15º dia – de Boa Vista a Salto Kama Meru

Saí de Boa Vista em direção à fronteira com a Venezuela cheio de dúvidas. Sabia que entrar não era problema, mas os relatos que li davam conta que os viajantes tiveram dificuldades com o abastecimento e para sair na fronteira com a Colômbia por causa de uma autorização que ninguém conseguia.

A estrada até a fronteira inicia em estado regular com alguns buracos que exigiam atenção. Depois piora. A quantidade de buracos aumenta e ainda tem um longo trecho em obras, onde retiraram o asfalto e ficou na terra.

Cheguei a Pacaraima e encontrei uma cidade movimentada por brasileiros e venezuelanos. Dei uma volta pela cidade para confirmar que não havia posto de gasolina. Depois segui para o complexo aduaneiro. Primeiro o brasileiro, perguntei para um agente da Polícia Federal se era necessário registrar minha saída do Brasil. Confirmou que sim. Sempre achei  estranho que em algumas fronteiras eles dispensam a saída e em outras não.

Depois de batido o carimbo no passaporte, passei fui até o posto de gasolina que existe entre as duas aduanas. Não havia combustível. Parei ao lado de um brasileiro que estava saíndo o posto e perguntei onde poderia abastecer. Ele me disse que estava indo até Santa Helena, na Venezuela, para abastecer comprando de um vendedor clandestino, se eu quisesse poderia acompanhá-lo. Respondi que precisava dar entrada no país e ele disse que eu poderia entrar, abastecer e voltar para cuidar dos trâmites. Segui com ele, que depois descobri ser pastor da Igreja Batista local chamado Gideão.

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Fomos a Santa Helena, Passamos por alguns lugares que não tinha até chegar em uma casa, onde uma moça retirava gasolina do tanque de uma moto. Disse que tinha 15 litros para vender. Gideão sugeriu que eu comprasse dela e ele iria procurar com outro vendedor. Na verdade ela tinha 12 litros, pelos quais cobrou R$ 30,00

Voltei para a fronteira e fiz o câmbio de reais por soberanos, a moeda venezuelana. Enchi uma sacola com as cédulas, que não tem valor.

Depois fui para a imigração. Em poucos minutos estava com o passaporte carimbado. Agora faltava a moto. A aduana estava fechada, então tive que esperar com um grupo de venezuelanos que tinham que regularizar compras que fizeram no Brasil.

Quando deu a hora marcada, um agente abriu a porta, olhou para mim e perguntou: – “Brasileiro? Entrando ou saindo?” – “Sim, entrando”. – “Pode me acompanhar.” Me levou até uma sala e pediu os documentos. Nessa hora lembrei que tinha que ter aproveitado a ida a Santa Helena para contratar po seguro, que agora não é mais carta verde. Vi até placa indicando, mas na correria para abastecer, acabei esquecendo. Falei com ele que faltava o seguro e perguntei se poderia adquirir após os trâmites, no que ele respondeu que não. Então falei que iria providenciar e voltaria. Ele falou, a essa hora já fechou (mentira!), se quiser, podemos providenciar por aqui. Você vai precisar de um “nada consta” do DETRAN também. Como? Isto eu não sabia. Perguntei onde existia essa exigência, porque não encontrei isso escrito em lugar algum. Ele foi falando que era obrigatório, que isto, que aquilo, e eu entendendo o que ele queria. Perguntei quanto ficava para providenciar os documentos. Ele respondeu R$ 200,00. Falei que estava desistindo da entrada na Venezuela, pois era muito burocrático. Ele falou que não precisava desistir e que o documento que me forneceriam permitiria entrar, transitar e sair do país pela fronteira com a Colômbia como eu queria. Era o documento que impediu os amigos que tentaram fazer a travessia e tiveram problemas. Refleti e, apesar de tudo que envolve isso, acabei pagando. Ou pagava ou não entrava, o cara deixou claro.

Viagem de Moto Venezuela 06

Enquanto esperava o documento ser emitido, conversei por um bom tempo com um senhor venezuelano e uma mulher. Ambos fizeram várias recomendações para minha viagem, como não viajar depois das 16 horas e não parar em locais ermos. Disseram que a violência no país está muito grande.

Com o documento na mão e um carimbo extra no passaporte com os dados da moto, segui viagem em direção ao norte. Estrada boa, com alguns poucos buracos.

Conforme orientação do agente, 60 km depois de entrar no país deveria parar no segundo posto de checagem da Guarda Nacional Bolivariana e pedir que carimbassem o verso do documento. Foi o que fiz e os soldados atenderam ao pedido gentilmente. Pareceram não ter nenhum envolvimento com o processo de “facilitação” para a emissão da autorização.

Passei por muitos postos de checagem (a cada 20 ou 30 km existe pelo menos um. Em alguns lugares um após o outro) do exército Bolivariano, Guarda Nacional Bolivariana, Polícia Nacional Bolivariana e polícia local, mas nenhum deles me parou. Estava seguindo o conselho do Gideão, o pastor de Pacaraima: ao chegar ao posto, não olhar para os militares, sempre olhar para outra direção.

Entrei na Gran Sabana, uma região linda, com extensos campos de capim verde amarelado e montanhas ao fundo, dentre elas o Monte Roraima, onde fica o ponto culminante do Brasil.

Viagem de Moto Venezuela - Gran Sabana

Depois de rodar cerca de 120 km, tendo pedido algumas referências, parei em um local onde alugavam cabañas – quartos com banheiro privativo – ao lado do rio Kama Meru. Muito simples, poderia dizer que é tosco, o lugar tinha duas camas com travesseiro e fronha, mas não havia lençol ou qualquer coisa para cobrir. Não havia luz, então tive que me virar para tomar um banho e me ajeitar com uma pequena lanterna que levo na bagagem. O preço, menos de R$ 10,00.

Fui até o rio e para minha surpresa, o salto (cachoeira) é enorme, como podem ver na foto.

Perguntei para a moça da recepção se teria jantar e ela disse que não, mas tinha um restaurante há 10 minutos de distância. Fui lá e comi uma empanada de queijo muito ruim com um refigerando local de malta. Não sei o que é, estava gelado, mas não achei gostoso. Alguns soldados que chegaram amontoados na traseira de uma pickup pareciam gostar do refrigerante.

Encontrei no local um caminhoneiro brasileiro que estava levando carga para o norte e me fez várias recomendações relacionadas a segurança. Quando voltei a noite já tinha caído e esfriou bem. Muito bom sentir frio depois de tantos dias sofrendo com o calor.

Mais tarde fui tentar tirar fotos da via láctea, mas o céu ficou nublado rapidamente e não consegui uma boa, mas saíram fotos do horizonte.

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