6º dia – de Sarajevo a Belgrado

Depois de muito refletir, decidirmos viajar até Belgrado na Sérvia, porque esta etapa tinha lugares a visitar, mas não para pernoitar. Então partimos.

As estradas continuam no meio da densa floresta de ciprestes, separadas por montanhas e com pradarias verdejantes.

Era nosso objetivo chegar a Srebrenica. O caminho não foi fácil, sobretudo porque na segunda metade da viagem voltou a chover a potes, não sem antes, na montanha, ficarmos encobertos por um nevoeiro serrado onde não se via um palmo.

Encontramos na montanha um grupo de motociclistas italianos em Harleys que andavam a 40 km/h, com grandes dificuldades em progredir. Nas viagens de moto o imprevisto é o mais previsível de acontecer.

O caminho continua com a paisagem verdejante e raramente se vêem localidades, muito dispersas e pequenas.

A chegada a Srebrenica foi para mim um misto de emoções, já tinha visto documentários e filmes sobre o massacre, mas ir ao local do maior assassinato em massa da Europa desde a Segunda Guerra Mundial é algo que não se consegue explicar.

Srebrenica estava sob protecção da ONU, quando se viu em risco, pediu por diversas vezes apoio aéreo massivo para evitar o ataque do exército Sérvio, coisa que nunca aconteceu (alegadamente por questões burocráticas). Na verdade, independentemente da especulação, morreram mais de 8000 pessoas, quase todos civis.

Viagem de moto Europa Balcas Srebrenic 002

Ainda estão lá os postos da ONU e o ambiente logo à chegada, junto do cemitério onde estão enterrados os 8 mil muçulmanos, é de um silêncio ensurdecedor.

A cidade fica um pouco mais à frente, no meio de um vale rodeado de florestas densas, demonstra bem o quão frágil era aquela posição. Não dá para imaginar, mas a sensação de estar ali…

Nos Balcãs é muito comum ver os cemitérios às márgens das estradas. No início a coisa impressiona, depois vamos nos habituando. Mas naquele local, tudo é muito estranho, pesado e até um pouco sinistro.

À entrada de Srebrenica, depois de passar pelo dito cemitério, encontra-se a placa da cidade. Junto à placa, numa cota mais alta, existe um enorme cemitério cristão, com uma igreja, coisa estranha, parece que quer fazer passar também ela uma mensagem.

Nos Balcãs a sensação que fiquei é que não vale a pena fazer juízos de valor, o nosso entendimento é muito tênue face à verdadeira história de horror. A tragédia humana é algo que nos afeta o coração, sobretudo, imaginando os civis inocentes e de entre eles, as muitas crianças.

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É verdadeiramente um misto de emoções. Quando dá por ti, sente compaixão, tristeza e ao mesmo tempo, aquilo que teoricamente mais abomina, vem à flor da pele, sente ódio e destruição. Nenhuma guerra é justificada, mas na verdade, todos somos guerreiros.

Todas as partes são fonte do ódio, gerado por outros ódios e outras vinganças.

Diz-se que, ao contrário de viajar num carro, onde se vê a paisagem, viajar de moto é fazer-se parte da paisagem.

Claro que a natureza age sobre nós. Não temos proteção suficiente, sentimos o frio, a chuva ou o calor. Sentimos que fazemos parte de algo maior e aquele pequeno sofrimento não se compara ao prazer que se tira.

É um ato solitário. O que se vive dentro de um capacete são momentos de introspecção, de admiração, de fúria, de alegria, de paz e de guerra. Falamos conosco, sentimos e fazemos as nossas imagens sobre o Mundo, se a isso misturarmos toda a confusão e imagens fortes que vivemos nestes lugares, tenho a certeza que algo de nós vai mudando.

Depois daquela imagem que jamais vamos nos esquecer, seguimos para Belgrado.

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A fronteira da Bósnia com a Sérvia é digna de filme. A saída da Bósnia e a entrada da Sérvia estão separadas por uma ponte metálica em más condições sobre o rio Drina. Presumo que ninguém trate da ponte, cuja propriedade deve estar esquecida por ambos.

Não tivemos qualquer problema em passar as fronteiras, mas a sensação que tive foi que, provavelmente, será um dos maiores pontos de tensão.

Belgrado é uma cidade maravilhosa, um estaleiro com obras por todo o lado, enorme, confusa e caótica. Pessoalmente gostei, apesar de perceber que não deve ser fácil viver ali, naquele caos.

Depois de chegar ao hostel no centro da cidade e depois de beber umas fresquinhas, porque a viagem tinha sido dura, falamos com o dono, um indivíduo muito simpático e a minha ideia sobre os Sérvios começou a mudar.

Os Sérvios são simpáticos, as ruas à noite são muito agradáveis, com música, bares e esplanadas. Enfim, uma cidade da europa ocidental com música russa.

A arquitetura é engraçada e um contraste entre os feios e portentosos prédios da ex-URSS e a arquitectura moderna e ocidental.

Ficamos com pena de não ficar mais um dia…

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