7º dia: Puerto Maldonado – Marcapata

O hotel que ficamos em Puerto Maldonado, Cabaña Quinta, é muito bom, mas a internet é por satélite e muito instável. Choveu torrencialmente a noite toda e quando acordamos ainda chovia, mas uma garoa fina. Tomamos um bom café, arrumamos a bagagem e as motos, acertamos a conta e quando saímos havia parado de chover.

Passamos em uma casa de câmbio para trocar dólares em Soles, pois constatamos que o que havíamos trocado na fronteira não daria para chegarmos em cuzco, nosso próximo destino. Quase nenhum estabelecimento aceita cartão de crédito por aqui, principalmente os grifos (postos de combustível), que têm em quase toda cidadezinha, mas com uma aparência que no Brasil seriam considerados bastante suspeitos.

Abastecemos e fomos para a estrada. Nos primeiros 100 km, como no dia anterior, ela passa por uma série de comunidades com pouquíssimas casas e muitos quebra molas. Algumas destas comunidades são grandes acampamentos, com barracas feitas de plástico, madeira ou zinco e onde as pessoas moram, trabalham e vêem a vida e o movimento da estrada passar.

Fomos parados pela primeira vez durante a viagem para verificação dos documentos que estavam todos em ordem, sendo liberados rapidamente.

Depois começamos a subir uma serra com muitas curvas, mas muitas mesmo. A estrada, apesar de muito bem pavimentada, sinalizada e conservada, não permite desenvolver uma boa velocidade. Em muitos trechos existem placas indicando velocidade máxima de 20 km/h. Muitas das curvas são tão fechadas que as placas indicam que você vai voltar para sua origem. E algumas subidas são tão íngremes que parece que você está subindo uma parede.

Depois de descer a primeira serra e percorrer um vale, começou uma subida lenta e gradual, acompanhando um rio caudaloso e agitado. A paisagem começou a ficar maravilhosa, com muitas montanhas cobertas por mata baixa.

De repente começou a chover, reduzindo ainda mais nosso ritmo. A chuva atrapalhou tirar fotos, mas não escondeu a beleza do lugar, toda hora fazíamos sinal um para o outro indicando um ponto que merecia atenção.

Vimos ao longo da estrada dezenas de cachoeiras que desciam as montanhas por caminhos entre a mata, desembocando no tal rio. Algumas dessas quedas d`água passavam por cima da estrada, em depressões construídas para que a água saísse do outro lado. Nós tínhamos que passar dentro destes pequenos rios, alguns secos, a maioria com um filete de água e poucos com muita água.

Passamos por diversas destas depressões sem nenhum problema. Logo depois de passarmos por um acampamento da construtora brasileira Odebrecht, ao fazer uma curva nos deparamos com uma delas e por onde passava muita água. Eu que vinha na frente vi o obstáculo, diminui o que pude e entrei. No meio do curso d`água senti a moto dançar muito e como não vinha outro veículo no outro sentido, coloquei a moto em linha reta e invadi a outra pista. O piso cheio de lodo e muito escorregadio quase me fez cair. Pelo retrovisor fiquei observando o Marcelo entrar na água, dançar com a frente da moto, derrapar e ir para o chão. Parei a moto mais à frente e corri para socorrê-lo. Antes que eu chegasse ao Marcelo, um grupo de operários da construtora, que estavam trabalhando justo naquela curva colocando alguns marcos,  correram para ajuda-lo. O Marcelo começou a levantar e um dos operários, que parecida ser socorrista ou técnico de segurança, tomou a frente e mandou que ele ficasse sem se mexer. Começou a fazer uma série de perguntas para o Marcelo, se sentia dor em algum lugar, se sentia os pés, etc.. Pediu para um colega dele ligar para o médico do acampamento. Em menos de 10 minutos chegaram um médico, uma enfermeira e o encarregado do acampamento. Fizeram os procedimentos de praxe para imobilizar o pescoço enquanto o Marcelo falava que estava bem, que queria levantar, perguntando sobre a moto… Eles o convenceram a ir para um hospital na cidade mais próxima, Marcapata. Eu peguei a moto dele e, acompanhado de um empregado da construtora, levei e deixei no acampamento. Ele me trouxe até minha moto, onde encontrei uma viatura da polícia local. Trazia a bagagem do Marcelo, que os policiais ofereceram para levar para a cidade e pediram que eu os acompanhasse.

Vejam o lodo no piso, na foto que parece uma cachoeira desaguando na estrada.

Chegando em Marcapata não era um hospital mas um posto médico com estrutura bastante precária, mas com um pessoal bastante atencioso. Um médico fez diversos exames, constando que aparentemente não havia danos, mas pediu para o Marcelo ficar em observação por mais algumas horas e recomendaram que não seguíssemos viagem, visto que ele havia batido com o capacete em um dos marcos da estrada. Na pancada ele sofreu um pequeno corte na boca provocado pelo microfone do intercomunicador.

Deitado na maca ele reclamou que estava tonto. Pior que eu também comecei a sentir tonturas. Havia carregado as bolsas para o segundo andar de uma pensão e começava a sentir os efeitos da altitude. Era o soroche, o mau da altitude.

Enquanto o Marcelo ficava no posto em observação fui procurar um lugar para pernoitarmos, fechando com uma pensão a 10 Soles o quarto. O serviço faz juz ao preço, não tem banheiro privativo e fiquei com medo de usar o compartilhado. Perguntei se havia “baño caliente” e a dona da pensão, uma típica descendente dos incas, riu… Dormimos sem tomar banho. A senhora mau fala o espanhol, tornando nossa conversa bastante complicada.

Neste meio tempo os policiais pediram para tirar fotos com minha moto. Depois de liberado pelo médico, os policiais pediram que os seguíssemos para a comissaria para eles registrarem a ocorrência. Lá eles pediram todos os documentos do Marcelo e da moto, fizeram uma série de perguntas, dentre elas se poderiam tirar sangue dele para verificar se ele não estava alcoolizado ou sob efeito de drogas. Procedimento de praxe, segundo eles informaram. Os documentos ficaram retidos até o dia seguinte quando disseram que poderemos prosseguir nossa viagem.

Terminada a retirada do sangue, que foi paga pelo Marcelo, assim como a consulta e o remédio para o caso de sentir dor – valores irrisórios, menos que 20 Reais tudo -, fomos para um restaurante e tomamos uma sopa que não soubemos dizer do que era a carne, tomamos um chá de coca para o soroche e fomos para a pensão dormir. Lá fora uma névoa que, segundos os moradores, é assim o tempo todo, e o frio muito intenso, nos obrigando a usar todas as proteções que trouxemos.

Minha moto ficou guardada no corredor da comissária porque a pensão não tem estacionamento e não existe internet na cidade.

Números do dia:

Distância: 327 km
Total percorrido: 4.630 km
Consumo: 21,501 l
Média de 15,21 km / l
Preço médio: R$ 2,833 / l
Gasto combustível: R$ 39,05
Hospedagem: R$ 6,41
Lanches: R$ 6,80
Jantar: R$ 1,92

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