8º dia – de Oiapoque a Caiena

Passei boa parte da madrugada no banheiro. Não sentia dores, mas era só levantar que dava vontade de voltar para o trono. Nas idas e vindas, observei as atividades noturnas no quarto. Tinha muitos pernilongos, mesmo com o ar condicionado ligado e tive disposição para correr atrás e matar uma barata enorme.

Quando amanheceu eu fui checar o óleo e a água do radiador, calibrar os pneus com o mini-compressor que levo na mala e lubrificar a corrente. Acho que acordei alguns hóspedes do hotel.

Nesse processo, observei que a tampa e as duas porcas de ajuste da corrente tinham caído durante a viagem. Provavelmente foram mal apertadas durante a troca do pneu, em Belém.

Passei em uma loja de peças de motos e eles tinham para reposição, especificadas para outros modelos da Honda, mas serviram perfeitamente. O dono da loja instalou e cobrou apenas R$ 10,00.

Passei na Polícia Federal e perguntei se precisaria dar saída do país e o policial disse que não. Quando fui ao Peru, me exigiram fazer o processo.

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Segui para a fronteira. Uma parada na ponte e na placa de fronteira da Comunidade Europeia para fotos. Depois fui para o complexo aduaneiro onde um agente fez sinal para que eu me dirigisse para uma cabina com cancela. Ele só falava francês, mas consegui fazê-lo entender o propósito da minha viagem. Carimbou o passaporte e me liberou.

Eu ia seguindo para a estrada quando lembrei que precisava fazer a entrada da moto no país. Voltei e um outro agente veio conversar comigo. Perguntei com o meu inglês precário como fazer a entrada da moto e ele respondeu que não precisava, mas tinha que pagar a taxa do seguro. Me indicou o lugar que deveria ir. Um senhor que falava português me disse que a taxa era de 75 Euros. Falei UAU!!! alto e ele e um outro senhor que estava próximo riram. Pediram o dinheiro, passaporte, documento da moto, meu endereço e indicaram uma sala para eu esperar. Demoraram para emitir a Carte Internationale dassurance automobile. Esperei quase meia hora.

Depois de liberado segui para a estrada. Rodei poucos metros e lembrei que não tinha abastecido a moto. Pensei em voltar, porque a gasolina no Brasil é bem mais barata que na França (cerca de 1,65 Euros o litro). Mas achei que poderia causar alguma confusão, então fui para São Jorge do Oiapoque procurar um posto. O mapa do meu GPS mostra as estradas, mas não aparecem os postos de gasolina. Rodei por algumas ruas, observando como é mais organizada que a cidade do outro lado da fronteira. Vi um rapaz numa esquina e parei para perguntar. Era brasileiro. Me disse que o posto ficava na estrada. Onde? Perguntei. Ele respondeu que era só seguir que eu veria

Fui seguindo, apreciando a paisagem, tirando fotos, filmando e nada do posto aparecer.

Diversos trechos da estrada são cercados por árvores enormes dos dois lados e em alguns elas encontram no alto, parecendo túneis. Muito bonito.

Fui parado por uma barreira da Gendarmerie para inspeção. Pediram os documentos e me liberaram. Vi no mapa uma cidade chamada Régina, onde imaginei que encontraria um posto, mas era apenas uma vila. A gasolina não daria para chegar a Caiena. Até então eu vinha curtindo a estrada, acelerando nas retas e deitando nas curvas. Reduzi a velocidade e comecei a controlar o consumo.

Viagem de moto Guiana Francesa

Faltavam cerca de 60 km para Caiena e minhas contas mostravam que eu tinha gasolina para uns 20 km. Passei por um entroncamento onde havia uma placa indicando um posto a 14 km na cidade de Cacao. Agradeci a sorte. Mas não. Tinha uma subida íngreme e na metade do caminho a gasolina acabou. Parei, peguei uma garrafa de água para encher de gasolina e comecei a caminhar. Andei cerca de 50 metros e passaram 3 carros. Fiz sinal com o dedão, mas os três passaram reto e viraram a curva. Pouco depois o último deles voltou de ré. Corri e agradeci. Eram uma moça e um senhor que trabalham na TV francesa e estavam fazendo uma matéria na região. O senhor falava português. Me levaram até o posto, que fica depois da cidade. Mas estava fechado e só abriria às 16h. Passava pouco das 12h. O senhor me perguntou se queria ficar ali, mas sugeriu que retornasse com eles até a cidade para comer alguma coisa em um restaurante. Concordei e quando passávamos em frente a um restaurante bem rústico não muito longe do posto eu disse que esperaria ali. O senhor disse que assim que terminassem a matéria, provavelmente por volta das 16h, voltariam para me pegar e me dariam carona até a moto. Agradeci muito a ajuda.

Pedi um hambúrguer, apesar de não estar com fome. A primeira coisa que comia desde a manhã do dia anterior. Estava bom. Dois senhores conversavam no balcão e resolvi perguntar se algum deles teria gasolina para me vender. Escrevi no aplicativo Translator do celular uma frase, que foi traduzida para o francês, pedi licença e mostrei a eles. Um deles respondeu moi (eu). Ufa!!!

Ele perguntou quanto e eu falei que a garrafa seria suficiente. Enquanto ele foi buscar o combustível, pensei que poderia pegar gasolina suficiente para chegar a Caiena. Fui atrás dele e expliquei que seria melhor se tivesse 2 ½ litros. Ele arrumou um galão, mediu mais ou menos e me entregou. Perguntou qual distância a moto estava e respondi 7 km (toda a conversa em francês, sem o translator). Ele fez uma cara de quem tinha pena de mim. Paguei o valor pedido (5,50 Euros), agradeci e fui para a estrada. Pouco depois ele me gritou chamando. Ia me levar até a moto. Conversamos animadamente durante o trajeto, um entendendo o outro sem falar a mesma língua. Ele esperou eu colocar a gasolina e ligar a moto. Agradeci, devolvi o galão e segui para Caiena.

Fui economizando e cheguei ao primeiro posto. Serviço de autoatendimento. Rapidamente abasteci, paguei e entrei na cidade. Avenidas largas com muitos estabelecimentos comerciais grandes e modernos, lembrando os que existem nos Estados Unidos, grandes áreas de estacionamento na frente, levavam ao centro histórico da cidade onde tinha reservado um quarto em um hotel. Foi o mais barato que achei na internet, mas mesmo assim muito caro: 75 Euros.

Mas o hotel é muito bom, só a internet que é lenta.

Depois de um gostoso banho, saí para uma caminhada pela cidade. Muito interessante, diferente do que imaginava. Plana e com prédios históricos de 2 a 4 andares. Muitos carros estacionados nas ruas, lojas, pessoas conversando e crianças brincando. Numa praça, um grupo de idosos quis conversar quando me viram passando com a câmera. Um deles falava português e uma senhora falava espanhol. Muito simpáticos.

Voltei para o hotel para descansar e preparar para seguir para o Suriname.

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