11º dia – Copiapó – Villa Union

Acordamos bem antes do horário do café da manhã. Café tomado ao estilo chileno, com café instantâneo, leite em pó, pão com margarina ou geleia em potes bem pequenos, um suco, iogurte e uma barra tipo wafers. Que saudades daqueles cafés da manhã estilo buffet, servidos em alguns hotéis do Brasil. Para nós, o café da manhã era uma refeição muito importante, pois a próxima poderia acontecer doze ou mais horas depois.

Estranho como nos acostumamos rapidamente a ficar sem alimentação por longos períodos. Às vezes, uma barra de proteínas ou de cereais ajudava a quebrar o jejum, salvo alguns dias que, antecipadamente, comprávamos bolachas e alguns sucos ou bebidas à base de leite.

As motos ficaram bem próximas ao salão onde iria ser servido o café. Equipamentos colocados e bagagens arrumadas, saímos do hotel por volta da 8 horas. Já havia um grande movimento de carros nas ruas da cidade. Colocamos no GPS a rota para a cidade de Villa Union na Argentina, para seguirmos pelo Paso Pircas Negras.

Passamos por Terra Amarilla e depois entramos para a esquerda, em uma estrada de terra bem compactada.

Chegamos a aduna chilena e todos estavam sentados conversando do lado de fora do escritório. Ali mesmo começamos a conversar com os funcionários e fomos entrando para fazer os trâmites. Uma equipe bem animada, que rapidamente carimbou nosso passaporte e anotou os dados das motos. Um soldado já nos esperava na porta para que o acompanhássemos até outra sala para a anotação de mais alguns dados.

Logo já estávamos seguindo novamente o caminho para a Argentina. A partir deste ponto, a estrada começava com uma forte subida com muitas curvas. Em uma dela, parei para fotos e meu filho continuou.

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Em uma curva, vi um atalho que cortava muitas curvas, mas de baixo não parecia que era tão forte. Comecei a subida e tive que acelerar forte, pois além da grande inclinação, tinha muitos pequenos degraus no solo, que faziam a moto perder a aderência. Ainda bem que a Sertão tem muito torque em baixa rotação. No final da subida, vi meu filho vindo pela estrada à minha esquerda e, à direita, uma camionete parada com quatro homens fazendo um lanche. Eles se assustaram com minha súbita chegada. Parei bem próximo a eles, que me ofereceram um café e começaram a falar que, se eu estava indo para Pircas Negras, tomar cuidado com possíveis mudanças no clima e etc. No final, um deles falou: “Cuidado com a Cordilheira, ela pode ser perigosa!”.

E realmente é perigosa, se não respeitarmos nossos limites.

Depois deste encontro, a estrada passou para uma descida sem fim. Do meio dela, avistamos uma longa reta. Lembrei-me de um filme que se passava em Marte, o terreno era todo de um marrom avermelhado, de uma beleza ímpar.

Havíamos subido, descido, atravessado um longo traço de terreno plano e, de novo, estávamos em outra sequencia de curvas e subindo. No fim da subida era a fronteira entre Chile e Argentina.

Bem no topo da montanha, paramos para algumas fotos. Algumas crianças que estavam com seus pais se aproximaram e tiramos algumas fotos delas em nossas motos.

Seguíamos agora em solo argentino, até que vimos uma ponte sobre um riacho de águas limpas e geladas, um ótimo lugar para nosso almoço.

Terminado o lanche, tomamos nosso rumo, até chegar à Laguna Brava, uma lagoa que deve ser de água salgada, pois tinha a aparência de um salar. Logo após a passagem da Laguna, o GPS insistiu em mandar-nos virar para a direita. Eu pensei que ele estava errado, porque sair daquele asfalto?

Mais à frente o asfalto estava interditado e fomos obrigados a seguir a rota sugerida pelo GPS. Uma estrada bem interessante, sem pavimento, com subidas e descidas súbitas, daquelas que dão a impressão que a moto vai decolar.

Viramos à esquerda novamente para um longa reta, até começarmos uma longa descida para um Cânion. Seguimos pelo interior dele por muitos quilômetros. Neste trecho, haviam muitos carros parados visitando o local.

Muito tempo depois, chegamos novamente ao asfalto, um asfalto com longas retas. Não lembro ao certo porque parei, acredito que talvez para tomar água. Na saída, minha moto não quis dar partida. Funcionava o motor de arranque, mas parecia que não havia combustível. Pelo meu odômetro, tinha ao menos meio tanque. Desliguei a chave, religuei e nova tentativa frustrada. Comecei a pensar o que poderia negar a partida: “sensores” desci da moto e deitei embaixo dela para ver o sensor do descanso lateral. Não sabia como este sensor, que tem sua parte superior emborrachado, era preso na moto, mas estava solto, peguei meu canivete, cutuquei a peça e escutei o barulho do acionamento da bomba. Como a moto estava com a primeira marcha engatada, quando tentei ligar o sensor cortou a ligação da bomba, passando a informação que o descanso lateral estava acionado.

A sensação de ter a partida negada, naquele lugar, a centenas de quilômetros da cidade mais próxima, ainda mais com o calor que naquele momento sentíamos, foi muito tenso.

Antes ainda de chegarmos à cidade de Vinchina, mais uma vez, a estrada se tornou sem pavimento, seguindo um rio cheio de curvas.

Passamos por uma blitz no meio do nada. Fomos parados e tivemos que esperar um oficial conferir os documentos de uma carro que havia chegado antes. O oficial veio até nós, nos olhou, falou que a Aduana ficava na cidade de Vinchina e nos liberou. Não entendi nada, foi bem engraçado, eu acho que deu um branco na cabeça dele !

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A aduana ficava em um rua para a direita, bem pra dentro da pequena Vinchina, em uma espécie de casa / quartel dos Gendarme. Logo que paramos, um soldado nos atendeu e ligou para o funcionário que faria os trâmites, que deve ter demorado uns 40 minutos para chegar ali, em uma cidade de umas 10 quadras…

Enquanto esperávamos, chegou a camionete que estava na nossa frente na blitz, um casal de alemães que tinham por volta de 65 anos. Conversamos muito e eles conheciam tudo na Argentina, incluindo esta região. Eles nos contaram que iriam viajar por 40 dias.

O senhor da Aduana/migração chegou, copiou nossos dados em um caderno, carimbou os passaportes e nos liberou rapidamente.

Ainda tínhamos que percorrer cerca de 80 km até Villa Union e a tarde estava muito quente, o vento era quente.

Chegamos à cidade e notamos que haviam muitos jovens caminhando na rua, depois fui entender o porquê. Não tínhamos nenhum peso argentino, fui a um caixa eletrônico do Banco de LA Nacion tentar sacar dinheiro com meu cartão pré pago e deu certo, tentei com meu cartão de debito do banco HSBC e também deu certo. Consegui sacar 1000 pesos argentinos. Agora tinha que procurar hotel, mas ou estavam lotados ou eram caros. Em um dos hotéis, encontrei com três motociclistas com uma Ténéré 660, uma Triumphy 800 estilo F800GS e outra moto que não tem aqui no Brasil, de 650cc, mas do tamanho de uma Falcon.

Pessoal estranho, não sei, acho que faltava um pouco de humildade. Desde 2007 viajo com minha família de carro pela América do Sul, fiz dois anos de espanhol com minha vizinha que é Argentina, tenho um bom conhecimento de gramática e vocabulário. Nunca tive problemas para me comunicar falando espanhol e o cara me diz que eu não sei falar espanhol !

Até perdi a vontade de ficar no mesmo hotel que eles, mas foi bom, acabei achando uma cabana em um lugar bem sossegado por 180 pesos. Bem sossegado até eu descobrir que a 500 metros dali haveria uma Reave até às 10 horas da manhã. Era por este motivo que a cidade estava com tanta gente andando pelas ruas.

Tomamos banho e saímos para comprar nossa janta e o café da manhã e também procurar um farmácia, pois minha alergia tinha evoluído muito, haviam manchas que lembravam a picadas em minhas pernas e braços.

Andamos umas 10 quadras para chegar ao mercado, enfrentamos uma longa fila para comprar pães e nova palavra adicionada ao vocabulário, descobri que pão francês na Argentina é pan francês! Depois de mais um longa fila para o caixa, fomos à farmácia, comprei um Decadron, um antialérgico a base de corticoide.

Jantamos pães com presunto e queijo e depois fizemos uma sopa instantânea, ideia do meu filho tomar uma sopa com aquele calor. Para melhorar a sensação de calor, o ar condicionador não funcionava e, por causa de uma chuva intensa, não podíamos abrir a janela! É pra acabar mesmo.

Deitamos e dormimos por muito pouco tempo, pois parecia que o palco era dentro da cabana.

E meu filho também estava com medo das aranhas, onde ele mexia achava uma maior que a outra, rs…

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Saída: Copiapó, Chile
Destino: Villa Union, Argentina
Km percorrida: 460 km
Km acumulada: 5.220 km


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