Dia 15 – Viña del Mar – Mendoza

O relógio tocou “alvorada” às 6h30, para se preparar e descer para o salão de café matinal às 7h, a hora de início do serviço, aliás, farto e diversificado. Entretanto, não havia os saborosos frutos do mar chilenos.

O GPS foi programado para Mendoza, com as cidades de La Calera, Pequehue, San Felipe, Los Andes, e Rio Branco como way-points, que são conectadas por rodovias que mesclam mão simples, dupla e autopista.

Em Rio Branco, 170 quilômetros depois, ocorreria o reabastecimento no posto Copec local, o último em território do Chile e oportunidade para utilizar os pesos chilenos excedentes, antes de enfrentar a subida dos Los Caracoles.

Em San Pedro de Atacama e Valparaiso foram realizadas transações de câmbio. Em ambas, foi mais vantajoso utilizar o peso argentino, e não dólar estadunidense, na troca por pesos chilenos.

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A saída de Viña del Mar, sentido interior, não ofereceu nenhum atrativo. Ainda que relativamente cedo, o transito estava congestionado, especialmente nos cerca de 110 quilômetros iniciais até San Felipe, pois há muitas cidades menores no caminho. Em San Felipe, há produção de vinhos e leite e vinhais e criações de gado Holandês se alternavam ao longo do caminho.

O GPS não reconheceu as obras em curso na rodovia e os muitos acessos ao novo anel viário denominado Autopista Los Libertadores e orientou o sentido Sul, e não Leste. Logo, o sol e as montanhas nevadas que se viam à frente passaram a ser visualizados pelo retrovisor. Se o GPS falhou, a orientação espacial identificou haver algo errado, mas o mapa em papel era antigo e não continha essa nova estrada. Entrou em funcionamento o terceiro recurso de navegação: o PPS (Pergunte Para Saber).

Essa Autopista Los Libertadores (R57) favorece o transito principalmente oriundo do sul chileno rumo à Argentina, a Leste. O sentido que havia sido tomado levaria a Santiago, que foi excluída do roteiro em razão de já haver sido visitada e do recebimento de informação via WhatsApp de que uma viagem, a serviço, seria realizada a essa cidade, ainda em 2018. Ótimo, pois sobrará mais tempo em Mendoza.

A necessidade do uso do PPS também permitiu saborear a chileníssima bebida doce e fria mote con huesillo, a base de trigo andino germinado e pêssego desidratado.

Viagem de moto Bolivia Chile Argentina

Retomada a rota correta, San Felipe ficou para trás e, logo, outra vez o sol e os cumes nevados estavam à frente e a cidade de Los Andes surgiu no horizonte.

A R60 nesse trecho é agradável, com curvas múltiplas e área de parques preservados, ladeada por rios e montanhas nevadas. Há alguns povoados dispersos, mas já se constata o “inchaço” de alguns núcleos habitacionais, desordenadamente.

O Chile tem carência de energia elétrica. Em vários lugares do roteiro foram visualizados parques eólicos e fotovoltaicos e pequenas usinas movidas a gás, importado sobretudo da Argentina. A Bolívia tem maiores reservas de gás natural e o exporta para o Brasil, por exemplo. Fisicamente, seria mais viável economicamente trazer gás boliviano para o Chile, mas a diferença histórica que mantem em relação ao acesso ao mar compromete a relação internacional de ambos os países. Nesse trecho da R60, observa-se canos que conectam cumes montanhosos a micro usinas hidroelétricas instaladas ao longo da rodovia.

Cruzada a Reserva Natural Rio Branco, logo após a cidade Los Azules, chega-se ao posto Copec de Rio Branco. Haviam sido percorridos 190 quilômetros desde Viña del Mar, inclusive aqueles off map. O próximo local de abastecimento seria apenas em Uspallata, na Argentina, distante cerca de 120 quilômetros, ou em Mendoza, a 210 quilômetros, o local de pernoite e descanso por quase 48 horas. Não seria necessário abastecer nesse ponto intermediário.

Antes, teria que ser percorrido um dos must do and see da viagem: Los Caracoles e suas 30 curvas em zigzag, no caso deste trajeto, ascendentes.

Viagem de moto Bolivia Chile ArgentinaVisão aérea do Los Caracoles: sentido Chile-Argentina

Viagem de moto Bolivia Chile ArgentinaLos Caracoles: sentido Chile-Argentina

Era a terceira experiência nesse trecho. As encostas são abismais. As primeiras 20 curvas, em 4 quilômetros, ascendem de 2.275 a 2.550 msnm. Depois, por 2 quilômetros, sobe suavemente até 2.650 msnm. As 10 curvas restantes, em 2.5 quilômetros, conduzem aos 2.800 msnm. Faltarão 5 quilômetros até o posto de fronteira chileno-argentino, Los Libertadores, e 7 quilômetros para o ponto mais alto do trajeto, na Argentina: 3.840 msnm, local de instalação da estátua Cristo Redentor. Há um posto adicional de controle da Gendarmeria Nacional de Argentina, em Las Cuevas (um dos papéis recebidos na fronteira, do veículo, deve ser entregue nesse local, ao agente de serviço). Até este ponto, a estrada desce cerca de mil metros, em 9 quilômetros de extensão. Pouco antes de chegar a Puente del Inca, avista-se, à esquerda o Aconcágua, com 6.700 metros de altura. Há um local para parar, caminhar e fazer fotografias, caso o céu esteja limpo.

Percorrer Los Caracoles requer atenção extrema. São duas mãos, o fluxo de veículos é grande (é a principal rota terrestre entre a Argentina e o Chile) e há carretas circulando em ambos os sentidos. Estas, podem não ver ou não se importar se invadem a faixa contraria no momento de fazer curvas que, de tão fechadas, até permitem que o motorista verifique pessoalmente se a iluminação da carreta está funcionando bem. Na ocasião, o clima estava excelente, com visibilidade e sem vento. Foi possível percorrer o trajeto com capacete e jaqueta abertos.

No posto de controle de fronteira, outra vez um problema: a numeração do novo visto da Argentina não era reconhecida no sistema de Imigração. Quase 2 horas parado a espera de solução que, embora com extrema boa vontade, o funcionário argentino não conseguia resolver. Finalmente, conseguiu. Bienvenido a la Republica Argentina.

Viagem de moto Bolivia Chile ArgentinaFronteira Argentina – Chile

3 º Paso: Los Libertadores

Atualmente, um pedaço de papel com a inscrição de certo número de orden del visa está junto com o passaporte. Foi relatado que militares brasileiros com igual tipo de passaporte (Diplomático) também haviam enfrentado situação similar, alguns dias antes.

No posto de fronteira, outra vez foi mantido contato com o Fabian, um motociclista da Colômbia que fazia viagem solitária desde Bogotá, já tendo cruzado Equador, Peru e Chile. Da Argentina, iria para o Uruguai e Brasil, onde permaneceria alguns meses para estudar português, em algum lugar do Nordeste. A primeira vez que havia encontrado ele foi no alto dos Los Caracoles, sacando fotos, com um poncho com as cores colombianas sobre a roupa de motociclista. Uma figura.

Clima e estrada ótimos. Motocicleta com o tanque em ¾ e com bom desempenho, muitas horas de luz natural, percurso curto até a cidade de Mendoza, paisagem estonteantemente bela, mas o estômago reclamava. A última refeição havia sido o mote con huersillo, horas atrás, lá no Chile. Puente del Inca oferecia alguma comida de paso, isto é, rápida e de rua.

Também era o momento adequado para comemorar a vitória sobre os pasos La Quiaca, Jama e Los Libertadores, que motivaram a viagem e que ensejou a conquista do brevê Condor de los Andes e o patch que lhe corresponde (um dos quais o Vento Levou, em algum lugar da estrada), cuja imposição simboliza que o motociclista cruzou os Andes, minimamente por três pasos.

De Puente del Inca até a cidade de Mendoza seriam mais 200 quilômetros, de sobe e desce, curvas e muitas paisagens espetaculares. Esse trajeto já havia sido feito quatro vezes anteriormente. Muitas fotos, com menos paradas. A opção foi fazer um trajeto diferente, a partir do dique Potrerillos, que acumula aguas do rio Mendoza e de outros e do degelo andino para abastecer cidades e plantações nos vales abaixo. Aliás, mesmo no deserto, a cidade de Mendoza é uma das mais arborizadas da Argentina, graças ao sistema de distribuição de água por gravidade instalado ao lado das ruas e avenidas. Outros sistemas abastecem plantações e indústrias.

Viagem de moto Bolivia Chile ArgentinaDistintivo Condor de los Andes

Dessa forma, o caminho escolhido foi o da Ruta Provincial 82, por Cacheuta e Lujan de Cuyo, até o conhecido hotel localizado na Plaza Independencia, no centro de Mendoza, que já havia sido utilizado três vezes anteriormente. Tornou-se conveniente e o check-in ocorreu às 19h, já escuro.

Preparação para o jantar, nada diferente, pois o especial estava reservado para o dia seguinte, com visitas e almoço em bodegas, sem motocicleta, para aproveitar as muitas degustações do saborosíssimo vinho da uva Malbec, mendozino.

Buenas noches.


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