Sexta-feira Santa, dormi até tarde e só saí do camping às 8 horas. A moto estava boa, depois que troquei o óleo, o motor ficou bem suave (mas sempre checando o nível). Percorria a Ruta 40. Passei por El Bolsón, uma cidade charmosa, assim como as demais que visitei no caminho. Saí do verde das montanhas para o árido de forma rápida em Esquel, onde parei, comprei comida, abasteci e descansei por uma hora. O posto tinha wifi.
Passei por Trevelin e logo depois o asfalto acabou e iniciou o drama do rípio (1000 km previstos). Rípio tenso, solto e com muitas pedras onde os pneus da moto chegavam a quase afundar. Tive que usar algumas técnicas de pilotagem off road. Não sou profissional, mas sei o que fazer. Abandonar freio dianteiro, usar freio motor e freio traseiro de leve, seguir o trilho com menos pedras e evitar ficar próximo à borda, onde há bolsões de cascalho. Essa historia de diminuir a calibragem e ficar de pé na moto pode funcionar para muitos, mas tem suas consequências. Pneu murcho facilita a condução, mas deteriora de forma mais rápida o pneu e aumenta o consumo de combustível e autonomia em locais desolados faz a diferença. E detalhe, NÃO HÁ remendo que resista ao rípio, pois a câmara trabalha muito e remendos não resistem. Ficar em pé ajuda, mas tem que ter preparo para ficar horas e horas em pé e eu estava com bagagem, portanto evitei e fiz uma condução mais defensiva. Fazer curvas com ângulo da moto em curva, mas o corpo reto ajudou e é recomendado.
O Paso Futaleufú foi tranquilo, mas já estava de saco cheio do pó do rípio e da péssima estrada. Ao entrar no Chile encontrei asfalto. Ufa!. Depois do passaporte carimbado, fui para a Carretera Austral. A alegria durou pouco. Foram 110 km de rípio e só 10 de asfalto. Mas os primeiros quilômetros mostraram como seria a Carretera: por onde olhava via paisagens épicas. Rios e lagos de desgelo com cores azul e verde, raros de ver no Brasil. Enfim, estava na ruta 7 a famosa Carretera Austral. Sabia que ela estava em obras, porque estão asfaltando-a por inteiro.
Rodei por um asfalto que parecia um tapete de novo, mas logo acabou e fui para um rípio um pouco melhor que o anterior. Passei por vilas que lembram casinhas europeias, picos nevados, com pouca neve, mas tinha, chácaras e vales, tudo com muito verde e bem limpo.
Não fazia frio intenso, algo em torno de 5°C a 10°C. Eram 16 horas e eu já queria parar em algum camping. Parei em uma cidade chamada La Junta, pequena e turística. Bati de porta em porta e nada, fui ao camping onde me indicaram e não achei. Dei uma volta no meio da cidade e vi um hotel e bati, ninguém atendeu, uma mulher perguntou para mim se eu queria hotel, eu disse que sim e que estava com a grana curta (rsrsrs), ela ligou para o marido e afirmou que tinha “una habitacion” para alugar e que a cidade estava no feriado e com pequenas chances de hospedar (eu já tinha percebido). A mulher não parava de falar, me guiou onde era a casa dela em que teria um quarto.
Neste momento notei um problema na moto: pneu furado. Eu estava em uma cidade, então fiquei tranquilo. Fui até a casa dela e um homem me recebeu acenando com a mão. Me levou até o “quarto”, que na verdade era uma casa, sim, com seis cômodos, mobiliada e nova em folha. Disse que eu podia usar qualquer cama, cozinha e banheiro. Mas minha preocupação era o pneu. Rapidamente dispensei meu equipamento e levantei a moto. Saquei o pneu e troquei a câmara. Era um remendo que não resistiu ao rípio. Com uma câmara nova e sem remendos, enchi com o compressor e pronto, 50 minutos e a moto estava pronta. Quanto à câmara furada, resolvi que não iria descartar porque nunca se sabe.
Perguntei para a mulher onde trocar o meu dinheiro, já que não tinha pesos chilenos e ela disse que podia ser no banco, mas ela falava muito, então encurtei a conversa. Fui ao mercado com a moto e eles não tinham tantos pesos para trocar por U$100, fui ao posto e lá também não, mas me indicaram um hotel de luxo e lá sim, pude trocar, agora estava com P$75.000. Voltei, paguei a mulher e fiz o meu lanche com refrigerante de boa na copa da casa. Vale ressaltar que a casa era de um Carabinero que só descobri na hora de pagar. Mais um motivo para ficar tranquilo, pois os caras são gente boa.
Percorridos 428 km
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