Aos 70 anos, o motociclista Augusto Lins e Silva se prepara para mais uma façanha que desafia não só os limites da idade, mas também os da geografia. Em maio, ele parte de Hong Kong com destino a Lisboa, em uma jornada solitária de cerca de 45 mil quilômetros, cruzando 27 países e dois principados ao longo de quatro meses. Batizado de Projeto Eurásia, o roteiro passará por regiões instáveis, como zonas de conflito no Paquistão e áreas próximas a campos de refugiados na Turquia.
Apaixonado por estrada, Augusto persegue um objetivo ambicioso: quebrar o próprio recorde e conquistar uma marca histórica no motociclismo de longa distância — não apenas entre os veteranos, mas em qualquer faixa etária. “Meu prazer é a estrada. Não faço viagens pequenas, elas têm de valer a pena”, afirma.
O veterano das longas distâncias
Augusto já percorre, em média, 90 mil quilômetros por ano. Em 2012, ele atravessou o continente americano do Rio de Janeiro ao Alasca, somando quase 40 mil quilômetros — incluindo um desvio de 3 mil quilômetros até Sturgis, nos EUA, onde participou do maior encontro de motociclistas do mundo e recebeu um troféu por ter chegado ao evento pilotando a maior distância.
Para o novo desafio, ele aposta em preparo físico, tecnologia e estratégia. Treina semanalmente por até seis horas na academia e usa sistemas de mapeamento digital para prever detalhes do trajeto — inclusive buracos na estrada. Sua única limitação física, uma cirurgia no joelho transformado em 60% titânio, não o impede de rodar milhares de quilômetros. “O médico fica doido comigo, mas sabe que não consegue me segurar”, brinca.
Comida e companhia: os maiores desafios
Apesar da vasta experiência, Augusto admite que a gastronomia asiática é um dos principais obstáculos. Para evitar imprevistos digestivos, pretende levar consigo “ração humana”, produzida por uma empresa de São Paulo especializada em nutrição para expedições. Também está em negociação com empresas em busca de patrocínio para adquirir a moto ideal ou financiar parte dos US$ 60 mil estimados para a viagem.
Companheiros de estrada, aliás, são raros. Augusto costuma rodar 800 km por dia, o que faz com que a maioria dos que tentam acompanhá-lo desista no meio do caminho. “Nem as motos aguentam. Troco de veículo todo ano”, conta.
Indiferente ao medo
A experiência acumulada ao longo de 56 anos de estrada tornou Augusto praticamente imune ao medo. Durante sua última grande jornada, cruzou regiões selvagens do Canadá, onde dividiu a rodovia com ursos, alces e bisões. Ao consultar a polícia local sobre o que fazer em caso de ataque, ouviu que não havia muito o que fazer. Mesmo assim, seguiu adiante. “Voltar seria me desmoralizar.”
O episódio mais extremo, no entanto, foi a travessia entre Colômbia e Panamá em um barco comandado por um contrabandista norte-americano, sob uma tempestade tropical. “Foi o dia em que mais pensei que iria morrer”, revela.
Nem mesmo um furacão no Colorado o deteve. “Voamos eu e a moto. Sorte que caímos sobre a grama.”
Um roteiro audacioso
Ainda em definição, a rota do Projeto Eurásia exigirá cruzamentos de fronteiras em regiões sensíveis do Oriente Médio e da Ásia Central. Mesmo com os riscos, Augusto mostra confiança. “Se alguém de 40 anos quebrar meu recorde, não tem problema. Só me preocupo se outro maluco de 70 resolver fazer igual”, diz, em tom de brincadeira. possibilidades para comemorar o aniversário de 71 anos, Augusto Lins e Silva escolheu
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