19º e 20º dias – de Santa Bárbara a Cúcuta

Quando saí do hotel faltava mais de uma hora para amanhecer. O farol da moto iluminava bem a estrada, mas precisava de muita atenção por causa dos buracos que apareciam a cada curva. Ainda não tinha amanhecido e os postos de combustível já tinham longas filas de carros, caminhonetes e caminhões.

Quando amanheceu eu parei por alguns minutos na beira da estrada para tirar algumas fotos do sol que começava a aparecer no horizonte. Pouco depois uma neblina espessa e seca cobriu uma parte do trajeto.

Quando o dia clareou definitivamente eu já tinha rodado uma boa distância. A gasolina que tinha era suficiente para atravessar a fronteira, mas eu queria tentar colocar mais um pouco para ter segurança para chegar do outro lado.

Passava por uma vila e vi um rapaz com uma moto. Resolvi perguntar se ele sabia onde poderia comprar alguns litros de gasolina. Ele apontou para uma casa cerca de 100 metros de distância, onde havia em frente um carro parado e algumas pessoas conversando. Fui lá e o pessoal, desconfiado, disse que não tinha gasolina ali e apontaram para a frente. O rapaz da moto chegou e conversou algo com um deles, que olhou para mim e chamou para entrar para o quintal da casa. Perguntou quantos litros eu queria e eu respondi três. Ele entrou e voltou alguns minutos depois com um galão com três litros de gasolina e um funil. Colocamos na moto e perguntei quanto era. Ele não queria cobrar. Dei a ele $10 soberanos, um adesivo e agradeci muito pela ajuda.

Segui viagem, desviando dos buracos, dos carros e caminhões, que agora de dia apareciam com maior frequência.

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Os postos de controle das forças de segurança venezuelana também eram frequentes. Quebra molas, moças no meio da estrada vendendo comida e mais buracos na estrada, que tinha mais curvas e percorria uma região de montanhas cobertas por florestas. Estava agora na Cordilheira dos Andes.

Um trecho da estrada que passava ao lado de um rio estava totalmente destruído. A passagem pela terra esburacada foi difícil. Parei para tirar fotos e acompanhar os veículos passarem devagar e tentando desviar dos buracos.

Ao passar por San Cristóbal, vi um posto abastecendo os veículos que formavam uma longa fila. Um policial controlava a entrada dos carros. Parei perto e pedi para entrar no posto, mas ele respondeu que não estavam abastecendo motos. Falei que era turista e precisava de gasolina para continuar viagem. Ele perguntou se eu tinha chip e respondi que não (o governo está implantando no país um sistema de controle do abastecimento que vai limitar a quantidade de combustível pela população). Ele disse que só poderia entrar com chip. Um cara veio, intercedeu por mim junto ao policial e eu finalmente entrei no posto. Coloquei a moto entre as filas de carros. Outro policial veio me mandar sair, mas o frentista, vendo a cena, gritou que ia abastecer, trouxe o bico da bomba até a moto e encheu o tanque. Perguntei quanto era e ele respondeu que não precisava pagar. Agradeci.

Parei na lanchonete do posto, a única que vi no país até aquele momento que parecia com as que encontramos nos postos de combustível do Brasil, com lanches, bebidas e boa aparência.

Comi um salgado de queijo e bebi um Gatorade. Enquanto isto chegou ao local um grupo de motociclistas de San Cristóbal que tinha marcado de encontrar no posto antes de sair para um passeio pela região. Tinham motos grandes, customs e big trails. Confraternizamos e um deles brigou comigo por não ter avisado que passaria pela cidade para que pudessem me receber.

Viagem de moto pela Venezuela 07

Cheguei a Santo Antônio Táchira, a cidade da fronteira. Estrada simples, sem acostamento e sinalização, precisando de manutenção urgente, subia e descia montanhas com muitas curvas. Uma longa fila de carros percorria a estrada lentamente quando não estava parada. Fui ultrapassando os veículos na medida do possível, acompanhando os moto taxistas que levavam passageiros na garupa.

Me pararam em um posto de controle da polícia civil e tive que esperar quase meia hora até me liberarem.

Na fronteira havia uma agitação enorme. Venezuelanos saindo do país em busca de uma vida melhor, principalmente na Colômbia, Equador, Peru e Chile. Vendedores ambulantes, carregadores de malas e muita gente esquisita.

Parei onde havia um bloqueio da Guardia Nacional. Um soldado veio falar comigo. Expliquei que tinha uma autorização do Seniat para sair com a moto do país. Ele disse que ali não poderia, porque a fronteira estava aberta apenas para pessoas passarem a pé. Mostrei o documento e ele foi chamar o superior, que veio de forma arrogante dizer que aquele papel não valia nada, porque o presidente determinou que para a Colômbia não passavam veículos.

Perguntei se poderia conversar com alguém da Seniat e disse que poderia deixar a moto em um estacionamento próximo. Quando entrei no estacionamento, o soldado com quem havia conversado inicialmente me abordou. Levei um susto. Com ele estava um rapaz e me disseram que não adiantava conversar com o Seniat, mas eles podiam me ajudar levando a moto para o outro lado mediante o pagamento de um certo valor. Mas é ilegal, eu falei. Ele respondeu que na Venezuela sim, mas não teria problemas na Colômbia. Poderia obter a permissão para viajar pelo país com facilidade se estivesse com a moto do outro lado. Ponderei, fiz várias perguntas sobre como seria o processo e eles deram todas as justificativas que seria tranquilo e eu teria o apoio de um grupo de soldados da Guardia Nacional. Acertamos o valor e combinamos que eu faria a migração, saindo da Venezuela e depois eles fariam o transporte.

Viagem de moto pela Venezuela

Foram mais de seis horas na fila até receber o carimbo de saída da Venezuela no passaporte. Enquanto isto conversei por muito tempo com os venezuelanos que estavam na fila, provenientes de várias partes do país e som sonhos de vida melhor para o futuro.

O rapaz me levou até uma rua próxima onde estavam o soldado e um colega. Pediu para esperar o chefe deles chegar. Pouco depois chegou um cara com quem conversaram. Chegaram várias outras pessoas que me levaram com a moto até um sítio próximo onde passaram a moto por uma trilha. Era caminho de contrabandistas que carregavam mercadorias de um lado para o outro da fronteira, como uma trilha de formigas.

A história é longa, mas no final ainda me tomaram mais dinheiro e a moto passou para o outro lado da fronteira.

A migração para entrada na Colômbia estava lotada. Me falaram na fila que eu ficaria por ali mais de 4 horas. Resolvi ir para um hotel próximo e voltar no dia seguinte cedo.

E foi o que fiz. Antes das 6h eu estava na fila e cerca de 40 minutos depois estava com o passaporte carimbado. Passei na aduana, mas estava fechado e só abriria na segunda-feira. Era domingo. Disseram que eu tinha que me dirigir a Cúcuta para obter a permissão e não ali. Decidi ir para um hotel em Cúcuta, maior e mais organizada que aquela cidade de fronteira. Reservei um hotel próximo ao escritório da aduana utilizando um aplicativo da internet e mudei para lá.

Passei o dia descansando e andando pela cidade e comi coxinhas de frango com batata frita em um restaurante de comida chinesa bem em frente ao hotel.

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