A história das motos no Brasil

Meu querido diário… de motocicleta

Uma inspiração instantânea provocada pela leitura de um excelente artigo publicado aqui mesmo no Viagem de Moto acabou me levando ao sótão dos meus pensamentos, de onde busquei avidamente um velho álbum do meu pai, nos seus bons tempos de motociclista. O artigo do inglês Paul Gander, que mexeu com o imaginário de milhões de jovens, também lançou uma centelha avivadora em outros que tiveram como eu a oportunidade de testemunhar, mesmo ainda moleque, uma época de ouro para os amantes do motociclismo. Uma época em que algumas dezenas de marcas internacionais, das mais variadas procedências, circulavam no país livres de taxas de importação, animadas pelo desenvolvimento industrial, desde o pós-guerra de 1945.

Meus pais, onde tudo começou, literalmente

A moto aliada à necessidade popular de um meio de transporte econômico e resistente às insipientes estradas daquela época parecia ser a solução para uma nova era que despontava na busca de liberdade e aventura, impraticáveis durante o longo período da guerra.

Meu pai à esquerda e amigos em Jundiaí, SP
Passeio com amigos em Indaiatuba, SP nos anos 1950

As pequenas viagens do meu pai e seus amigos, pelo que lembro e também pelas fotos que pude rever, não passavam da nossa região, geralmente incluíam Itapetininga, Angatuba (sua terra natal), Jundiaí, Campinas, Itapeva e outras poucas localidades.

Desfile cívico em Sorocaba, SP
DKW 250cc 2 T. Detalhe do avanço manual do lado direito do tanque
Jawa 350cc ano 1956
Minha mãe e meu irmão, hoje professor de mecânica de motos
Minha mãe treinando numa Indian
Última foto do meu pai com a Jawa 1960 estilizada, com meu filho no colo e ao lado meu irmão Gerson

Embora os passeios que fiz com meu pai fossem poucos e nunca ultrapassarem os limites de Sorocaba, (ele era reticente à ideia de levar uma criança na garupa) por outro lado meu tio Benito tinha prazer em me levar em sua Csepel quase todos os domingos e sempre escondido do meu pai… Era uma moto de procedência húngara fabricada em 1947, portanto ainda de “rabo-duro”, o que poderia de certa forma explicar minha “resistência gluteal” para as longas viagens. A poderosa do tio Benito tinha uns 10 anos de uso e mesmo funcionando parada, aquela monocilíndrica de 250cc tinha uma batidona gostosa que ecoava no peito, em compasso com meu coração acelerado pelas primeiras emoções motociclísticas. Daí nem precisa ser nenhum Freud para explicar minha paixão pelas motos.

Nota: para situá-lo no tempo e espaço, meu pai faleceu em 1987 e minha mãe em abril deste ano, aos 84 anos.


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