11º dia – Rio Gallegos – Ushuaia

O dia começou com um grande susto: acordei no meio da madrugada depois de sonhar que havia perdido a pasta onde levo passaporte, certificados de seguros (saúde, SOAPEX, Carta Verde), parte do dinheiro e outros documentos necessários para a viagem. Para checar, acendi a luz do quarto e fui ver na bolsa se a pasta estava no lugar onde sempre guardo. Não estava. Revirei a bolsa, tirei tudo de dentro e nada de encontrar a bendita pasta.

Lembrei que ao chegar a um dos hotéis anteriores, havia retirado a pasta da bolsa e colocado no mesmo alforge lateral que coloco a bolsa da câmera e o tripé. Perdi quando usei a câmera para tirar alguma foto na estrada, imaginei. Tentei lembrar onde poderia ser e em seguida quais as providências que teria que tomar. Procurar a polícia para registrar uma ocorrência? Vesti uma roupa e fui ao estacionamento olhar no alforge da moto. Tirei tudo de dentro e nada da pasta aparecer, até que passei a mão numa das laterais do alforge e ela estava colada lá dentro, perfeitamente encaixada. Ufa!!! Que alívio.

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Passado o susto, retornei ao quarto e tentei dormir, mas não consegui mais que um cochilo. Levantei, arrumei toda a bagunça que havia feito, voltei para a cama e fiquei esperando amanhecer.

Viagem de moto até Ushuaia - Argentina

Às sete estava pronto. Tomei um café muito sem vergonha que o hotel serviu e fui para a estrada. Estava nublado e frio, por isso coloquei a jaqueta de cordura e a calça de segunda pele. Nas mãos a luva de couro, sem forro. A mão esfriou, mas teimei em continuar com ela.

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A estrada tinha alguns buracos tampados com rípio. Mas isso não impediu que eu percorresse rapidamente os quase 100 km até a divisa com o Chile. A migração e a aduana são feitas em um só local, tanto para sair da Argentina quanto para entrar no Chile. Faltava alguém para orientar quem chegava. Haviam filas entrando nos dois lados do prédio. Cheguei à que estava mais próxima de onde estacionei a moto, perguntei e era aquela que deveria seguir. O processo é dividido em cinco passos. Passo 1 para sair da Argentina, Passo dois para entrar no Chile, Passo 3 para dar baixa da moto na Argentina, Passo 4 para dar entrada com a moto no Chile, Passo 5 para fiscalização sanitária. Uma fila, um carimbo e um documento a ser preenchido em cada passo, sendo que duas das filas, a 1 e a 3 eram enormes, as que saíam do prédio.

Viagem de moto até Ushuaia - Argentina

Troquei as luvas pelas mais grossas e segui pela boa estrada chilena até a Punta Delgada, onde avistei o transbordador. Os veículos que iriam fazer a travessia do Estreito de Magalhães já estavam quase todos dentro dele. Entrei atrás de um ônibus e me indicaram estacionar na lateral. Em poucos minutos entraram mais alguns ônibus e os últimos carros que chegaram e o barco iniciou as manobras para atravessar o canal. Paguei a passagem dentro do próprio transbordador e com pesos argentinos. Em 20 minutos desembarcamos em Baía Azul.

Finalmente na Tierra del Fuego. Com céu azul e poucas núvens, segui pela excelente Ruta 257, pavimentada com concreto, onde comecei a sentir efetivamente a força do vento tão falado. Na medida em que ia para o sul, recebia um forte vento pela direita. Se a estrada virava para o leste, o vento vinha por trás e para o oeste de frente. Um vento forte e constante, que me obrigava a pilotar com a moto inclinada para o lado do vento para compensar sua força. Quando pegava de frente eu tinha que reduzir uma marcha para manter a velocidade. Mesmo assim segui sem susto, mas o consumo de combustível aumentou.

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Havia previsto abastecer apenas em San Sebastian, mas por causa do vento, a autonomia da moto reduziu e não quis arriscar, mesmo levando um galão reserva. Quando cheguei a Cerro Sombrero, entrei na cidade e fui procurar o único posto para abastecer a moto. Não tinha pesos chilenos e eles não aceitavam cartão. Aceitavam pesos argentinos, mas com uma facada no bolso. Fazer o que? Monopólio é isso.

Viagem de moto até Ushuaia - Argentina

Voltei para a estrada e pouco depois cheguei ao fim da pavimentação e o início do temível rípio. Parecia que haviam acabado de passar um trator espalhando as pedras, que estavam bastante soltas, fazendo a moto dançar muito. Segui viagem com o motor sempre acelerado, a uma velocidade próxima dos 50 km/h, o que me parecia bastante seguro para as condições do piso. Ao lado, a estrada de concreto que avança rapidamente para substituir a estrada de rípio. De vez em quando passava por veículos que vinham no sentido contrário e nesses momentos ficava inseguro para conduzir a moto sobre as pedras soltas e também com receio de alguma delas ser arremessada contra a moto ou eu.

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43 longos e intermináveis quilômetros depois, o rípio terminou e recomeçou a excelente estrada de concreto. Segui todo feliz e em alta velocidade, apreciando a moto percorrer aquela bela estrada. Menos de 30 km depois uma placa: “Fim pavimento”. Que m$r#@. Novamente no rípio, mas dessa vez muito mais compactado, o que me deu segurança para seguir a uma velocidade superior a 80 km/h. Foram mais de 40 km, que venci rapidamente, sem nenhum contratempo. Nesse trecho da estrada não vi nenhum movimento no sentido de que ele será pavimentado.

Novamente inicia um trecho pavimentado e em seguida mais um trecho de rípio até a fronteira. Dessa vez os trâmites foram feitos em prédios separados e o processo foi mais rápido, apesar de não menos burocrático. Na saída da aduana argentina, encontrei um grupo com seis motociclistas do Rio Grande do Sul, Mário, Glauber, Gustavo, Mário Jr, Benhur e Daniel. Eles estavam retornado de Ushuaia. Depois das trocas de adesivos e desejos de boa viagem, segui por mais 13 quilômetos de rípio até finalmente pegar o seguimento da Ruta Nacional 3, pela qual segui até Ushuaia.

Viagem de moto até Ushuaia - Argentina

Antes de chegar à cidade, ainda passei pela cadeia de montanhas que forma o fim da Cordilheira dos Andes, onde vi pela primeira vez nessa viagem alguns traços de neve no alto de algumas montanhas.

Um dos trechos mais bonitos é o que contorna uma margem do Lago Fagnano, lindo, com montanhas nevadas no entorno. Pena que não consegui uma foto que ficasse boa.

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Em Ushuaia segui para o hotel que havia pesquisado com antecedência, mas não encontrei no endereço indicado. Segui para um outro próximo, mas estava lotado. Pedi para usar a internet. Todos os hotéis que tinham disponibilidade no site do busca estavam com preços muito altos. Segui para um que era próximo, onde encontrei vaga, mas disseram que só podiam garantir por uma noite. Fiquei assim mesmo e amanhã procuro outro lugar. Pior que paguei os 1.125 pesos com cartão, o que resultará em conversão pelo câmbio oficial acrescido de 5% de IOF.

Para fechar o dia e comemorar a conquista do destino, fui a um famoso restaurante especializado em carnes da cidade. Comi um cordeiro patagônico acompanhado por uma salada (para compensar) e tomei um vinho da casa.

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