Eu tinha planos de fazer uma viagem de moto pelo Nordeste do Brasil, mas ao mesmo tempo precisava atender aos anseios da família, que queria que passássemos alguns dias juntos durante as férias. Estudamos as opções e encontramos o lugar ideal em uma pequena vila de pescadores no litoral do Ceará.
Combinamos que eles seguiriam de avião até Fortaleza, onde pegariam uma condução até a vila e eu viajaria de moto, saindo alguns dias antes para nos encontrarmos no hotel que reservamos com antecedência pela internet.
Definido o destino da viagem em família, comecei a traçar o roteiro que percorreria com a minha moto. A data que eu marquei para iniciar minhas férias me permitiria sair seis dias antes da data que combinamos de nos encontrar e, pelos meus cálculos, eu gastaria quatro dias entre Belo Horizonte, onde moramos, e a vila de pescadores no Ceará, cruzando o sertão nordestino. Sobravam dois dias para conhecer um lugar que sempre esteve nos meus desejos, nunca tive oportunidade para ir antes e ficava exatamente no percurso que eu havia traçado: a Chapada Diamantina, o famoso parque nacional na Bahia.
Com todos os detalhes da viagem definidos, iniciei minha jornada em um sábado do mês de janeiro. A estrada estava com muito movimento de caminhões e o asfalto relativamente em bom estado, exceto na região de Montes Claros, onde o piso tinha muitas irregularidades. Próximo à cidade de Janaúba, o tempo fechou e eu resolvi procurar um hotel, apesar de ainda faltarem algumas horas para anoitecer.
No dia seguinte continuei minha viagem passando por estradas boas e outras bem ruins, como um trecho de cerca de 35 km de estrada de terra e um outro muito maior que seria melhor que não tivesse asfalto, de tão ruim que estava o calçamento. Passei por uma serra lindíssima, onde haviam muitos geradores eólicos e também a paisagem seca do sertão que começou a aparecer com mais frequência depois da divisa entre Minas Gerais e a Bahia.
Depois de muitas voltas e erros por causa do GPS, cheguei à cidade de Lençóis, que eu havia escolhido para ser minha base para conhecer a Chapada Diamantina. Uma linda cidade histórica, com casas antigas e conservadas e que tem a melhor estrutura na região para receber turistas.
Não havia reservado hotel, mas foi fácil conseguir um bom quarto em um pequeno hotel próximo ao centro histórico, e com um preço justo, apesar de ser alta temporada. Fechei três noites, estacionei a moto no quintal, guardei a bagagem no quarto e saí para uma caminhada pelas ruas da cidade.
Tinha muito movimento nas lojas de artesanato, bares e restaurantes. Vários veículos 4×4 chegavam dos passeios pela região e estacionavam em frente às agências de turismo para que pessoas de várias partes do mundo desembarcassem e retornassem para seus hotéis. Grupos de andarilhos com mochilas chegavam de suas caminhadas pelas trilhas, aparentemente exaustos e ao mesmo tempo extasiados com os lugares e paisagens que conheceram durante seus passeios.
Eu havia estudado com antecedência as atrações da região e sabia que os dois dias que havia reservado para os passeios não seriam suficientes para visitar tudo o que queria, mas depois de conversar com um gaúcho que estava na região há sete dias, e que descreveu de forma entusiasmada os lugares que conheceu, fiquei ainda mais desapontado. Como sou otimista, me confortei dizendo que era uma desculpa para voltar à região com mais tempo em outra ocasião. De qualquer forma, seja quanto tempo você tiver disponível para viajar pela Chapada Diamantina, não será suficiente para conhecer todas as suas atrações. São muitas, dentro e fora do Parque Nacional, como montanhas, chapadões, rios, cachoeiras e grutas, cada qual mais impressionante que a outra e, segundo um morador com quem conversei, ainda existem atrações a serem descobertas. Depois de um lanche, retornei para o hotel e fui dormir, para acordar descansado e pronto para o dia seguinte, que teria muitas atividades.
De manhã cedo peguei minha moto, dei uma volta rápida pela cidade e depois fui para a estrada. A primeira atração foi o Morro do Pai Inácio. Deixei a moto no estacionamento e, por uma trilha de 300 metros bem íngremes, cheguei ao alto do Morro, aos 1120 metros de altitude, para ver a paisagem mais conhecida da Chapada Diamantina, com algumas das suas principais formações, como o Morro do Camelo, o Morrão e o Três Irmãos.
Em seguida fui para a Caverna da Torrinha. A estrada de terra de pouco mais de 1 km começa na BA-432 em direção a Iraquara. Contratei um guia que me conduziu durante uma caminhada de cerca de duas horas dentro da gruta. O passeio exigiu preparo físico e certa dose de elasticidade para passar por alguns lugares estreitos. Acabei torcendo o joelho quando escorreguei no piso de argila molhada, mas foi possível ver o que eles chamam de “a mais completa e uma das mais ricas grutas do Brasil”, com estalactites, estalacmites e helictites que desafiam as leis da gravidade.
A terceira atração que visitei foi a Gruta da Pratinha. Depois da entrada para a Torrinha, segui mais alguns quilômetros em direção a Iraquara e depois peguei uma estrada de terra de 7 km até a entrada da fazenda onde ela se encontra. Deixei a moto no estacionamento e fui conhecer uma das mais belas lagoas que já vi, com água esverdeada, límpida e de temperatura agradável, que permite ver os peixes e o fundo com tranquilidade. Conheci a Gruta Azul, com água translúcida e que adquire uma cor meio azulada com a incidência do sol.
O melhor e imperdível para quem gosta de mergulhar e vai à região é a flutuação com snorkel, colete, nadadeiras e lanterna, na Gruta da Pratinha. Foi o melhor passeio do dia. A gruta é inundada com água transparente, cheia de peixes. Tem trecho com mais de 14 metros de profundidade e é possível ver o fundo com a ajuda da luz da lanterna. Uma sensação incrível quando o guia pediu para o grupo com o qual eu nadava para todos desligarmos a lanterna e ficar em silêncio.
Percorri ao todo 135 km com a moto naquele dia. À noite estava esgotado, mas saí assim mesmo para uma caminhada pela cidade. Comi uma fatia de pizza, tomei uma cerveja e voltei para o hotel, dormindo um sono revigorante e profundo.
Quando acordei no dia seguinte meu joelho refletia o esforço do dia anterior, então resolvi fazer uma programação mais light. Deixei a moto estacionada na pousada e contratei um guia, que me conduziu durante cerca de três horas por uma trilha nas imediações da cidade. Destaque para o Salão de Areias Coloridas e as Piscinas do Serrano, onde deitei debaixo de uma queda d’água e relaxei por um bom tempo. Linda também é a Cachoeira Primavera que tem uma queda de cerca de sete metros de altura, que bate nas costas com muita força e torna difícil ficar debaixo dela por muito tempo. A trilha acompanha o Rio Lençóis e termina em um mirante, de onde pode-se ver a cidade e boa parte da região.
Parei em um pequeno restaurante, onde pedi um PF muito barato, simples e delicioso, que devorei enquanto conversava com mochileiros paulistas e catarinenses sobre as aventuras que cada um fez na região. Passeei pela cidade, fui para o hotel para descansar e retornei mais tarde para caminhar pelas ruas e apreciar a movimentação dos turistas pelas lojas, bares e restaurantes.
O dia seguinte foi de despedida da Chapada e, enquanto me afastava da cidade de Lençóis, percorrendo com minha moto as estradas do sertão nordestino, fazia promessas e planos para voltar um dia e conhecer mais algumas das atrações da região.
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