Viagem de moto de R$100

Minha viagem de moto de R$100 começou ainda pela madrugada, por volta das 5h30, quando cuidadosamente tirei minha Zuleica (minha Harley-Davidson Sportster 883R 2009 azul perolizada) da garagem, de forma a não acordar minha esposa e filha, nem os vizinhos, com o alto e grave som do seu vigoroso motor, sinfonia para meus ouvidos. Como deixo o tanque da “Magrela” sempre cheio para não ter que abastecê-la antes dos nossos passeios, bastou conferir as luzes e pressão dos pneus, confirmar que estavam ótimos, ligar o motor e pegar a estrada.

Parti, ainda sob a luz do luar, de Curvelo rumo a Belo Horizonte, onde encontrei dois amigos que me acompanharam em parte do passeio, até a Serra da Piedade, no município de Caeté. A subida da serra é repleta de curvas bem fechadas, que deixam a magrela bem à vontade, por ser mais leve, ter entre-eixos mais curto e pedaleiras recuadas e em posição um pouco mais elevada que nas demais customs. Mesmo assim, o limitador de inclinação das pedaleiras chegou a raspar em algumas curvas, uma delícia.

Já no topo da serra, aos 1.750m de altitude, pudemos desfrutar da maravilhosa vista e da belíssima Capela de Nossa Senhora da Piedade, construção histórica iniciada no ano de 1704 e concluída em 1770, inteiramente restaurada e preservada. No local ainda pudemos ver belas formações rochosas e o calvário onde os fiéis se dirigem em multidões para pedir graças e “pagar” suas promessas.

Da Serra da Piedade, após despedir dos amigos que me acompanhavam, seguimos eu e a Magrela rumo ao Parque Natural do Caraça, que abriga também o Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens e o antigo colégio setecentista, por onde passaram personalidades importantes da História do Brasil, como os presidentes da República Afonso Pena e Arthur Bernardes.

A construção do Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens foi iniciada em 1774 pelo irmão Lourenço, que havia fugido de Portugal para as Minas Gerais, tentando livrar-se de uma condenação à morte, imposta pelo Marquês de Pombal. O tradicional Colégio do Caraça, por sua vez, foi fundado em 1820, pela Congregação da Missão, tendo encerrado as suas atividades em 1968, em função de um violento incêndio que lhe destruiu as instalações. O atual parque compreende uma área de 11.233 hectares onde convivem os ecossistemas da Mata Atlântica e do Cerrado, caracterizando-se como uma área de transição. A sua altitude varia entre os 720 e os 2.070 metros acima do nível do mar, com destaque para o chamado Pico do Sol, considerado como ponto mais alto da região e da serra do Espinhaço. Um lugar de belezas naturais e arquitetônicas incríveis, cercado de história e cultura. Infelizmente não pude pernoitar no local, que abriga algumas pousadas, inclusive uma que funciona no próprio Colégio do Caraça, onde, quase todas as noites, lobos guarás que vivem soltos nas matas da região, domesticados pelos antigos padres e professores da instituição, vão até o jardim de entrada para buscar pedaços de carne crua deixados pelos funcionários do Santuário, uma atração à parte.

Depois de conhecer o Museu que abriga diversas peças antigas, da época da construção do Santuário, como móveis, livros e utensílios domésticos, pegamos a estrada e voltamos realizados para casa.

Ao longo da viagem, foram necessários apenas três abastecimentos, num total de R$65,32, e os gastos com alimentação, que incluíram um café da manhã em Piedade e um pequeno almoço na chegada ao Caraça, ficaram em R$12,30. As entradas no Santuário de N. Senhora da Piedade e no Parque do Caraça custaram, respectivamente, R$3,00 e R$10,00. Cumprida, portanto, a meta da viagem que era divertir e conhecer belos lugares gastando menos de R$100,00, precisamente, R$90,62.


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