Tapaxula – Puerto Quetzal – 86º dia

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América Central, Guatemala

Tapaxula – Puerto Quetzal (Parcial = 298 Km / Total = 36.693 Km)

Às 06:00h, rumei para Talisman, a fim de fazer a saída do México. Minha intenção era chegar cedo à Imigração, antes dos ônibus cheios de turistas e trabalhadores, conforme sugestão do meu amigo Antonio Braga. Consegui fazer a Imigração e a Aduana bem cedo. E quando perguntei sobre a devolução automática dos $400.00 USD que me haviam debitado, responderam que eu precisava voltara a auto-pista, um pouco antes de chegar a Tapachula, no posto do Banejercito, onde havia a placa “Viva Mexico”, indicando a Aduana.

Depois de algum tempo, atravessei a fronteira satisfeito, porque tinha conseguido fazer tudo sem a inconveniência dos tramitadores. Chego a fronteira da Guatemala e consigo fazer cedo a Imigração sem os tramitadores. Sigo para a Aduana e o funcionário diz que eu somente posso ter atendida a minha solicitação de Permissão de Trânsito para a minha motocicleta, dentro de três meses. O funcionário me explicou que quando eu entrara na Guatemala – indo para o norte – me deram o prazo de 3 meses. Porém, quando eu saí, me cancelaram a permissão – quando deviam ter adotado outro procedimento – e a lei determinava que nova permissão somente poderia ser dada após 3 meses. Após um jogo de cena, apresentaram a solução: seria expedida uma Guia de Trânsito Especial, por uma agência de despachantes aduaneiros, para eu abandonar o país em um prazo de 24 horas. Caso eu não o cumprisse, minha moto seria apreendida e eu deveria pagar uma multa de $10,000.00 USD. Além disso, eu seria acompanhado na viagem sob a Custódia de um cidadão do país. Creio que por acaso, estava por ali o tramitador Raul, que se propôs a me custodiar. Inicialmente, eu disse que não tinha como levar o Raul, pois o lugar do garupa estava ocupado com bagagem. Pediram para eu aguardar e começaram os telefonemas entre o dono da agência. Como não havia outra solução, empilhei tudo sobre o bagageiro traseiro da Electra – que ficou parecendo uma torre – e aceitei a solução de levar o Raul. Inicialmente, entendi falarem em custo total de $2,000.00 e argumentei que não tinha esse dinheiro e iria fazer uma reclamação na Embaixada Brasileira. Depois de algum tempo já se falava em $200.00 USD pelos serviços da agência e mais $100.00 para as despesas de transporte etc. da pessoa responsável pela minha custódia, que teria de voltar de ônibus. A tarde avançava e eu tive de aceitar.

Durante a espera conheci e conversei bastante com um motociclista chamado Ariel de Leon, que me pareceu ser uma pessoa equilibrada e confiável. Me afirmou que o Raul era um bom rapaz e não teria nenhum tipo de problema com ele. Mais tarde, o Raul me aparece de banho tomado e barbeado, pois iria aproveitar para visitar a sua segunda família, em El Salvador. Perguntei pelo capacete e tive de lhe dar $100.00 para conseguir um capacete de plástico emprestado, que o Ariel conseguiria, em local distante.

Fui liberado para entrar na Guatemala às 05:00 h da tarde. Tripulação à bordo, dei partida na Electra, que além da torre, estava sobrecarregada de alta carga de estresse, decepção, revolta e impotência. E muito difícil de equilibrar.

Seguimos pela única estrada, esburacada e sem sinalização, sempre acompanhados pelos muito grandes caminhões e rápidas camionetes. Eu tinha que manter certa distância dos veículos, a fim de ter tempo de ver e livrar dos grandes buracos no asfalto, com um palmo de profundidade. Além disso, a execução das constantes manobras em ziguezague, pelos grandes caminhões para livrar os buracos, não eram avisadas. Assim, procurava seguir sobre um dos rastros de seus pneus. Caiu a noite e já sem idéia de onde eu estava, o meu GPS passou a ser o conhecimento da região pelo Raul.

Preocupado em chegar muito tarde, comecei a acelerar. Em uma ultrapassagem, no vácuo de uma caminhonete branca, marquei bobeira e em vez de permanecer sob um de seus rastros, por uns instantes, fiquei entre ambos os rastros de seus pneus. Subitamente, mesmo no escuro, percebo um grande buraco e não dá tempo de desviar. A pancada frontal foi tão forte que senti dor no meu coração. Durante o evento, em átimos de segundos, imaginei a roda dianteira e o pneu partidos e nossos corpos e a bagagem com a tampa do bagageiro no chão. Desesperado, enquanto a Electra empinava e corcoveava com um potro xucro, gritei para o Raul se segurar e continuei acelerando, a fim de não ser atropelado por caminhonete ou caminhões. Segui para a margem da rodovia, liguei o alerta e como percebi que não havia nenhuma vibração anormal, pedi ao Raul para conferir se o pneu ainda estava lá, pois eu não enxergava nada pelo retrovisor. Milagre! Estava tudo íntegro.

Seguimos em frente com mais cautela e grande tensão. Depois de passarmos por várias situações críticas de alta tensão, principalmente, em decorrência das péssimas condições da estrada, vimos uma placa que indicava a direção de Escuintla. Seguimos neste rumo, sem qualquer outro tipo de sinalização posterior. Muito tempo depois, surgiu uma placa indicando a direção de Puerto Quetzal, que até hoje ainda não consegui identificar, no mapa, onde ela está.

Às 10:00 h da noite, ainda sem comer nada, o Raul me pediu para paramos em uma pizzaria Dominus, que ficava em algo parecido com um pequenino Mall, à beira da estrada, já próximo a Puerto Quetzal, a fim de buscarmos informações sobre hotel. No local, ainda havia algumas poucas famílias e também vários jovens com suas motocicletas 125 CC.

Enquanto o meu navegador pedia a pizza e as informações, fiquei verificando a suspensão e a aparência das rodas: não percebi nada de anormal.

Quando estávamos para partir, alguns rapazes se aproximaram para me cumprimentar pela Harley. Como sempre, sorrisos e amabilidades, falei que era brasileiro etc e tal. Pediram cigarros e repetiram várias vezes, para eu tomar muito cuidado. Como sempre, o medo e a impotência eram sensações permanentes em lugares onde tudo poderia acontecer.

Seguimos em direção a cidade e fomos o mais rapidamente possível em busca do hotel. O segundo que encontramos aceitava cartão de crédito e era muito bom. Como a garage era protegida, nem tirei as bagagens da moto. Uma noite sem escovar os dentes, não faria mal.

Barriga cheia, banho tomado, não conseguia dormir. Meia-noite, o Raul já roncava alto e a descarga contínua de adrenalina que recebi não me deixava dormir. Além do grande estresse com o motor de partida, que arranhava e as vezes não colocava o motor para rodar, a noite foi de intenso combate na estrada. E por pouco não ficamos por lá.

Fiz a minha oração de agradecimento a DEUS e exercícios respiratórios para a minha bomba desacelerar. Dou graças a Deus por acreditar Nele – não os deuses das religiões e sim Aquele que desconhecemos e apenas O intuímos desde os primórdios da existência humana – pois do contrário, não sei de onde tiraria tanta força para suporta a pior experiência desta fase de minha vida. Tenho a sensação de que está sendo tudo muito mais difícil para me testar.

PHD Artur Albuquerque

http://phdalaska.hwbrasil.com
www.phd-br.com.br

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