Million Dollar Highway

Durango(CO) – Grand Junction (CO) – 27 de junho

Após uma noite mal dormida, a ansiedade causada por um novo desafio me tirou da cama mais cedo do que de costume. Levantei-me e, após um banho demorado para ajudar no despertar, começei a me preparar cuidadosamente: segunda pele, jaqueta de couro, chaparreira, meia elástica para ajudar na circulação, água, banana, cachecol, luvas fechadas (que odeio), Helô abastecida e lá fomos nós para nossa viagem de moto.

Hoje é o dia de conhecer e duelar com uma das 15 melhores rotas de motocicleta dos Estados Unidos, a Route 550, mais conhecida como “Million Dollar Highway”.

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A história começou 2 ou 3 dias atrás quando, trocando idéias sobre viagens de moto, o Carlos Schaeffer enviou-me o link de uma reportagem onde a AMA (American Motorcycle Association), a partir de uma pesquisa com mais de 250.000 motociclistas, elencou as 15 melhores rotas para motocicletas nos USA: http://toprider.org

Mais que depressa fui conferir e vi que uma delas, a chamada “Million Dollar Highway”, estava pertinho de mim, logo ali ao lado de Dodge City, mais precisamente ligando Durango a Ouray num percurso de 70 milhas. Confesso que nunca tinha ouvido falar dessa rota e fui averiguar no “GUGOL”. Na realidade a estrada é a US Route 550 e a origem desse nome tem diversas versões, uma delas é pelo fato de ligar duas cidades, Ouray e Silverston, com mina de ouro uma e de prata a outra. Portanto, minha opção por Durango, pouco teve a ver com saúde financeira e muito mais pela curiosidade de comprovar se a “Million Dollar Highway” merecia estar numa lista como essa. A resposta é: merece…. e com louvor !

Viagem de moto pelos Estados Unidos

Meus amigos, foi uma experiência e tanto. São cerca de 110 km atravessando 2 “pass” a mais de 3.000 metros de altitude, com pista única de mão dupla, pouquíssimos locais para acostamento, curvas em cotovelo e SEM guard-rails !

As primeiras 25 milhas, apesar de um visual lindo, não tinha nada que estimulasse a adrenalina, mas a partir do momento em que a brincadeira começou ….. haja coração, concentração e juízo.

Viagem de moto pelos Estados Unidos

O trecho de Durango a Silverton já é um verdadeiro espetáculo, atravessando a San Juan National Forest serpenteando pelas laterais das montanhas San Juan. À medida que subíamos, a temperatura caia uma barbaridade. Em alguns trechos chegamos aos 3.500 m de altitude e os três cateterismos não davam sinal de querer me sacanear. O cimo das montanhas ainda com sinais de neve, a estrada sinuosa, bem sinalizada porém com poucos guard-rails era um convite irrecusável para um bailado ajuizado com a parceira de tantas aventuras. Um verdadeiro “pas de deux” (seja lá o que signifique).

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Sempre que eu encontrava algum recuo, por mínimo que fosse, parava e fazia as fotos (vocês não me perdoariam se não as fizesse).

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Nas fotos a seguir a pequena cidade de Silverton, que delimita o primeiro trecho da “Million Dollar”. Nos idos do século 19 Silverton tinha na exploração de minas de prata a base de sua economia. Com a exaustão das minas veio a decadência, mas logo descobriram o substituto para a prata: o turismo. Hoje, todas as pequenas cidades daquela região são procuradas por turistas do mundo inteiro, tanto no inverno quanto no verão. As cidades, embora pequenas, ainda guardam traços da época áurea da extração de prata e de ouro na forma de prédios cuidadosamente preservados.

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Saindo de Silverton pegamos o trecho conhecido como “San Juan Skyway” e é o mais difícil tal a quantidade de curvas fechadas, em subida e em descidas, o constante perigo de pedras caindo na pista, a crônica falta de guard-rails e o trânsito intenso em feriados e finais de semana.

A primeira foto mostra uma proteção de concreto formando uma espécie de tunel para os veículos como se fora a continuação da montanha pois naquele trecho as pedras não param de cair. Acho que com a não colocação de guard-rails ao longo da estrada os gringos conseguiram evitar o excesso de velocidade, pois se o cara errar ele sai da estrada e provavelmente da vida.

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A pilotagem tem que ser muito cuidadosa e o uso do “freio motor” é fundamental. As curvas são tão acentuadas que mesmo em 2ª marcha, com você fechando todo o acelerador, a moto às vezes está em uma velocidade acima da ideal para aquela curva. Nesses casos, jamais reduza para a 1ª marcha pois o risco dela não entrar vai deixá-lo no pior dos mundos: em neutro, com velocidade, sem tração e numa curva. Nesses casos o ideal é manter a moto em 2ª marcha e usar a técnica da polícia americana para manobras em baixa velocidade. Lembre-se de que nas baixas velocidades (abaixo de 25 milhas) é perfeitamente possível usar a técnica em 2ª marcha. Era o que eu fazia e praticamente não usei os freios. Mas isso é coisa de velho coxinha que se cuida para não dar trabalho ao “Resgate”. E foi assim, com muito juizo e sem presepadas que cheguei à linda cidade de Ouray.

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Após a parada em Ouray segui em frente pois os poucos hotéis com vagas eram caríssimos. Tentei em Montrose, mais à frente, e foi a mesma coisa. Acabei reservando em Grand Junction a 100 milhas de Ouray. Tudo bem, o hotel está dentro do meu orçamento e tem um Curral d’Ouro (Golden Corral) ao lado, onde geralmente como bem e barato. O negócio é seguir em frente e aguardar o que o destino nos reserva. Em não sendo casamento o resto eu encaro!

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E foi assim que resolvi almoçar em Delta, uma pequena cidade a 30 milhas de meu destino. Aproveitei umas dicas de meu amigo Neto, descobri um restaurante italiano perto e coloquei-o como novo destino, acontece que o GPS está um tanto desatualizado, entrei na rua que ele indicou, mas vi lá na frente carros estacionados. Tinham fechado a rua, já ia voltar quando vi aquele monte de traseiras lindas, irresistíveis mesmo (tipo Sabrina Sato).

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Pronto, hoje eu não almoço, mas vou me entupir de ferro-velho. Coisa de louco.

Fiquei tão empolgado que permaneci por mais um dia em Grand Junction, para curtir com mais calma os calhambeques, e em especial para amadurecer a idéia de conhecer as restantes “melhores rotas para motos dos USA”, visto que até agora só tinha cruzado duas: a “Million Dollar” e o “Tail of the Dragon”. Verdade que faltavam 13, meu número da sorte, mas isso não me assustava. Não naquele momento.

Analisei mapas, possibilidades, eventos, conta bancária (quase que infarto, acho que vou entrar em “default”), mas achei que ir até a California passando por Las Vegas para recuperar o prejuízo na roleta seria uma ótima pedida. Em primeiro lugar fecharia mais um “coast to coast” e seria um ponto de partida para montar o roteiro que passaria pelas outras 13 “melhores rotas”. Um plano perfeito.

Fui dormir com isso decidido em caráter irrevogável. Mas a noite é o momento em que temores e neuras vêm a tona e após uma titânica luta interior confesso que amarelei. Pensei nos cateterismos, na arritmia que vez por outra fazia disparar a “bomba”, na distancia de casa, na insensatez da ideia e fiz como aquele político famoso: revoguei o irrevogável. Fiquei meio envergonhado com isso, mas acabei dormindo.


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