5º dia – Killar – Gulabgarh

Os primeiros quilômetros já mostravam que seria outro dia muito difícil. Estrada de terra, com cascalho formado por pedras grandes e pontiagudas, parecidas com retalhos de ardósia. Havíamos percorrido poucos quilômetros quando chegamos a um trecho interrompido. Um trator trabalhava na lama para liberar a estrada. Uma grande cachoeira descia a montanha na proximidade e uma ponte permitia passar por ela. Em muitos outros trechos, tivemos que atravessar dentro da água.

O trabalho do tratorista foi rápido, mas a passagem pelo local foi difícil, uma vez que a estrada estava coberta por lama.

Mais à frente uma barreira do exército. Tivemos que desligar as câmeras, preencher uma extensa documentação com nossos dados e informar de onde vínhamos e para onde íamos. Os soldados eram amistosos, mas rigorosos no seu trabalho. Revistaram toda a bagagem com detalhes. Curiosos, perguntavam sobre nossa viagem e sobre o Brasil.

Logo depois, uma subida íngreme, a mais complicada até então. Pedras grandes e soltas, faziam com que a moto pulasse como um cabrito subindo o morro. Senti o pneu traseiro deslizar de modo estranho. O que eu mais temia aconteceu, o pneu estava furado. Tentei seguir em frente para chegar a um local plano, mas não consegui. A moto deslizava sobre as pedras roliças. Um descuido e a moto tombou de lado, deslizando alguns metros morro abaixo. Levantei-a. Não dava para virar. Tentei retornar de ré e o pneu dianteiro deslizava. Quase caí novamente. O Rafael me ajudou a endireitar a moto e consegui retornar ao pé do morro, onde encontramos dois motociclistas indianos com os quais havíamos encontrado na barreira do exército. Eles nos ajudaram a trocar a câmara de ar, que estava furada. Era a primeira vez que eu tirava o pneu de uma moto. Ele estava muito desgastado, em um estado que já teria trocado há muito na minha moto no Brasil.

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Depois de quase três horas, seguimos em frente. A subida era difícil, demorada, perigosa. Finalmente chegamos a um trecho que a estrada corria quase plana na encosta da montanha. Os abismos se sucediam. Passamos pelo trecho que havia nos incentivado a percorrer aquela que era considerada a estrada mais perigosa do mundo. Vimos, ainda no Brasil e durante o planejamento da viagem, o vídeo de um motociclista que a percorria. Conquistamos o maior objetivo da nossa viagem. O Rafael se emocionou ao falar da viagem. Mais contido, a minha sensação era de conquista, mais um feito, mais uma história para guardar e contar.

Seguimos viagem. Por volta das 17 horas ainda faltavam mais de 80 km para chegar à cidade que havíamos definido como lugar de pernoite no 2º dia de viagem, Kishtwar. Resolvemos parar em uma cidade muçulmana chamada Gulabgarh. Procuramos um hotel e era muito ruim, como o da noite anterior. Roupa de cama suja, o banheiro ficava no terraço do que parecia uma construção. Toillet indiano e inglês. O inglês, parecido com o que usamos no Brasil, com vaso sanitário, estava com defeito. Tivemos que usar o outro, com uma fossa. Banho somente frio e com uma caneca. Mais uma noite sem tomar banho. Nesse dia não conseguimos percorrer 60 km durante mais de 10 horas na estrada.

A noite sem nuvens permitiu registrar fotos do céu do Himalaia e uma quantidade incrível de estrelas.

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