De São Paulo à Serra do Rio do Rastro em 2 dias

Há alguns meses planejei fazer a desejada viagem de moto de Santo André (SP) até a Serra do Rio do Rastro. Viajaria entre os dias 20 e 23 de dezembro do ano passado, durante minhas férias e sozinho, já que a esposa e os amigos estariam trabalhando.

No dia marcado, domingão de sol, saí de casa feliz da vida com minha Midnight Star 2009, com a perspectiva de ter uma viagem maravilhosa. Mas, antes de chegar a Registro (SP) (tinha rodado pouco mais de 220 km), veio o susto: estava na BR-116, dando uma puxadinha mais rápida, por volta de 160 km/h quando a traseira da moto começou a rabear feito louca. Não sei como, mas consegui segurar a motoca e levar para o acostamento para ver desolado que o bujão do cárter tinha se soltado e todo o óleo do motor em parte estava caindo pelo meio fio e em parte lambuzando toda a roda traseira (mecânico nó-cego dá nisso, mesmo quando a oficina é metida a besta…). Guincho do seguro acionado e viagem abortada.

No início de janeiro meu amigo Wagner estava nas férias dele e me mandou uma mensagem: “- André, arruma uma sexta ou segunda de folga e a gente vai junto pra lá!” Respondi: “- Não consigo a folga, mas vamos encarar em dois dias, um bate e volta no sábado e domingo?” Ele topou a loucura, e marcamos encarar os 2.000 km nos dias 16 e 17 de janeiro de 2016. Eu de Midnight e ele de Sportster 883.

Segue o relato:

1º dia

Saímos de Santo André às 04h15 da manhã, seguindo rumo ao litoral para pegar a BR-116 via Peruíbe. Antes de descer a Serra do Mar, ainda no escuro, pegamos uma neblina brava na interligação Anchieta/Imigrantes. Descemos a serra pela Imigrantes e seguimos pela Manoel da Nóbrega. Passando Peruíbe, chegando a Pedro de Toledo. Ainda estava escuro e vimos um acidente feio que tinha acabado de acontecer (um carro bateu de frente com um ônibus, deixando quatro mortos. Não dava nem pra reconhecer a marca do carro).

Fizemos a primeira parada para abastecer com aproximadamente 200 km em Miracatu, assim que entramos na BR-116, por volta das 06h30, com o sol nascendo. A autonomia da minha moto chega perto de 300km, mas a Sportster do Wagner está com o tanque elevado, o que limita a autonomia (o que ainda nos traria problemas…).

Abastecidos, seguimos com tempo nublado e alguns chuviscos leves até parar novamente para tirar uma foto na divisa dos estados de São Paulo e Paraná. Abastecemos novamente para seguir até Joinville pela BR-376 e depois pela BR-101.

No caminho para Joinville o tempo continuava nublado e com chuviscos, quando de repente começou uma chuva daquelas de encharcar até a alma. Não deu tempo nem de parar pra colocar a capa de chuva. Quando paramos em Joinville para abastecer, por volta das 11 horas, estávamos molhados até as cuecas. Tiramos botas, meias, luvas e jaquetas e penduramos nas motos para escorrer um pouco da água, e aproveitamos para comer alguma coisa no posto. Após uns 30 minutos, como a chuva havia parado, decidimos colocar a roupa molhada mesmo e prosseguir, pois a previsão do tempo acusava sol e calor até o final do caminho.

Sabendo que ainda teríamos mais de 400 km pela frente, saímos ainda encharcados pela BR-101 para fazer uma parada em Florianópolis (com pit-stop na divisa do Paraná com Santa Catarina para a foto), passando por Penha, Balneário Camboriú e Itapema. Esse trecho entre Penha e Florianópolis demanda mais cuidado pelo trânsito um pouco mais pesado e pela quantidade de turistas hermanos (argentinos principalmente, mas não só), que costumam não ser tão respeitosos com as leis de trânsito do nosso país, mas correu tudo bem, bastou pilotar com mais atenção.

O Yahoo Tempo acertou a previsão e saiu um solzão que nos acompanhou até o fim do dia. Até a cueca secou com o calor que pegamos nessa última puxada, que oferece belas paisagens na estrada. Ficou marcada pra mim a visão da Meia Praia e da Ilha de Porto Belo quando se chega a Itapema. Pena que estávamos com o tempo muito curto para tirar fotos.

Parada pra abastecer em Palhoça (região metropolitana de Floripa) por volta das 14 horas, agora pingando de suor, tomar um guaraná, e pau na máquina de novo. Próxima parada: Serra do Rio do Rastro.

Seguimos pela BR-101 até Tubarão, passando por Garopaba, Imbituba, e cruzando a bela ponte estaiada que leva à BR-101 até a cidade.

Em Tubarão acabamos pegando a saída para a SC-370 ao invés da SC-390, e demos uma voltinha a mais, passando por Gravatal, Braço do Norte, São Ludgero e Orleans, chegando ao pé da Serra (com maiúscula mesmo, ela merece) em Lauro Müller por volta das 17 horas.

As paisagens nessas cidadezinhas são muito agradáveis, típicas do sul do país, mas a atração principal é a Serra mesmo: no começo da subida a estrada não parece tão complicada, mas depois de várias raladas de pedaleira tentando acompanhar o Wagner achei melhor diminuir o ritmo.

Subindo mais alguns quilômetros, a paisagem bonita se transforma em uma visão maravilhosa. Não importa para onde você olha, sempre tem algo lindo para notar, mas tem que tomar cuidado para não se distrair. As curvas são fechadas e cegas e quando muito é possível engatar uma 3ª durante a subida.

Chegamos ao mirante no alto da Serra por volta das 17h45, ainda com um belo sol e sem nuvens, o que nos permitiu apreciar a paisagem e tirar fotos enquanto tomávamos nossas merecidas (várias) cervejas.

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Depois de algum tempo parados lá fomos até a primeira cidadezinha no alto da Serra, Bom Jardim da Serra, onde conseguimos um hotelzinho simples, mas agradável (Hotel Planalto – R$ 70,00 por pessoa com café da manhã). Totalmente moídos, nos ajeitamos no hotel, descansamos um pouco e depois fomos jantar num restaurantezinho agradável, onde comemos um PF bem servido por apenas R$ 24,00. Já estava bem escuro e mais frio (cerca de 15 graus) quando voltamos ao mirante para ver a paisagem à noite.

Infelizmente as luzes da Serra não estavam acesas (dizem que é muito bonito de ver). Voltamos ao hotel para dormir por volta das 23 horas, pois o dia seguinte seria puxado também.

2º dia

Acordamos às 7 horas, tomamos café da manhã, arrumamos as malas, abastecemos no Posto Ipiranga (o único da cidade e ponto de referência kkkk) e fomos para o mirante. Mais algumas fotos, e às 07h45 começamos a descer a Serra.

Parada na lojinha de souvenires no meio da Serra para comprar lembranças para as esposas (Deus me livre esquecer isso!) e bora voltar pra casa.

Serra do rio do Rastro de moto

Fizemos exatamente o mesmo caminho da vinda, passando pelas mesmas cidades. Tive que fazer uma parada em Imbituba com apenas 130 km rodados para tomar um expresso duplo e uma lata de Red Bull, pois estava quase dormindo na moto. Depois de convencer eu mesmo a acordar e encarar os outros 9/10 da viagem, voltamos pra estrada.

Paramos por volta das 10h30 para abastecer quase chegando a Palhoça. Pegamos trânsito pesado em Palhoça e depois em Camboriú, tendo que desviar dos hermanos. Aproveitamos para comer alguma coisa em Joinville, aonde chegamos por volta das 13h30. Abastecemos e subimos sentido Curitiba para pegar a BR-116.

Demos uma parada para tirar fotos no Portal da Graciosa (destino da próxima viagem, um pouco mais perto para poder levar a esposa) e seguimos pela BR-116.

Quando estávamos beirando os 200 km fomos parar para abastecer, mas o posto não inspirava nenhuma confiança. O Wagner achou que dava pra seguir, e como a autonomia da minha moto era maior que a da Sportster dele, concordei e fomos embora sem abastecer. Foi o erro, pois, como descobrimos em seguida, o próximo posto ficava a mais de 70 km daquele.

O caminho até o próximo posto era uma descida de serra, o que ajudaria a ir mantendo a Sportster no embalo para conseguir chegar. Só que havia uma carreta tombada na estrada, e o trânsito estava bloqueado. Acabou-se a chance de embalar, a Sportster secou, e ainda por cima o alarme travou por ter tentado rodar na banguela…

Deixei o Wagner se xingando lá e fui buscar gasolina no próximo posto. Abasteci minha moto, comprei um galão de 5 litros e voltei. Abastecemos a moto dele, desativamos o alarme e seguimos para o posto, onde abasteci novamente minha moto (entre ir buscar gasolina, voltar para onde o Wagner estava e seguir para o posto, rodei mais 40 km). Nisso já eram quase 18 horas. Seguimos viagem.

Para compensar um pouco, aproveitamos que ainda havia sol e que a estrada estava vazia, e fomos numa puxada mais forte, mantendo a velocidade entre 150 e 170 km/h até escurecer.

Quando entramos na BR-101 novamente diminuímos o ritmo, pelo cansaço e também pela estrada não ser tão segura. Chegamos a Itariri por volta das 20h30, e de lá seguimos pela BR-101 até a Imigrantes, para chegar a Santo André por volta das 23 horas.

Roteiro cumprido com direito a percalços e muito bem aproveitado. Foram 2.000 km no total, com 14 horas pilotando no sábado e mais 15 horas no domingo e ainda precisando acordar cedo pra trabalhar na segunda-feira. O ideal seria fazer em três ou quatro dias, mas não teria o mesmo gostinho de aventura. Foi puxado, mas valeu a pena.


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