7º dia – Laguna Colorada – Susques

Não recordo a hora que acordamos, mas quando saímos do alojamento, éramos os únicos que ainda estavam ali.

Tiramos a lona que cobria as motos e as colocamos no sol.

Começamos a arrumar as bagagens, quando eu senti a necessidade de ir ao banheiro. Aproveitei para tomar um banho.

Ainda estava frio e o banho era um jato de água fria, seguido por um de água quente, foi muito tenso tomar banho desta forma. Até que eu escutei um estouro, seguido de uma barulho de pressão. Me enrolei na toalha e sai rapidamente. Acreditei ser barulho de vazamento de gás (do aquecedor). Ainda bem que não era, foi apenas um cano de água que estourou, mas já era o fim do meu banho.

Tomamos café com leite e panquecas e seguimos caminho.

Logo no inicio, a estrada era boa, até chegarmos aos gêiseres, onde um descuido na navegação me fez seguir reto em vez de pegar à esquerda. Nos gêiseres, achei mais interessante um buraco de onde saia uma pressão muito forte e provavelmente quente, mas o cheiro naquela região não é nada agradável.

Estávamos então a quase 5000 m de altitude, mas estávamos nos sentindo bem, pois há dias já estávamos viajando em altitudes elevadas. Fui seguindo pelo caminho errado, até encontrar um rastro em uma subida muito íngreme. Ali, com certeza, não conseguiríamos subir, era uma duna de areia e pedras grandes.

Olhei no GPS e verifiquei que estávamos longe da linha que tínhamos que seguir. Imaginei um atalho para não ter que voltar até os Gêiseres. Acontece que o caminho era de areia grossa, pesada e profunda em uma leve subida, o que tornava tudo ainda mais difícil. Por 4 vezes íamos e voltávamos por caminhos que não tinha saída, até que, em uma subida, onde meu filho foi e teve que empurrar a moto na areia para não encalhar, avistei funcionários de uma empresa que está canalizando o calor dos gêiseres para transformar em energia. Acontece que tinha um cano de umas 15 polegadas em nosso caminho para todo lado que olhássemos. Estávamos cansados, imagina fazer força a 5000 metros? Parei de frente a uma rampa de aterro, com uns 55 graus de elevação e uns 2,5 metros de altura, segui a pé e conversei com o responsável. Ele disse – “Ou você volta 5 km ou sobe o barranco e dá a volta”. Exatamente onde nós estávamos conversando e havia um trecho do cano desconectado.

Viagem de Moto pela Bolívia

Voltei, falei pro meu filho, que recuou a moto e, sem pensar muito, subiu o barranco, eu estava mais apreensivo que ele, achei que não ia dar pra subir. Arrancar na areia, se equilibrar e ter que subir uma rampa íngreme com uma moto pesando 350 kg ! Mas deu tudo certo e logo estávamos novamente na estrada, que por sinal parecia uma estrada principal.

Deve haver algum tipo de exploração mineral por ali, pois vimos grandes caminhões e a estrada estava em muito boas condições. Mas isso até chegarmos à Laguna Salada. Ali começou um areal sem fim, muito fundo. Fui levando, tentando andar devagar, mas não tinha jeito, tinha que andar um pouco mais rápido, até que chegou a minha vez: CHÃO! Foi foda, fiquei com o pé preso, em uma posição que forçava meu joelho. Meu filho não conseguia parar sua moto, pois o terreno afundava o descanso lateral, acabou que consegui tirar o pé sozinho, com um pouco de jeito e calma. Fiquei de costas para a moto e levantei ela do chão. Estava tudo bem, não foi nada.

Mas voltar a pilotar naquela condição e agora, mais tenso ainda, não foi uma tarefa fácil.

Tive que colocar minha cabeça para trabalhar. Recordei vários momentos de quando eu estava pilotando na areia (no passado), e parei para trocar uma ideia com meu filho. A técnica teria que ser seguida à risca. Em pé, corpo para trás, velocidade entre 60 e 80 km/h e motor cheio.

É muito tenso pilotar nestas condições, mas era preciso, ou não conseguiríamos vencer este trecho imenso de areia. É cansativo pilotar em pé, mas bastava sentar e diminuir a velocidade que a moto começava a dançar e a perder o controle.

Seguimos dessa forma até avistarmos a Laguna Verde, onde a estrada voltou a melhorar.

Um carro fez sinal e paramos. Nos perguntou se havia movimento em cancelas e impedimento de passagem em algum lugar. Me pareceu que havia algo de errado com eles…

Avistamos a saída da Reserva, mas parecia que nunca chegávamos lá.

Havia uma cancela e um guarda parque nos informou que teríamos que pagar 150 bolivianos para entrar no Parque, dei risada, e falei: – “nós entramos no parque ontem, aqui é a saída.”

Não teve jeito, entramos nos escritório, ele nos mostrou um oficio e pagamos 150 bolivianos cada um.

Ao sair, ele perguntou se havíamos feito os tramites migratórios de saída em Uyuni. Eu respondi que não. Então, ele nos informou que a vários dias não havia ninguém trabalhando no Paso Hito Cajon, fronteira com o Chile. Não tínhamos escolha, não havia combustível para voltar 500 km até Uyuni. Decidi que seguiríamos desta forma, sem fazer o trâmite de saída. Apenas fiquei pensando se haveria algum impedimento de entrada na Argentina por conta disso.

Passamos pelo escritório onde fica a migração, tudo estava fechado. Logo, alcançamos o asfalto. À direita, mais 50 km e estaríamos em San Pedro de Atacama. À esquerda seguiríamos para o Paso Jama na Argentina. A escolha era seguir o combinado e começar a travessia pela Argentina.

Viagem de Moto pela Bolívia

Seguimos subindo pelo asfalto. Queríamos logo chegar à Aduana Argentina, pois depois da Aduana tem um posto YPF, para fazermos um lanche.

Não haviam pessoas fazendo os trâmites e tudo foi rápido. Conversei um pouco com os agentes que fazem a revista com cães e, quando fui buscar a moto para ele verificar, ele nem falou nada, só fez sinal para passar direto.

No posto, encontrei com um casal da cidade de Ponta Grossa/PR, cidade a 100 km de onde eu vivo. Estavam seguindo de carro para o Atacama. Conversamos e logo chegaram dois motociclistas de VStrom de Cascavel/PR. Pessoal bacana, trocamos algumas ideias e eles seguiram caminho.

Meu filho foi visitar o banheiro e eu queria comer alguma coisa. Dentro do posto não havia ninguém. Comecei a olhar as coisas, quando uma moça entrou com uniforme da YPF vindo em minha direção. Perguntei para ela se eu poderia pegar as medias lunas e ela simplesmente me ignorou e não me respondeu. Fui até ela e a contestei. Falei – “moça, eu te fiz uma pergunta, e você não me respondeu, você tem algum problema?” Ela, sem me olhar, falou – “Pegue o que quiser.” Peguei as medias lunas e pedi um café. Enquanto ela fazia meu café, uma senhora entrou e fez a mesma pergunta pra ela, ela virou de costas e agiu como se ninguém estivesse falando com ela. Muito mal educada, pensei em reclamar, mas pensei em vários motivos que poderiam estar acontecendo com ela para estar agindo desta maneira.

Na saída, ainda encontramos com duas famílias em carro de Almirante Tamandaré/PR. Parecia que todo estado do Paraná estava viajando pela Argentina.

Seguimos rumo a Susques, vendo a bela paisagem do Paso Jama.

Antes um pouco de Susques, tem um posto à direita e um hotel com restaurante, se chama Pastos Chicos. Nos hospedamos ali, onde tínhamos tudo que precisaríamos. Hospedagem 350 Pesos Argentinos.

Mais uma etapa vencida. Agora, descansar que amanhã começará outra etapa da viagem, passar por Abra del Acay a 5.000 m de altitude.

{gallery}0213/robson/07{/gallery}

Saída: Laguna Colorada, Bolívia
Destino: Susques, Argentina
Km percorrida: 350 km
Km acumulada: 3.350 km


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *