o impressionante Salar de Atacama. O passeio até ele já é uma atração à parte com a vista de vários vulcões, dentre eles o Licancabur e o Lascar, uma visita ao povoado de Toconao e à Laguna de Chaxa que é habitada por flamingos.

Duração: de 3 a 4 horas
Distância : 38 km até Toconao
Passeio por agência: de $15.000 a $10.000
Entrada: $2.000

Termas de Puritama

Poços de águas termais (30 °C) que se produzem a partir do Rio Puritama com suas águas quentes. Estão localizados em um cânion montanhoso e de grande beleza natural. Atualmente as termas são administradas pelo Hotel Explora, mas a entrada é aberta ao público.

Duração: de 4 a 5 horas
Distância: 28 km
Passeio por agência: $15.000
Entrada: $10.000

Ruinas de Tulor

É um antigo povoado atacamenho com mais de 3.000 anos de existência que se encontrava sepultado pela areia. Um projeto arqueológico permitiu recuperar uma parte das construções que agora podem ser vistas pelos visitantes.

Duração: de 1 a 2 horas
Distância: 10 km
Passeio por agência: $8.000 (tour arqueológico)

Hospedagem em San Pedro de Atacama

Na primeira vez que fui a San Pedro de Atacama, as opções de hospedagem eram bastante limitadas e, por consequência, os preços eram salgados como o Salar de Atacama. Desde então foram abertos muitos hotéis e hostels na cidade, que agora podem ser contados em mais de uma centena de estabelecimentos e a concorrência ajudou a baixar os preços. Existem opções de hospedagem para todos os gostos e bolsos, desde os baratos hostels com diárias na faixa de USD$ 35 até hotéis e spa por mais de USD$ 1000 a diária.

Desde aquela primeira viagem, aprendi a selecionar com antecedência as opções disponíveis nos meus destinos e passei a utilizar um site bem legal que descobri na internet, o Trivago.com.br, que faz uma busca de preços e opções de hotéis em vários sites de reserva e apresenta as opções disponíveis para que o viajante possa comparar e escolher o que melhor atende. Não tem segredo, visite o site e faça algumas pesquisas.

Na última vez que estive em San Pedro fiquei hospedado em um hotel muito bom chamado Hotel y Cabañas La Cochera. Não sei quanto estão cobrando hoje, mas foi o melhor hotel daquela viagem. Para quem gosta de Hostels e não se importa em compartilhar dormitório, uma opção é o Hostelling International San Pedro. O mais barato que encontrei na cidade foi o La Kasa del Rio.

Alimentação em San Pedro de Atacama

Se você contratar os serviços de uma agência para fazer os passeios pela região, muitas delas incluem o café da manhã ou o almoço nos custos. Mas é sempre interessante experimentar um pouco da culinária de San Pedro, principalmente se estiver na cidade entre os passeios.

Assim como os hotéis, existe uma boa variedade de restaurantes na cidade que vão atender às exigências da maioria dos viajantes, até os vegetarianos. Mas da última vez que estive lá achei os preços em alguns dos restaurantes um pouco elevados, acho que porque a concorrência ainda não chegou a esse setor. Mas existem opções em conta, basta procurar. Normalmente eles mantém um cardápio na porta com os pratos e os preços, permitindo escolher sem muita dificuldade. Não fique inibido com alguns garçons que ficam na porta chamando os clientes. Tire um tempo para caminhar pelas ruas, pesquisar e experimentar as diversas opções disponíveis.

Os principais restaurantes se encontram na Los Caracoles, mas existem alguns muito interessantes nas ruas transversais e paralelas. A maioria dos restaurantes oferece pratos muito bem feitos e gostosos que não são estranhos para o paladar brasileiro. A maioria dos cardápios oferece opções de saladas, salmão, massas e carnes de frango, novilho, porco, lhama ou alpaca. Vale a pena experimentar esses últimos.

O prato mais popular no Chile é o lomo a lo pobre, que vem a ser para nós um contra filé acompanhado de batata frita e ovo. Alguns restaurantes incluem alguns outros ingredientes, como arroz, cebola, tomate e alface no prato. Você pode encontrar esse prato em alguns restaurantes de San Pedro na faixa de 3.000 a 3.500 pesos e ele serve muito bem uma pessoa.

Uma alternativa barata e rápida de lanche são as empanadas, maiores que as argentinas e por isso, dependendo da fome, podem valer uma refeição.

Antes de trazer o prato principal, o garçom serve uma entrada, normalmente alguns pãezinhos acompanhados de algum molho, geralmente à base de tomate e coentro. Alguns pratos incluem também a sobremesa.

Para quem gosta de cerveja artesanal, o Chile tem muitas fábricas dessa bebida e quase todos os restaurantes têm no cardápio algumas opções muito boas.

Praticamente todos os restaurantes adotam decoração que torna o ambiente bem rústico, combinando com o clima do deserto: cor de terra batida, muita madeira, iluminação natural durante o dia e o mínimo de energia elétrica à noite.

Como chegar a San Pedro de Atacama

Como comentei no início desse artigo, estive em San Pedro duas vezes: a primeira eu vim do sul e cheguei pela famosa Rodovia PanAmericana, que no Chile é a Ruta Nacional 5. Não tem como errar, basta seguir o mapa abaixo e as placas que indicam Calama e San Pedro de Atacama.

A estrada é muito boa, asfaltada e muito bem sinalizada. Eventualmente pode-se encontrar algum trecho em obra que obrigue passar por desvios de rípio ou cascalho, mas nada para assustar.

É na ruta 5 próximo à cidade de Antofagasta que fica a famosa Mano del Desierto, uma escultura que virou símbolo do Deserto do Atacama e muito procurada pelos viajantes para ser fotografada. Para quem vem pelo norte da Argentina, não pretende seguir para o sul do Chile e faz questão de tirar uma foto junto a essa escultura, é interessante separar dois dias para ir até o local, que fica a cerca de 360 km de San Pedro, pernoitar em Antofagasta e retornar para San Pedro no dia seguinte. Pode-se fazer em um dia apenas, mas seria bastante corrido. Veja no mapa a localização exata da escultura. Deve-se retornar passando por Calama e a escultura fica após Antofagasta, à direita da estrada.

A segunda vez que estive em San Pedro eu vim do norte. Também pela Ruta 5, desviei para Calama e San Pedro seguindo as placas.

Uma observação importante para quem percorre esse caminho é que não existem postos de combustível ao longo da estrada. Eles ficam nas cidades, que são poucas e é necessário sair da estrada e entrar na cidade, então é importante planejar bem os abastecimentos, principalmente se a autonomia da moto for baixa.

A estrada percorre alguns trechos de altitude no meio de grandes dunas com breves passagens pelo litoral.

O mapa abaixo mostra uma sugestão de roteiro para chegar a San Pedro a partir do Peru vindo do Acre. Existe a opção de passar pela Ruta 1 a partir de Iquique. A viagem fica um pouco mais demorada, mas o visual da estrada acompanhando o Oceano Pacífico é deslumbrante.

No caso da Bolívia, a única estrada asfaltada até o Chile é pela Ruta 4 a partir de Patacamaya na Bolívia, pegando em seguida a Ruta 11 no Chile até chegar a Arica, quase na divisa com o Peru. Mas tem um trecho de aproximadamente 60 km que não é asfaltado e fica numa altitude superior a 4.000 msnm. As demais estradas são muito ruins e não recomendo utilizá-las.

Das duas vezes que visitei San Pedro retornei pelo Paso Jama. Vou descrever esse trecho como se estivesse vindo do Brasil e passando por Jama para chegar a San Pedro de Atacama. É a rota mais utilizada e a mais indicada para os motociclistas brasileiros.

Se você pernoitar em Salta, recomendo sair bem cedo para não pegar o trecho de maior altitude da estrada, aproximadamente 4.850 msnm, depois das 16 horas, quando o frio chega a ficar insuportável, mesmo no verão. No inverno ele costuma ser fechado por causa do gelo e da neve, então é importante se preparar para a eventualidade de ter que ficar esperando alguns dias para a passagem ser aberta caso esteja viajando entre junho e agosto.

O visual dessa estrada é um dos mais maravilhosos que já passei em minhas viagens. É uma incrível explosão de cores que deixa todos impressionados.

A partir de Salta você vai encontrar postos de combustível em San Salvador de Jujuy, distante 115 km, depois em Susques, 201 km, no Paso Jama, 155 km e finalmente em San Pedro, 160 km. Portanto, se sua moto tem autonomia reduzida, não deixe de abastecer nesses três locais intermediários. São ao todo 629 km. Considerando a distância, as muitas curvas com velocidade reduzida, as paisagens deslumbrantes que obrigam paradas constantes e a passagem pelas aduanas, é interessante, para fazer uma viagem mais tranquila, pernoitar em alguma cidade no caminho para reduzir a distância a ser percorrida. Existem bons hotéis em Jujuy, Tilcara e Purmamarca, esta última uma bela cidade aos pés do Sierro del Siete Colores.

Se você estiver utilizando o Google Maps para traçar sua rota, ele tem um erro muito grosseiro e considera que o Paso Jama não é transitável e faz uma volta enorme pelo Paso Socompa que é de terra e muito ruim. Recomendo não seguir o Google Maps nesse trecho, a não ser que você queira muita aventura. O correto é seguir pela Ruta Nacional 52 na Argentina, que quando você atravessa a fronteira passa a ser chamada de Ruta 27 no Chile. Ambas as estradas são de asfalto, na maior parte muito bem conservada e sinalizada.

Tem um trecho muito bonito com uma infinidade de curvas a 180º chamado Cuesta del Lipán que costuma ter muito cascalho espalhado no asfalto. Se estiver descendo, utilize ao máximo o freio motor, pois vai judiar dos freios e você pode perdê-los por aquecimento. É um trecho que exige muita atenção para ser percorrido.

Uma outra Passagem na Região é o Paso Sico, com muitas paisagens deslumbrantes, mas que tem um nível de dificuldade elevado para quem não tem experiência off road. O melhor é pelo Paso Jama, que deve ser seguido de acordo com o mapa abaixo.

Aqui no ViagemdeMoto.com existe uma série de dicas escritas por motociclistas que compartilham suas experiências com outros motociclistas. Navegue na seção dicas que você encontrará alguma informação que será muito útil para o planejamento da sua próxima viagem. Se tiver alguma dúvida ou sugestão, poste um comentário que terei o maior prazer em responder.


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