19º dia – El Calafate – Perito Moreno

Acho que tudo que podia acontecer nos pouco mais de 700 km que percorri hoje durante minha viagem de moto pela Ruta 40 na Argentina, aconteceu. Onze horas na estrada com frio Intenso, ventos fortíssimos, paisagens lindas, estradas boas, estradas ruins, rípio fácil, rípio cascudo, animais atravessando a pista na minha frente, a moto tombou, o posto não tinha gasolina e a mola do descanso pediu pra sair.

Bem cedo já estava pronto e dividindo o café da manhã com uma excursão de velhinhos franceses. O céu estava bem fechado, as ruas molhadas, mas não estava chovendo quando saí. Numa rua proxima ao hotel, um gato preto atravessou a rua na minha frente e, quando me viu, voltou para o lugar de onde tinha saído. Me perguntei se era um mau presságio. Mas ele não atravessou por completo minha frente, lembrei. Pensando bem, eu não acredito nisto mesmo…

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A estrada também estava molhada e nuvens negras cobriam todo o céu. O vento era fraco, mas o frio estava intenso. Eu estava com o corpo completamente coberto, aparecendo apenas a região em torno dos olhos e, mesmo assim, parecia que havia lugares que o frio conseguia entrar. A chuva me acompanhou quase todo o dia, mas não me alcançou em nenhum momento.

Viagem de moto até Ushuaia - Argentina

Peguei a Ruta 40 e o sol ainda não havia aparecido. A estrada contorna o belo Lago Argentino por muitos quilômetros.

A paisagem da Patagônia é marcada pela estepe com capim ou arbustos baixos e nenhuma árvore, a não ser aquelas plantadas pelo homem perto das construções. Um deserto. O movimento na estrada é muito pequeno, não encontrei nenhum caminhão durante todo o dia, dois ônibus e algumas caminhonetes. Provavelmente cruzei com menos de cinco veículos por hora.

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Até a cidade de Três Lagos a estrada estava boa e bem sinalizada. Parei naquela cidade para abastecer, mas o posto ficava na estrada. Depois de pedir informações, tive que retornar até encontrar o lugar. Logo de início, um caminho com rípio cascudo, com pedras do tamanho de bolas de tênis espalhadas pela estrada. Algumas enterradas na terra e outras soltas. Um rapaz veio conversar. Estava vindo no sentido contrário e calibrava os pneus do carro. Perguntei quantos quilômetros de rípio eu tinha pela frente e ele disse achar que eram 70. Sugeriu reduzir a pressão dos pneus para ficar mais fácil passar pelo trecho. Aceitei a sugestão, mas reduzi de 36 para 28 apenas em ambos os pneus.

Viagem de moto até Ushuaia - Argentina

Depois de percorrer uns 4 quilômetros bem difíceis, vi ao lado que já havia um trecho de asfalto pronto, sem sinalização, mas ainda não liberado para o trânsito. Dois quilômetros depois a estrada estava liberada para o trânsito.

Segui pela estrada novinha por cerca de 35 km, quando vi a placa indicando o fim do pavimento. Rípio cascudo, que se você sai do trilho ameaça te derrubar. Parecia que tinham acabado de passar um trator espalhando as pedras redondas. E ao contrário da estrada de rípio da Terra do Fogo, por onde passam muitos caminhões, aqui demoram dias para que as pedras sejam compactadas por causa do pouco movimento. Depois de uns vinte minutos comecei a escutar um barulho constante de batida de pedra com ferro e de imediato soube que havia um problema. Comecei a reduzir e vi que o descanso da moto estava baixado e batendo nas pedras. A mola havia  se soltado. Resolvi voltar alguns metros para ver se conseguia achar a bendita. Nada. Parei, desci da moto e comecei a analisar a situação. Eu levava alguns itens na bagagem que poderiam me ajudar com algum paliativo. Entrou em cena a veia Mcgiver. A primeira coisa que pensei foi na fita silver tape. Segura tudo. Mas ai lembrei que se pregasse o descanso, teria que arrumar um jeito de despregar sempre que fosse estacionar a moto. Levo também um pequeno rolo de arame. Uma opção interessante. Como fazer para baixar o descanso, sem descer da moto. Lembrei dos elásticos com gancho nas pontas. Peguei um, dei algumas voltas em torno do metal e enlacei a outra ponta no protetor do motor. Quando fosse preciso parar, bastava soltar uma ponta e descer o descanso. Um teste e funcionou perfeitamente.

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Arranquei, andei uns dois quilômetros e o descanso desceu novamente. Parei a moto e vi que devia prender o elástico mais para a ponta do descanso. Abaixei para ajeitar, a moto começou a tombar. Depois que passou de um ponto, não tem jeito. Tirei a perna da frente e esperei os 350 kg da moto serem atraídas pela força da gravidade. As plataformas garantiram que não ocorresse nenhum dano. Não havia encontrado com nenhum carro desde que entrei nesse trecho de rípio e na hora que a moto estava tombando vinha uma caminhonete, que parou e o motorista perguntou se eu precisava de ajuda. Agradeci e comecei a levantar a moto, usando a técnica que aprendi há alguns anos (leia aqui como é). Moto no lugar, ajeitei o elástico de uma forma tal que ficou ótimo e não causou mais problemas até o fim do dia. Dá para aguentar até amanhã ou depois até achar um taller (oficina) aberto e ver se consigo ajuda para fazer algo mais definitivo.

Viagem de moto até Ushuaia - Argentina

Continuando na estrada, foram uns 30 quilômetros do rípio mais cascudo que já peguei. E para piorar, o vento que estava tranquilo, começou a soprar forte. Tive que pilotar com a moto inclinada em um piso horrível. Depois de alguns quilômetros, o rípio ficou mais tranquilo, mas ainda assim não era nada confortável passar por ele.

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Depois a estrada deixou de ser de rípio e passou a ser de terra, como conhecemos no Brasil, com pouquíssimas pedras espalhadas. Estava melhor que muita estrada asfaltada que já passei. Até ultrapassei algumas caminhonetes.

Viagem de moto até Ushuaia - Argentina - guanacos

Acabou o rípio, parei para encher os pneus com o mini compresso que levo no alforge. A estrada dalí em diante é ótima. Parei na cidade de Gobernador Gregores para abastecer. O vento estava muito forte na cidade e aumentou depois que saí dela. Peguei um vento de frente que não me deixou colocar a 6ª marcha na moto.

Viagem de moto até Ushuaia - Argentina

Havia programado parar para abastecer também em Bajo Caracoles, distante 230 km de Gobernador Gregores. Quando cheguei ao pequeno posto, vi que a bomba estava desligada e não havia ninguem atendendo. Parei e fui até um pequeno hotel que havia ao lado. Em frente ao hotel, três motos com placas do Chile. Quando cheguei perto, saíram os motociclistas de dentro do hotel. Eram três americanos de Montana que compraram as motos no Chile e estavam viajando pela Patagônia. Iam para El Chaltén quando pararam para abastecer, mas não conseguiram comprar porque acabou a eletricidade. Estavam ali há três horas. Um deles tinha uma Heritage como a minha nos Estados Unidos.

O próximo posto ficava em Perito Moreno, o destino do dia, 130 km à frente. Como o vento aumentou o consumo da moto, o que eu tinha no tanque não daria para chegar, mas tinha o galão reserva cheio. E o rapaz que abasteceu em Gob. Gregores não encheu o tanque completamente. Segui em frente e quando cheguei em um lugar com um morro ao lado da estrada que cortava o vento, parei, improvisei um funil com uma garrafa de água e coloquei todo o conteúdo do galão no tanque da moto.

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Cheguei a Perito Moreno (a cidade e não o glaciar) depois das 18 horas. Foram mais de 11 horas na estrada. Cheguei ao primeiro hotel da minha lista e estava lotado. Ao lado havia outro onde resolvi perguntar, mas achei caro. perguntei para mais dois e o terceiro, muito simples, estava mais em conta, por isso fiquei nele. Hotel Belgrano. Internet horrível.

Mais tarde saí e passei em uma paneria, onde fiz um lanche.

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