21º dia – de Cúcuta a Chururú

No horário que tinham me falado na fronteira que o escritório da Dian, a Receita Federal deles, abriria eu estava lá, mas descobri que abria uma hora mais cedo. Conversei com um senhor, que escutou com atenção minha história, mas disse que teria que ir a outra repartição da instituição, me passando uma referência porque não sabia o endereço.

Segui para o lado que ele havia indicado Não foi difícil encontrar. Mas um quarteirão antes de chegar ao local eu vi um escritório onde vendiam o seguro para terceiros, SOAT, obrigatório para veículos estrangeiros que transitam pela Colômbia. Parei e contratei o seguro, que seria emitido em outro escritório e estaria disponível em uma hora. Enquanto isto, fui para a repartição que fica em um prédio grande próximo a uma avenida movimentada.

Uma senhora me atendeu, mas disse que eu precisaria conversar com sua gerente. A mulher veio, expliquei o que precisava, mostrei o documento que tinha, ela fez uma série de perguntas e no final disse que não poderia me ajudar, pois havia uma determinação do governo central proibindo a emissão da autorização para trânsito para veículos que vinham da Venezuela. Insisti, chorei, pedi por favor, ajoelhei, mas não teve jeito. Saí pensando em seguir viagem para o Equador sem a autorização.

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Passei no escritório do seguro, mas a mulher que me atendeu disse que precisava da autorização para que o seguro fosse emitido. Como não tinha, pedi a restituição do valor pago antecipado.

Saí com dúvidas se sem o seguro poderia transitar pelo país.

Quando estava próximo ao hotel onde estava hospedado passei por uma blitz da polícia e fui parado. Além dos documentos, o policial pediu o seguro. Mostrei o recibo do pagamento que a moça que me atendeu não recolheu quando devolveu o dinheiro. O policial mostrou que não estava correto, mas me liberou após um sermão.

Parei a moto em frente ao hotel e subi para pegar a bagagem. Mal tinha aberto a porta do quarto e o telefone tocou. A moça da recepção disse que dois policiais procuravam o dono da moto que estava parada em local irregular. Desci correndo e tive que gastar muita lábia para convencê-los de que estava tudo certo com a documentação da moto. Empurrei-a para o estacionamento, que ficava no quarteirão seguinte, voltei, peguei a bagagem e saí convencido de que teria que voltar para a Venezuela e desistir da passagem pela Colômbia.

Fui em direção à fronteira pensando em como fazer. Não iria me envolver novamente com os soldados corruptos da Guardia Nacional Bolivariana. Fui ao hotel onde fiquei na primeira noite do país e conversei com o recepcionista, que tinha me atendido muito bem. Ele chamou um senhor baixinho bigodudo que ficava na porta do hotel o tempo todo e perguntou se ele sabia como fazer a travessia. Respondeu que sabia e saiu a procura de alguém. Em poucos minutos ele voltou com um rapaz que disse que faria a travessia com facilidade e falou o valor, seis vezes mais barato do que eu tinha pago aos venezuelanos. Mas tinha que entregar a moto a ele.

Viagem de moto pela Venezuela

Chamei o baixinho e perguntei se ele conhecia o rapaz e ele era de confiança. Respondeu que podia ficar tranquilo. Tirei as malas e baú da moto e entreguei o dinheiro combinado e a chave da moto para o rapaz. Em uma hora ela estaria do outro lado, disse ele.

Fui com o baixinho para a fronteira, que continuava muito movimentada, passando na migração para sair da colômbia e entrar na Venezuela. A primeira foi fácil e rápida. A segunda estava com o sistema fora do ar por falta de energia na cidade de San Antônio del Táchira.

Enquanto isto, o tempo passava e o rapaz não aparecia com a moto. Fiquei preocupado e questionando o baixinho bigodudo se teria minha moto de volta.

Finalmente, depois de três horas, o rapaz apareceu. Disse que teve que esperar por causa da polícia.

Coloquei a bagagem na moto e deixei-a em um estacionamento próximo para ir à imigração. Foram duas horas esperando na fila, debaixo de um sol abrasador, até que a energia e o sistema fossem restabelecidos.

Viagem de moto pela Venezuela

Tudo legal novamente, iniciei a viagem de volta ao Brasil, mas a tarde já ia avançada. A estrada cheia de curvas tinha um trânsito lento. Atravessei San Antônio com dificuldade por causa dos muitos veículos nas ruas.

Na estrada, a viagem também não rendeu. Muitos buracos, trânsito lento e pesado, quebra molas e postos de controle da polícia.

Quando a noite caiu, passei em frente a um restaurante que anunciava pousada. Parei e fui olhar o quarto, mas era horrível. Segui em frente e na cidade de Chururú passei em frente a outro restaurante que também anunciava pousada. Parei para ver e era bem melhor, mais novo, apesar de alguns problemas, como um ar condicionado barulhento e o quarto não tinha janela.

Fiquei no lugar, onde também jantei um prato que eles chamam de parrilla, com um bife de boi assado na grelha, queijo, mandioca de uma espécie verde e morcela. Não estava ruim, mas já comi muitos pratos bem melhores.


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