Viagem de moto até Machu Picchu – Peru

9º dia – Quinzemil – Cusco

Viagem de moto até Machu Picchu – Peru

O celular nos despertou às 4 horas e todos se colocaram a postos para adiantar ao máximo. Descemos, arrumamos as motos fizemos nossa oração da manhã e saímos em direção do incerto e não sabido daquele trecho medonho.

A noite e a chuva eram os mesmos de horas antes. Tocamos com muito cuidado. Em certos trechos que conseguia ficar ao menos em pé sem cair, parava para tirar umas fotos de situações que surgiam à minha frente.

Mas o que nós vimos depois de 43 minutos de estrada era inacreditável… Um rio na nossa frente para atravessarmos. Não era possível isso. Falaram que as pontes já estavam construídas, mas esqueceram de dizer que foram construídas, mas não estavam passando veículos sobre elas ainda. Existiam ainda desvios nas estradas passando ainda pelos rios existentes. Paramos, olhamos aquele bicho papão à nossa frente e ficamos pensando o que fazer. Moacyr lançou sua XT nas águas geladas e com pedras sabão ao fundo e atravessou. Barbieri foi o segundo e lançou sua XT até chegar as margens do outro lado e a moto entrou em ponto morto e ele foi para dentro do rio com moto e tudo, sendo socorrido pelos amigos. Eu filmei e olhei o que estava na minha frente. Minha moto não passaria por aquela situação sem cair dentro do rio, o que iria causar muitos transtornos a todos se, alem de cair, quebrar alguma coisa, sem contar com minha segurança também. Eu Paulo Brunoro, Kadinho e Odileno olhamos para a ponte, e vimos na sua cabeceira, dois caminhos de terra, interrompendo a passagem. Bem se é apenas terra, tiramos um montante de terra da ponte e fizemos uma pequena abertura suficiente para passar a moto e assim transpusemos este primeiro obstáculo. Ficamos pensando o que teria pela frente ainda. A noite perigosa e chuvosa continuava a nos acompanhar e tocamos com coragem. Lembrei das fotos que vimos antes, dos amigos que já tinham passado por esta estrada um ano antes e suas motos eram verdadeiros Jet ski nos rios. Continuamos e os rios, as pedras e a lama nos acompanhavam com trechos que pensamos em não conseguir passar com as motos. Mais um rio a nossa frente e mais uma vez nosso piloto de teste drive, Moacyr, fez a passagem das motos. Tínhamos que apertar o passo para não ficarmos presos na tranqueira que ainda não havíamos passado. A noite ainda nos acompanhava, a tranqueira não chegava e a hora marcada que era 6 da manha estava muito próxima. Fassarella caiu e o seu baú voou longe da moto, quebrando o suporte. Paramos, enrolamos fita crepe ao redor do baú, fixamos no próprio suporte e continuamos. Encontrei mais adiante Rodrigo com a moto pendurada e escorada na perna esquerda. Ele não conseguia levantar a moto nem deixar ela cair. Parei minha moto e o ajudei a sair da situação. Após 2 horas de viagem, tínhamos andado apenas 35 km. Recorde de corrida tartaruga. Passamos pela tranqueira e seguimos. Os caminhões não paravam. As condições pioravam a cada curva, pois as obras estavam em plena execução e as pedras enormes, desvios, pedras soltas e cascalhos estavam espalhados por toda a pista. Ao final, uma descida muito forte com muita lama e descemos todos com muita cautela e conseguimos chegar ao asfalto. Comemoramos e tiramos fotos. Soubemos depois que ainda não havia acabado o trecho em obras. Foi uma frustração muito grande. Continuamos pelo asfalto com cuidado pelas curvas que surgiam a nossa frente. Mais um rio nos cercava. Desta vez, um forte volume de água gelada que vinha das montanhas surgia a nossa frente. Era o último. Mas não precisava ser assim tão grande e com correnteza.

Atravessando o rio

Mais uma vez tentamos. Moacyr passou, Barbieri foi e mergulhou sua XT totalmente dentro das águas geladas. Kadinho foi e caiu na saída do rio, já no asfalto. Eu parei e não quis arriscar. Moacyr atravessou o restante das motos do grupo e festejamos muito por isso e por ter acabado o sofrimento imenso pela estrada em obras. A moto do Barbieri foi praticamente desmontada na parte elétrica para secar e reparar o que havia de errado. Foram 43 minutos de ajustes e consertos nas motos avariadas. Filmamos e fotografamos toda a situação inusitada e seguimos pelo asfalto novinho que surgia como um prêmio pelo nosso esforço e sacrifício.

Tocamos juntos, e a altitude começava a aparecer e necessitar de cuidados na parte física, pois cansávamos apenas de descer da moto. As folhas de coca foram nossas companheiras o tempo todo.

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Olhamos placas de transito que nunca havíamos visto antes, ou seja, nas curvas se pedia para buzinar insistentemente, pois era motivo de muito perigo por parte dos caminhões e motoristas peruanos que faziam as curvas naquele trecho. Então buzinávamos à vontade e as curvas eram tão fechadas e perto dos precipícios, que fazíamos muito deles em primeira e segunda marcha nas motos, numa velocidade de 25 a 30 km por hora. O grupo depois de um pouco mais de alivio começou a se distanciar um do outro em determinados trechos. Eu não arrisquei em nenhum momento minha segurança e toquei com muito cuidado.

Continuamos pelos caracoles peruanos, e por altitudes de 5.000 metros sobre o nível do mar. Barbieri passou mal. Paramos para nos refazer do mal das alturas. Tiramos algumas fotos em locais estratégicos e em placas mostrando altitudes. Começou a chover e o frio nos abraçou. Passamos por uma chuva de granizo que tinha acabado de acontecer, deixando o asfalto branco de gelo e toda a paisagem à nossa volta.

Atravessando o rio 2

Foi uma emoção diferente pois nunca havia visto tanto gelo e frio na minha vida. Paramos para abastecer as motos e a chuva aumentou mais ainda. Chegamos a um restaurante que nos tinham avisado que ficava perto da cidade de Urco. Chegamos e fomos muito bem atendidos pelos proprietários e funcionários do restaurante que tinha o nome de Restaurante Mirador, que fazia parte do roteiro turístico e de uma obra da Empreiteira Odebrecht. Coloquei minhas luvas no fogão a lenha do restaurante e pedi um rolo de papel toalha para enxugar minhas botas e pés. Comemos fartamente, nos aquecemos, tiramos fotos com os funcionários e seguimos em direção a Cusco.

Seguimos todos com muita atenção e, creio eu, todos com os batimentos cardíacos muito alterados. Nosso cuidado em geral triplicou. Parecíamos amadores pilotando aquelas motos enormes e pesadas, nas curvas que tínhamos que buzinar para avisar quem vinha no sentido contrário ter cuidado e não nos atropelar na contramão daquele asfalto tão novo e de qualidade.

Paramos num ponto alto para Barbieri recuperar as forças, pois a altitude afetaram seu organismo e fizemos uma pausa, aliás, para todos se refazerem do mal das alturas. Tiramos fotos da estrada que havia ficado para trás e bem abaixo do local onde estávamos. Deu para perceber porque o nome: Caracoles Chilenos. A estrada não tem nem 1 km de reta, pois antes disso vem uma curva de 20 graus, nos impondo marchas fortes nas motos. Fomos fazendo os registros das altitudes e do visual completamente diferente e típico da região. A estrada era ótima e recém construída, com alguns trechos com deslizamentos, onde próximo a uma curva, uma pedra não muito grande rolou à minha frente, fazendo jus às placas indicativas de deslizamentos ao longo da estrada.

Aproximamos-nos de Cusco já pelo cair da noite. Entramos na estrada principal que nos levaria ao hotel que nos foi indicado pelo amigo de Rio Branco no Acre. Começamos a sentir de imediato o transito louco e intenso. Ao redor, as marcas da enchente que atingiu a região e foi noticia no mundo inteiro. As casas ainda penduradas pelas paredes que resistiram à força das águas ainda estavam como prova da destruição que passou pelo local. Uma entrada longa até o centro da cidade. E a loucura do transito continuava cada vez mais. A quantidade de táxis e moto táxis era absurda. Não haviam muitos semáforos nem muita organização no trânsito, nos exigindo atenção redobrada.

Desmontando a XT

Fomos tateando pelo asfalto ruim e cheio de lama das chuvas que ainda fazia estragos na região. Procuramos a Praça das Armas, que seria o local próximo ao hotel onde iríamos ficar. Tomei à frente numa determinada situação, por ter visto no mapa que nosso amigo de Rio Branco havia explicado e em conjunto com Moacyr ajudei a localizar o hotel San Agustin Internacional. Paramos em frente ao hotel e perguntamos como seriam os valores e se tinha vaga. Olhamos os quartos triplos e duplos, e conseguimos um desconto. Os triplos que eram 59 dólares, ficou por 55, e os duplos que eram 39 dólares ficou por 35. Aceitas as condições gerais, decidimos em conjunto ficarmos ali.

As surpresas iriam começar a acontecer.

Nossas motos e os baús estavam simplesmente imundos de lama, poeira e tudo que tinha pela pista. Os atendentes do hotel se posicionaram para nos receber. Tiramos os baús das motos e eles vieram pegar de roupas limpas e brancas. E eu falei que não havia necessidade, pois os baús iriam sujar a roupa deles. Isso foi negado. O cara do hotel abraçou meus baús e o dos demais com tanta alegria por estar recebendo 7 clientes que a sujeira era prazer para ele. Fiquei impressionado com tudo ali naquele momento, pois não era comum vermos um tratamento tão eficiente e cortês.

Paisagem peruana antes de Cusco

Pois bem, baús tirados, colocados no saguão do hotel, tiramos no tradicional zerinho ou um para decidir quem ficaria no quarto com quem e subimos cansados, sujos, famintos. Ficamos eu e Kadim num apartamento, Odileno e Barbieri em outro, Paulo, Moacyr e Fassarella no triplo. Tomamos um banho quente e saboreamos o famoso chá de coca que o hotel disponibilizava aos hóspedes e, para nós, era uma aventura beber a bebida tão comentada, que não fazia outra coisa a não ser nos aquecer por dentro, como nosso famoso chá mate Leão do Brasil.

O fuso horário de 3 horas começava a pesar. Para nós era meia noite, e para eles do Peru eram 9 horas. Fui para o restaurante sozinho e pedi um arroz a la grega e salada e aguardei. Meu sono quase me fez desistir de comer, pois para mim era meia noite. Fui atendido com uma cortesia incrível pelo garçom encarregado do pedido. Comecei a achar que estávamos no lugar certo neste aspecto. Depois de doze minutos veio minha janta toda decorada pelo mestre do restaurante.

Logo em seguida veio quase o grupo todo, se achegaram à minha mesa e todos fizeram pedidos, espantando um pouco meu sono imenso. Conversamos sobre a viagem, acabamos de comer e fomos dormir exaustos.

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