11º dia – de Nieuw Nickerie a Linden

Como tinha atrasado um dia no cronograma, decidi não pernoitar em Georgetowm, capital da Guiana, e andar um pouco mais para recuperar o tempo perdido. Entretanto, não seria fácil, já que a fronteira que teria que passar é uma das mais demoradas e burocráticas.

Quando sai para o pátio levando a bagagem para a moto, ainda estava escuro, apesar de já passar das 6h da manhã. O céu estava carregado.

Uma dúvida me atormentava desde ontem: o documento do seguro da moto que contratei em Albina não diz qual é a sua abrangência, ou seja, se vale para Suriname e Guiana. Tinha pesquisado e descobri que em Nieuw Nickerie tinha um escritório da seguradora. Ontem eu tentei ir, mas já tinha fechado. Aqui eles começam cedo e param cedo por causa do calor. O escritório abriria às 7h, mas a dona do hotel me falou que normalmente tem gente lá antes disso, então às 6h30 eu já estava na porta. Assim que cheguei começou a relampejar e caiu uma chuva forte, mas rápida. Em poucos minutos parou e o céu limpou.

6h45 uma mulher chegou ao local. Expliquei minha dúvida e ela disse que realmente tinha que ter sido emitido um documento específico para a Guiana. Ela pegou o papel, pediu para aguardar e 10 minutos depois retornou com o documento que faltava. Não cobrou nada a mais, disse que já estava incluído.

Fui para a estrada aliviado. Demorei cerca de meia hora para chegar à fronteira. Havia uma fila de vans, ônibus e carros. Parei no final e fui ne informar. Um senhor de cabelo rastafári me disse que motocicleta podia vir para a frente da fila e foi o que fiz. Pouco depois um senhor abriu o portão e indicou que eu entrasse o estacionasse a moto. Depois me orientou a ir para um guichê onde compraria o tíquete para a balsa (188 dólares surinameses). A moto não paga. Depois fui para a imigração onde carimbaram minha saída do Suriname. Por fim, a documentação da moto. Se não tivesse passado na seguradora cedo, teria que providenciar o documento e voltar no dia seguinte.

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O portão fechou às 9h. Tinha a informação de que fechava às 8h, mas isto no horário da Guiana, que tem uma hora a menos no fuso-horário. Mas é importante chegar cedo, porque a balsa tem uma capacidade limitada e é uma única viagem por dia. Hoje sobraram cinco carros que não conseguiram espaço.

Depois de muita demora, entra com os carros (de ré) na balsa, saem alguns para ajeitar melhor, entram em outra ordem, finalmente ficou lotada e entraram os pedestres.

A travessia não é demorada. Do outro lado, o processo é bastante burocrático e demorado. Primeiro você entra em uma fila para entregar o passaporte e um formulário que te entregaram na balsa para preencher. Depois que te autorizam entrar e batem o carimbo, você tem que entrar em outra fila para pegar um formulário para preencher com os dados da moto. Em duas vias, sem carbono. Depois de preenchido, você vai para uma fila onde um agente confere os dados do formulário, dos documentos da moto, e vai até a moto conferir placa e número do chassi. Por fim, você entra em outra fila para um agente preencher manualmente um caderno com os dados da moto, assinar o tal formulário que você preencheu e te devolver uma cópia.

Liberado, você tem que sair do complexo e passar em um posto policial ao lado para fazer um cadastro. Finalmente na estrada.

Saindo em direção a Georgetown, você passa por uma série de comunidades que ficam às margens da estrada de forma contígua, não sei ao certo, mas acho que foram cerca de 160 km atravessando essas comunidades, praticamente sem pausa. A velocidade limite é de 80 km/h, mas são muitos carros, caminhões, tratores, vacas, cabritos, bicicletas e todo mais para reduzir a velocidade da viagem.

Viagem de Moto Guiana

Apesar disso, achei muito interessantes as construções, que me lembraram muito do que conheci na Índia. Casas coloridas e muito decoradas com animais, plantas e símbolos religiosos.

Muitos templos, cristãos, muçulmanos e hindus. Parei várias vezes para tirar fotos.

A passagem por Georgetown foi como me falaram, trânsito ruim e obras. Levei mais de uma hora para fazer a travessia.

Os motoristas da Guiana são muito imprudentes e o trânsito é muito perigoso. Caminhões, carros e vans que rodam muito acima do limite de velocidade, fazem manobras arriscadas e param no meio da rua atrapalhando o tráfego.

Encontrei algumas pessoas simpáticas, que vieram conversar e perguntar sobre a moto e a viagem, mas foram raras. Na Guiana Francesa e no Suriname fui mais abordado e as pessoas foram mais simpáticas de um modo geral.

O inglês deles é muito difícil de entender. Algumas vezes não conseguia nem conversar direito e eles são muito impacientes.

Antes de Georgetown, passei por dois postos de controle da polícia. Conforme me orientaram, parei nos dois. No primeiro, fizeram sinal para seguir em frente. No segundo, um policial pediu dinheiro para beber alguma coisa que não entendi. Disse que não tinha dinheiro e que ia a um caixa eletrônico para sacar e colocar gasolina na moto. O policial cara de pau me falou que era para sacar o dinheiro e voltar. Está esperando até agora.

Viagem de Moto Guiana

Depois de Georgetown, na estrada para Linden, um policial estava no meio da pista e fez sinal para que eu parasse. Antes de desligar a moto pediu os documentos. De forma arrogante, perguntou onde estava a placa dianteira da moto. Respondi que no Brasil não era necessário. E ele falou que na Guiana sim e que minha moto tinha que ter. Falei de forma positiva que o Brasil e a Guiana são signatários de uma convenção que desobriga os veículos estrangeiros em circulação nos países de se obrigarem a seguirem estes tipos de obrigações. Ele começou a dizer que isto não existia. Neste momento chegou um outro policial mais velho e começou a perguntar sobre a viagem e sobre a moto. Comecei a responder o primeiro policial me interrompeu novamente falando sobre a placa dianteira. O policial mais velho perguntou do que se tratava o mais novo falou e ele balançou a cabeça falando algo que não entendi, mas certamente era para não me cobrar isto.

Então o policial mais novo, ainda de forma mal educada, perguntou onde estava a gasolina extra. Respondi que não levava. Ele não acreditou. Falei para o mais velho. Minha moto é muito econômica e eu tenho grande autonomia, por isso não preciso de gasolina extra. – Ela faz 30 km/l. Ele riu e falou para o outro me liberar. Agradeci, dei um adesivo para cada um e segui viagem.

Mais à frente o tempo fechou e começou a pingar algumas gotas grandes de chuva. Fechei as aberturas de ar da jaqueta e da calça e o dilúvio que ameaçava começar sumiu.

Pouco depois cheguei a Linden. Que cidade feia! Foi difícil encontrar um lugar para pernoitar. Estou em um hotel, pelo menos é o que consta na placa, num quarto minúsculo, que não cabe nem minha bagagem direito, cheio de pernilongos mesmo com o ar ligado e uma música alta tocando num bar do outro lado da rua mas que parece dentro do quarto. E caro, 40 dólares por uma noite, depois de pechinchar.

Depois de instalado e de tomar banho, perguntei onde comer alguma coisa por aqui. Só comida chinesa. Fui encarar, já que há vários dias não comia uma refeição de verdade. Pedi dois pratos, um com frango frito e batata frita (muito saudável) e outro com arroz frito e ovo. Deixei cerca de dois terços do total servido, não porque não estava com fome, mas porque era gigante. Dava cerca de 1,5 kg de comida nos dois pratos.

Amanhã começará a aventura pelos 450 km de estrada de terra até a fronteira com o Brasil. Espero fazer esse percurso em dois ou três dias no máximo. Até chegar ao Brasil, nenhuma comunicação, pois a estrada corta a floresta e a savana.

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