5º dia – de Foyel a La Junta

Sexta-feira Santa, dormi até tarde e só saí do camping às 8 horas. A moto estava boa, depois que troquei o óleo, o motor ficou bem suave (mas sempre checando o nível). Percorria a Ruta 40. Passei por El Bolsón, uma cidade charmosa, assim como as demais que visitei no caminho. Saí do verde das montanhas para o árido de forma rápida em Esquel, onde parei, comprei comida, abasteci e descansei por uma hora. O posto tinha wifi.

Passei por Trevelin e logo depois o asfalto acabou e iniciou o drama do rípio (1000 km previstos). Rípio tenso, solto e com muitas pedras onde os pneus da moto chegavam a quase afundar. Tive que usar algumas técnicas de pilotagem off road. Não sou profissional, mas sei o que fazer. Abandonar freio dianteiro, usar freio motor e freio traseiro de leve, seguir o trilho com menos pedras e evitar ficar próximo à borda, onde há bolsões de cascalho. Essa historia de diminuir a calibragem e ficar de pé na moto pode funcionar para muitos, mas tem suas consequências. Pneu murcho facilita a condução, mas deteriora de forma mais rápida o pneu e aumenta o consumo de combustível e autonomia em locais desolados faz a diferença. E detalhe, NÃO HÁ remendo que resista ao rípio, pois a câmara trabalha muito e remendos não resistem. Ficar em pé ajuda, mas tem que ter preparo para ficar horas e horas em pé e eu estava com bagagem, portanto evitei e fiz uma condução mais defensiva. Fazer curvas com ângulo da moto em curva, mas o corpo reto ajudou e é recomendado.

Viagem de moto Ushuaia

O Paso Futaleufú foi tranquilo, mas já estava de saco cheio do pó do rípio e da péssima estrada. Ao entrar no Chile encontrei asfalto. Ufa!. Depois do passaporte carimbado, fui para a Carretera Austral. A alegria durou pouco. Foram 110 km de rípio e só 10 de asfalto. Mas os primeiros quilômetros mostraram como seria a Carretera: por onde olhava via paisagens épicas. Rios e lagos de desgelo com cores azul e verde, raros de ver no Brasil. Enfim, estava na ruta 7 a famosa Carretera Austral. Sabia que ela estava em obras, porque estão asfaltando-a por inteiro.

{loadmodule mod_custom,Anúncios Google Artigos}

Rodei por um asfalto que parecia um tapete de novo, mas logo acabou e fui para um rípio um pouco melhor que o anterior. Passei por vilas que lembram casinhas europeias, picos nevados, com pouca neve, mas tinha, chácaras e vales, tudo com muito verde e bem limpo.

Viagem de moto Ushuaia

Não fazia frio intenso, algo em torno de 5°C a 10°C. Eram 16 horas e eu já queria parar em algum camping. Parei em uma cidade chamada La Junta, pequena e turística. Bati de porta em porta e nada, fui ao camping onde me indicaram e não achei. Dei uma volta no meio da cidade e vi um hotel e bati, ninguém atendeu, uma mulher perguntou para mim se eu queria hotel, eu disse que sim e que estava com a grana curta (rsrsrs), ela ligou para o marido e afirmou que tinha “una habitacion” para alugar e que a cidade estava no feriado e com pequenas chances de hospedar (eu já tinha percebido). A mulher não parava de falar, me guiou onde era a casa dela em que teria um quarto.

Neste momento notei um problema na moto: pneu furado. Eu estava em uma cidade, então fiquei tranquilo. Fui até a casa dela e um homem me recebeu acenando com a mão. Me levou até o “quarto”, que na verdade era uma casa, sim, com seis cômodos, mobiliada e nova em folha. Disse que eu podia usar qualquer cama, cozinha e banheiro. Mas minha preocupação era o pneu. Rapidamente dispensei meu equipamento e levantei a moto. Saquei o pneu e troquei a câmara. Era um remendo que não resistiu ao rípio. Com uma câmara nova e sem remendos, enchi com o compressor e pronto, 50 minutos e a moto estava pronta. Quanto à câmara furada, resolvi que não iria descartar porque nunca se sabe.

Perguntei para a mulher onde trocar o meu dinheiro, já que não tinha pesos chilenos e ela disse que podia ser no banco, mas ela falava muito, então encurtei a conversa. Fui ao mercado com a moto e eles não tinham tantos pesos para trocar por U$100, fui ao posto e lá também não, mas me indicaram um hotel de luxo e lá sim, pude trocar, agora estava com P$75.000. Voltei, paguei a mulher e fiz o meu lanche com refrigerante de boa na copa da casa. Vale ressaltar que a casa era de um Carabinero que só descobri na hora de pagar. Mais um motivo para ficar tranquilo, pois os caras são gente boa.

Percorridos 428 km


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *