22º dia – de Chururú a Caracas

Depois de arrumar a bagagem na moto e vestir a roupa, fui ao restaurante procurar alguma coisa para comer, mas estava fechado. O lanche não estava incluído no valor da hospedagem, mas tinha expectativa de me alimentar antes de ir para a estrada.

Sem outra opção por perto, iniciei a viagem com fome, debaixo de um céu nublado e com cara de chuva.

Os postos estavam fechados, mas as filas para comprar combustível eram grandes. Neste dia eu vi inclusive uma grande fila de motos paradas em frente a um posto. Em outro mais à frente os motociclistas estavam parados na estrada, na expectativa de chegar combustível e poderem encher o tanque.

Por um bom tempo, um motociclista pilotando uma pequena moto custom com placa venezuelana e carregando bagagem para viagem seguiu na mesma direção que eu. Cumprimentamos um ao outro, mas não paramos para conversar.

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Precisava de gasolina para chegar a Caracas, o destino do dia. Parei em uma barraca ao lado da estrada onde havia uma garrafa cheia de gasolina no chão. Perguntei se vendiam e um senhor confirmou. Perguntei quanto e ele respondeu 50 soberanos. Achei caro, pouco mais de R$ 3 o litro. Quando vendido nos postos custa alguns poucos centavos. Tentei pechinchar, mas o cara não quis conversa. Achei um desaforo e segui viagem. Mais à frente comprei 4 litros de uma senhora por 120 soberanos. Em outra vila comprei 9 litros por 200 soberanos de um rapaz, cerca de R$ 1,50 cada litro.

A estrada acompanhava a Cordilheira dos Andes, como tinha observado na ida. Não sou especialista, mas as estradas venezuelanas parecem bem construídas, feitas para durar, mas a falta de manutenção deixou marcas. Muitos buracos e irregularidades apareciam nas auto pistas que eu percorria. Entre Sevilha e Caracas a estrada seria excepcional se estivesse em boas condições.

Ao lado desta bela estrada existe uma obra monumental não concluída, não sei se para uma estrada de ferro ou metrô suspenso por imensas colunas. Uma grande extensão está pronta, mas outra parte está cheia de mato. Não sei se a parte pronta está sendo utilizada, não vi qualquer composição nela enquanto passei.

Acho que já comentei num outro dia a grande quantidade de veículos utilitários grandes como pick-ups e peruas 4 x 4 que encontrei na Venezuela, muitos deles novos. Hoje eu vi uma pick-up americana com quatro rodas na traseira.

Após passar por uma pequena vila, encontrei uma ponte bloqueada por motoristas que protestavam contra a falta de combustíveis na região. Passei pelos carros e caminhões parados e cheguei perto dos manifestantes, que gritavam palavras que não entendi, mas dava para perceber que eram contra o governo. Havia um espaço ao lado da pick-up que bloqueava a ponte e fui vagarosamente em sua direção. As pessoas foram saindo da frente e eu acabei passando pelo protesto com tranquilidade.

Passei por várias praças de pedágio, apenas uma cobrava valor dos usuários, mas mesmo nesta, moto não pagava.

Viagem de moto pela Venezuela 04

A chegada a Caracas é por uma estrada muito boa (com buracos, claro) que contorna montanhas. Uma bela paisagem. Neste trecho caiu uma chuva forte. Um bloqueio do exército parou o fluxo de veículos. Não entendi o motivo.

Na região metropolitana não falta gasolina. Parei em um posto, enchi o tanque e perguntei para o frentista quanto era e ele respondeu que podia pagar quanto quisesse. Como ele tinha sido muito educado, dei uma nota de 50 soberanos para ele, que demonstrou muita satisfação com a propina. Enchi o tanque novamente em Caracas. O frentista não foi mal educado, mas como não foi simpático, dei a ele apenas 4 soberanos (aproximadamente R$ 0,27 por 12 litros de gasolina). Ele ainda agradeceu…

Tinha pesquisado na internet um hotel para hospedar e encontrei um cinco estrelas de uma grande rede de hotéis, o Gran Meliá, em promoção por aproximadamente US$ 13. Hospedei nele para aproveitar o valor baixo. Uma decepção. Decadente, com atendimento péssimo, carpete sujo, ar condicionado que não funciona, faltando toalhas no quarto. Mesmo pedindo toalhas não entregaram. Enxuguei com o lençol da cama. Um retrato da situação do país, que vai muito mal.

Ainda tive problemas com meu cartão no restaurante do hotel. Tenho dois cartões de crédito, um de cada bandeira, e nenhum deles funcionou. A conta era altíssima, coisa de maluco, por conta da moeda local que a cada hora vale em dólar uma cotação diferente, de acordo com os interesses de quem faz a conversão. Como eu não tinha soberanos (a moeda venezuelana) suficientes para pagar a conta, tive que deixar uma calção de US$ 50 por um prato de saladas e um filé de peito de frango. Combinei que no dia seguinte procuraria uma casa de câmbio para trocar dólares por soberanos para pagar a conta.

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