18º dia – Sarchu – Keylong

Foi uma noite terrível, não só pelo desconforto do lugar e o frio intenso, mas principalmente pelo incômodo que as dores no ombro causavam. Tive dúvidas inclusive se conseguiria continuar viagem e também se valia a pena. Ainda tinha muitos quilômetros para percorrer, alguns deles por estradas complicadas.

Para aumentar minha dificuldade para dormir, por volta da meia noite chegou um caminhão com trabalhadores da estrada e estacionou em frente ao dhaba. O motorista e mais um desceram e foram dormir nas camas do quarto comunitário, e vários trabalhadores ficaram na carroceria, enrolados em cobertores e não paravam de falar. Tive que sair para fora e gritar para que eles calassem a boca.

Finalmente amanheceu. Enquanto rolava na cama, cheguei à conclusão que não valia a pena ficar naquele lugar esperando as dores diminuírem, então decidi seguir viagem e ver como sentiria na estrada. Estava cansado, mas achei que seguindo devagar os riscos seriam menores e se os sono apertasse, armava a barraca em algum lugar e descansaria o tempo que fosse preciso.

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O banco da moto, que ficou em frente ao barraco onde dormi, estava completamente branco de gelo. Saí de Sarchu às 7h30. A estrada continuava muito ruim, com cascalho espalhado na terra e muitos buracos, que me faziam sentir dor em cada solavanco da moto. O frio era intenso e em vários trechos tinha neve ao lado da estrada. Os dedos estavam congelando, mesmo com as luvas de segunda pele debaixo das luvas térmicas. Por volta das 9h eu tinha percorrido apenas 30 km sem ter parado uma única vez.

Viagem de moto pelo Himalaia

Alguns quilômetros depois, cheguei a um trecho onde tinha asfalto e consegui andar mais rápido, apesar de muitas irregularidades na pista, mas o asfalto durou apenas 10 km.

Mesmo passando por lugares muito bonitos, não animei descer da moto para tirar fotos. Foram pouquíssimas durante o dia. Só parei onde era obrigado, como em um trecho onde tive que passar sobre um grande volume de água de uma cachoeira que atravessava a estrada e parei para avaliar como fazer para passar.

Cheguei à passagem de montanha BarachaLa, a 4.890 metros de altitude. Parei para fazer xixi e beber água, mas o frio não me deixou ficar pouco tempo no lugar. A estrada começou a descer a montanha e a temperatura ficou menos incômoda. Mesmo assim, as pontas dos dedos doíam por causa do frio. Mais tarde, quando cheguei ao hotel em Keylong, os dois dedos indicadores estavam com parte da pele preta e com rachaduras.

Seguia com o máximo de cuidado. As costas e o ombro doíam sempre que passava por um buraco.

Passei por um pequeno riacho onde a superfície da água estava congelada, mas não parei. Segui em frente. Voltou a encontrar asfalto, mas vários trechos estava destruídos por causa de avalanches, deslizamentos de terra e passagem de água do degelo. Tive que passar por vários trechos com água corrente atravessando a estrada, com fundos cheios de grandes pedras redondas, que tornavam a travessia muito complicada e dolorida.

Viagem de moto pelo Himalaia

Cheguei ao povoado de Darcha, onde tive que parar e apresentar documentos em um posto de controle. Menos de um quilômetro depois, novo posto de controle, onde tive que parar novamente e apresentar os documentos.

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Cheguei a Keylong por volta do meio dia. Pensei que poderia prosseguir e chegar a Manali, mas desisti por causa das dores. Fui para o mesmo hotel onde tinha ficado na ida para Ladakh e peguei o mesmo quarto que tinha ocupado da primeira vez.

Precisava consertar o suporte da bagagem e o protetor de motor, então fui procurar uma serralheria, que encontrei na estrada. Paguei pouco mais de 3 dólares pelo bom serviço feito pelo serralheiro. Perto havia uma oficina e aproveitei para trocar o óleo do motor, checar a tensão da corrente, limpar a vela e o filtro de ar e ajustar os freios. Todo o serviço do mecânico, que durou quase duas horas, ficou por apenas 8 dólares. Era a primeira vez que fazia qualquer manutenção na Royal Enfield desde o início da viagem, depois de mais de 2 mil quilômetros percorridos, na maioria por estradas muito precárias.

A internet do hotel estava muito ruim quando cheguei, mas mais tarde melhorou e consegui publicar algumas fotos e vídeos no Facebook e falar com a família. Isso renovou meu ânimo e decidi prosseguir viagem no dia seguinte.


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