6º dia – Gulabgarh – Achabal

Assim que acordei subi ao “terraço” para lavar o rosto e escovar os dentes. Aproveitei para tirar umas fotos dos telhados da pequena cidade de Gulabgarh e de um Gompa, como são conhecidos na Índia os monastérios budistas. Achava que a cidade, que está numa região predominantemente muçulmana, também tinha a maioria de seus habitantes seguindo essa religião, mas a presença do imponente gompa e as roupas dos moradores indicavam o contrário.

Seguimos para a estrada e continuamos nossa viagem, ainda com o objetivo de chegar a Srinagar. Por alguns quilômetros a estrada continuou de cascalho, mas em boas condições, permitindo desenvolver uma velocidade razoável. O destaque foi um trecho onde a estrada passava por uma abertura em um paredão de rocha vertical com um teto praticamente horizontal e o rio passando dezenas de metros abaixo. Como um túnel com uma lateral apenas. Conseguimos registrar algumas fotos fantásticas do lugar.

A estrada agora tinha trechos bons, onde conseguíamos desenvolver velocidade próxima a 40 km/h, intercalados com trechos muito complicados, com pedras espalhadas pelo piso, e marcas de deslizamentos recentes, que tornavam a viagem desconfortável, perigosa e lenta.

Por volta do meio dia chegamos à cidade de Kishtwar, com quatro dias de atraso em relação ao nosso cronograma. Pedimos informações a um policial, que nos guiou com sua pequena moto até uma loja onde compramos, depois de muito esperar, uma câmara de ar nova para substituir a que havíamos usado. Depois paramos em um restaurante para fazer um lanche e resolvemos pedir duas pizzas. Depois de uma longa espera, vieram nos falar que estavam com problema com o forno e que demoraria mais 10 minutos para ficarem prontas. Passaram 15 minutos e voltaram a prometer as pizzas para dali a 10. Perdemos quase duas horas com essa brincadeira. A chateção foi atenuada pelo ar condicionado do lugar, uma vez que fazia um calor terrível do lado de fora, e pelo bom papo com um rapaz que parecia ser o dono do restaurante.

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Sabíamos que haviam duas estradas para chegar a Srinagar, uma mais longa que a outra. Pedimos informações ao rapaz do restaurante sobre a melhor estrada para Srinagar e ele disse que nos guiaria até ela. Nós seguimos o cara até a estrada. O Rafael ficou desconfiado que ele não estava indicando a melhor estrada. Paramos para perguntar mais de uma vez e nos indicaram que era aquela mesma. Seguimos em frente, por uma estrada de cascalho com muitas curvas e lindas paisagens.

Há três dias devemos ter passado por uns cinco bloqueios do exército. Sempre fomos muito bem acolhidos, mas o processo era moroso. Na maioria dessas paradas, assim que chegávamos, os soldados nos ofereciam água, que recusávamos mostrando que levávamos nossas garrafas de água mineral. Mas em um desses bloqueios os militares foram ainda mais acolhedores e nos ofereceram refrigerante 7Up gelado, que bebemos com muito bom gosto. Neste um deles até aceitou posar para uma foto conosco, desde que não aparecessem na foto as instalações militares.

Depois de muito tempo e apenas alguns quilômetros percorridos, chegamos ao pé de uma montanha. A estrada de cascalho subia em zigue zague, alguns trechos eram muito ruins e a viagem continuava não rendendo. Chegamos ao topo do Sinthan Pass e com ele muito frio e uma visão magnífica das montanhas do Himalaia.

Viagem de moto pelo Himalaia

Depois das fotos, já com o sol se pondo, começamos a descer a montanha por uma excelente estrada asfaltada, muitas curvas de baixa velocidade, cortando floresta de pinheiros e passando por vários pastores que recolhiam suas ovelhas dos pastos.

A noite veio rápida e, quando faltavam cerca de 80 km para Srinagar, agora seguindo por uma estrada asfaltada, mas com trânsito ainda muito lento, o Rafael sugeriu que parássemos em algum lugar para pernoitar, porque estava achando perigoso prosseguir por causa do trânsito intenso, muitos animais na pista e faróis altos no sentido contrário.

Paramos em uma pequena e movimentada cidade, onde perguntamos por hotéis. Nos indicaram seguir para um lugar, onde encontramos um prédio público que funcionava como casa de apoio ao turismo. Os dois moradores do lugar nos receberam na escuridão. Não havia luz no local. A pequena lanterna que levava ajudou nessa hora. Acertamos o valor da hospedagem e de um jantar, descarregamos as motos e fomos tomar banho com caneca, mas dessa vez com água quente. Detalhe que a toalha emprestada ao Rafael era a usada pelos anfitriões. Eu enxuguei com uma das minhas camisas.

Jantamos à luz de velas com o Saddam Hussein e Osama Bin Laden, como o Rafael passou a chamar a dupla de simpáticos anfitriões. Disse que era semelhança física, mas eu acho que passou a chamá-los assim quando ficou sabendo que eram muçulmanos. Eles comiam com as mãos como é costume na Índia, hábitos muito estranhos para nós. Nos emprestaram pequenas colheres para comermos o arroz com o molho de vegetais picantes.

Conseguimos percorrer nesse dia 215 km em cerca de 12 horas.

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