2º dia – Janaúba/MG – Lençóis/BA

Ao contrário das minhas viagens de moto anteriores, nesta eu não me preocupei em buscar muitas informações sobre as estradas que iria passar. A intenção era chegar a Fortaleza passando pelas principais rodovias que levam ao Nordeste. Poucos dias antes de sair, resolvi também conhecer a Chapada Diamantina, já que passaria perto. Tracei a rota mais curta para definir o local de pernoite e fui. O problema nestas horas é que, nem as estradas do Brasil, nem os mapas dos GPS, são confiáveis.

Saí de Janaúba por volta de 7h30. Ainda na cidade, o equipamento não localizava a estrada que deveria pegar e não havia nenhuma placa indicando. Durante boa parte do tempo eu vi na tela um ponto azul percorrendo uma grande área verde, sem estradas. Tive que perguntar o caminho, mas sempre fui bem atendido e gerei muita curiosidade por onde passei. Em Espinosa, parei em um posto para perguntar como pegava a estrada. Um rapaz com uma Bros me pediu para acompanhá-lo e me levou até a saída da cidade, indicando o caminho correto.

Assim que atravessei a divisa de Minas com a Bahia, senti uma diferença muito grande na paisagem. Apesar do Sertão abranger também o Norte de Minas, parecia mais com a região pobre que sempre vemos na televisão, com grandes áreas secas e sem nenhum produção agrícola.

Passei por muitos motociclistas com motos pequenas, sem capacete, levando até dois na garupa. Ao contrário do ví em viagens anteriores pela BR-116, até agora não vi nenhuma criança ou adulto mendigando na beira das estradas que estou passando ou nos postos de gasolina.

Próximo à cidade de Caetité, finalmente o GPS começou a mostrar a estrada. Então eu não tive dúvidas e segui suas orientações. Passei pela cidade e segui pelo caminho que ele indicava. Depois de rodar cerca de 35 km, o asfalto acabou e começava uma estrada de terra. Retornei e entrei numa vila próxima onde perguntei para um grupo de rapazes quantos quilômetros seria até chegar ao asfalto. Um respondeu que eram 52 km. Perguntei se estava bem compactada ou se tinha muito buraco e areia. Outro respondeu que estava boa, mas sugeriu que pegasse outra estrada que ia até uma cidade chamada Tanque Novo. eram somente 30 km de terra e depois seria asfalto até a BR-242. Novamente perguntei sobre a situação da estrada e respondeu que estava boa. De repente um outro, que até então estava calado, falou “moço, se fosse ocê, co essa moto, vortava pra Caetité e pegava o asfalto. Essas estrada tudo tem um monte de areia que vai atolá esse motor bunitu até as metade…” Não tive dúvidas e voltei.

Em Caetité perguntei novamente e me sugeriram passar por Brumado. Comecei a rodar em direção àquela cidade, mas notei que o GPS indicava que eu demoraria mais de sete horas para chegar ao destino. O danado já não tinha nenhum crédito comigo, mas era muito tempo. Reavaliei as opções e retornei com a intenção de chegar à tal Tanque Novo dando a volta e passando somente por asfalto. Até tomar esta decisão, entre idas e vindas, perdi 1h10. E acabei tomando o que parecia ser o segundo pior caminho (o primeiro era o que o GPS mandava ir). O asfalto era do tipo que seria melhor se fosse de terra. Muitos buracos e aqueles que haviam sido tampados fizeram um serviço tão porco que a estrada parecia mais um pé de moleque pintado de preto. Um horror.

Depois peguei uma estrada excelente, a BA-156. Em determinado momento parei no acostamento para avaliar se entrava em uma estrada que passava por uma cidade chamada Rio do Pires, que me disseram estar asfaltada até a BR-242 e encurtava a viagem, e um casal em um Vectra parou ao meu lado perguntando se eu sabia como chegar a Seabra. Disseram que estavam seguindo o GPS e passaram por uma estrada de terra horrível depois de Caetité e agora não conseguiam se localizar. Neste momento decidi que iria seguir pela BA-156 até a BR-242, mesmo que significasse uma grande volta. O casal também resolveu fazer o mesmo e foi a decisão mais acertada. A estrada estava ótima. O único porém é com relação a animais, passei por vários cavalos e bois soltos na pista. Muitos pássaros também, cheguei a atropelar o que penso ter sido uma rolinha, coitada.

Mas as paisagens em torno das estradas com asfalto ruim compensaram o desgosto. Muitas montanhas, vales e formações rochosas impressionantes. A região que passei é, na maior parte, linda. Perto de uma cidade chamada Guanambi a estrada passa acima de 1.100 metros de altitude, a temperatura estava muito agradável e um vento lateral me fez viajar com a moto inclinada por um bom tempo. Na região existem muitos parques eólicos, com dezenas de geradores no alto das montanhas.

Na BR-242, parei em um posto para abastecer e encontrei com o motociclista abaixo. Ele estava em Honda Twister 250cc, e é argentino. Saiu de Buenos Aires no dia 25 de dezembro, foi até Humaitá no Amazonas e agora estava indo para Salvador. Disse que já havia percorrido 12.000 km desde que saiu de casa, fazendo uma média de mais de 600 km por dia. Para uma moto de 250cc é muito. Comentou que já foi a Machu Picchu, no Peru, pilotando uma moto de 125cc. Este é um motociclista aventureiro de verdade.

Cheguei a Lençóis anoitecendo, depois de 11 horas na estrada e 773,1 km percorridos. Amanhã vou relaxar e conhecer um pouco da Chapada Diamantina. Já vi que tem tanto o que ver que os dois dias que reservei serão muito pouco tempo.

Encontrei uma pousada simples, bem próxima do centro da cidade, com internet, estacionamento, café da manhã e ar condicionado por R$ 80,00 a diária. Devo ficar até quarta-feira.

Depois saí a pé para conhecer o centro e comi um sanduíche de carne e pão sírio.

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Abastecimentos

Cidade Litros Valor R$ Distância R$ / Litro km / litro
Espinosa/MG 10,106 30,01 173,3 2,970 17,1
Candiba/BA 11,110 31,99 185,0 2,879 16,7
Tanque Novo/BA 11,200 32,00 206,0 2,857 18,4
Oliveira dos Brejinhos/BA 11,870 35,02 197,1 2,950 16,6

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