17º dia – Leh – Sarchu

Apesar de ainda ter muitos dias de viagem pela frente e muito para ver e conhecer, a sensação era de fim de viagem, porque nesse dia eu iniciaria o retorno para o sul e deixaria definitivamente a região de Ladakh. Tinha pela frente um dos trechos mais conhecidos e difíceis do Himalaia. Seriam três dias para percorrer os 480 km que me separavam da cidade de Manali.

Quando acordei, encontrei uma grande mancha de sangue sobre o travesseiro, que tinha escorrido do meu nariz. A maioria dos efeitos da altitude sobre o corpo humano não são perceptíveis, mas o sangramento do nariz é um dos mais frequentes. Desde que comecei a percorrer as montanhas, sempre encontrava um pouco de sangue no nariz quando ia fazer a higiene, mas nessa noite saiu muito, o que me assustou. Junto com a falta de contato com a família, me deu um baixo astral danado.

Mas continuei com o planejado e segui meu caminho.

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Saí do hotel pouco antes das 8h30. Tinha percorrido a estrada próxima a Leh mais de uma vez e não tinha parado para conhecer os palácios e monastérios budistas que ficam próximos dela. Desta vez eu parei para tirar algumas fotos da fachada do Palácio de Shey e de vários stupas, inclusive de um grande número e variedade deles que estão em um terreno em Thiksey. Também tirei várias fotos do Monastério de Thiksey.

Viagem de moto pelo Himalaia - Ladakh

Mais uma vez encontrei um grande comboio de caminhões do exército, que me atrapalharam tirar fotos de um trecho da estrada muito bonito onde as árvores estavam com as folhas amareladas.

A estrada estava muito boa e com asfalto novo, mas as muitas curvas não deixavam a viagem render. Por volta das 10h parei em um dhaba numa vila chamada Lato para comprar água mineral, mas não tinha à venda. Segui em frente e na cidade de Runtse encontrei vários dhabas à beira da estrada. Parei em um deles e comprei uma garrafa de água, mas acabei pagando mais caro porque a dona do lugar não tinha troco.

Na medida em que subia a altitude, baixava a temperatura e a moto perdia potência. Nas subidas, não conseguia ultrapassar os 50 km/h.

A armação da bagagem quebrou em um ponto de solda e eu usei um arame para segurar até encontrar um lugar onde soldar.

Viagem de moto pelo Himalaia - Ladakh

Cheguei ao Taglang La (5.328 metros de altitude) por volta do meio dia. Era a quarta vez que passava pelo lugar. Dessa vez o vento soprava com maior intensidade, fazendo com que a sensação térmica fosse ainda mais baixa. Encontrei dois indianos que estavam de carro e eram de Amritsar, a cidade que pretendia visitar dali há alguns dias.

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Antes da vila de Debring, peguei um vento muito forte que trazia areia para a pista. Fiquei com receio de passar pela nuvem de areia, mas segui em frente e não tive problemas. Parei em um dhaba para fazer um lanche e encontrei um caminhoneiro que era muito parecido com o ator Jack Chan. Eram 13 horas. O dhaba era como os demais que conheci, muito simples e com camas para os viajantes que são pegos à noite nas montanhas poderem se abrigar do frio e pernoitar. A higiene também é precária, como pode ser visto em uma foto que tirei da mulher fazendo meu lanche.

Viagem de moto pelo Himalaia - Ladakh

O vento continuava forte e em alguns momentos era contrário à direção que eu seguia, exigindo muito esforço da moto e meu também. Cheguei a Pang, onde alguns dias antes peguei muita neve. Dessa vez o céu estava limpo, mas o frio era tão intenso quanto antes. Ainda era cedo, 2h30, então resolvi seguir para Sarchu, 60 km à frente.

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Foram os 60 km mais sofridos de toda a viagem. A estrada estava horrorosa, com cascalho solto, poeira, vento forte e pedras espalhadas pela estrada, que junto com a areia, faziam a traseira da moto dançar e a frente sair da trilha, quase me fazendo cair. Cheguei a parar para ver se o pneu estava furado, devido à instabilidade que a moto estava. O frio era tão intenso que passei por uma pequena cachoeira completamente congelada.

Passei por KangLa (4.878 metros), LachungLa (5.065 metros) e NakeeLa (4.739 metros de altitude), passagens de montanha muito próximos um do outro. Em todas elas a falta de oxigênio exigiu muito do meu corpo.

43 km antes de Sarchu, eu descia a encosta de uma montanha. Tinha mais de duas horas que não encontrava com ninguém na estrada, nem mesmo um único veículo. Estava fazendo uma curva com 180º em descida quando me deparei com uma pick up vindo no sentido contrário. Estava distraído. A estrada estreita não permitia que passássemos ao mesmo tempo. Assustei com o carro e a situação e freei. A roda da frente derrapou na areia e eu caí, batendo o ombro com força no chão e arrastando estrada abaixo por alguns metros. Levantei apressado e vi que vazava gasolina do tanque da moto. Corri e levantei-a. O motorista veio me ajudar a colocar a moto na beira do precipício, para liberar a estrada. Ele não falava inglês, mas com sinais lhe fiz entender que estava tudo bem. Ele parecia mais assustado que eu. Correu para o carro e sumiu o mais rápido que pôde. Inspecionei a moto e constatei que o protetor de motor tinha quebrado e o punho, alavanca do freio e espelho direito estavam arranhados. A bolsa lateral teve um pequeno rasgo na parte de baixo. Eu não tive um único arranhão porque a roupa me protegeu, mas o ombro começou a doer intensamente. Assim como as costas. Não conseguia levantar o braço direito.

Viagem de moto pelo Himalaia - Ladakh

Com dificuldade, montei na moto e segui em frente. Foi um sofrimento. Cada buraco que passava era como se martelassem a parte dolorida. Pouco depois cheguei ao gata Loops, um trecho onde a estrada percorre a encosta de uma montanha, fazendo 21 voltas sucessivas em zigue zague. Não tive nem vontade de apreciar o lugar.

Apareceu finalmente um trecho com asfalto, mas todo irregular, fazendo com que a moto pulasse e me fizesse sentir dor. Encontrei um lindo lobo do Himalaia passeando sobre a pista. Parei longe e tirei uma foto. A única na estrada depois do acidente.

às 5h30 da tarde cheguei finalmente a Sarchu. Procurei um lugar para pernoitar, mas era tudo muito precário. A vila tem cerca de vinte dhabas, todos feitos com paredes de zinco. No interior, as camas lado a lado cobertas com tapetes sujos. Encontrei um “quarto” individual onde poderia ter mais privacidade. O banheiro era uma fossa com um barril cheio de água, onde o usuário poderia se limpar. Foi a pior noite da viagem, com frio, dores no corpo e nenhum conforto.

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