Uma viagem da China

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De todas as possibilidades para comemorar o aniversário de 71 anos, Augusto Lins e Silva escolheu a menos ortodoxa. Em 12 de julho, o empresário aposentado poderá estar em alguma zona de conflito no Paquistão ou próximo a um campo de refugiados na entrada da Turquia.

Culpa da fixação em bater o próprio recorde: percorrer 45 mil quilômetros de motocicleta da China a Portugal, passando por 27 países e dois principados durante o período, para cumprir o Projeto Eurásia. A viagem vai começar em maio e deve durar pelo menos quatro meses. Tudo por um único motivo: “Meu prazer é a estrada. Não faço viagens pequenas, elas têm de valer a pena”, conta o estradeiro mais experiente das Américas.

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Com pelo menos 90 mil quilômetros rodados por ano, Augusto conquistou em 2012 a marca de motociclista da terceira idade com a viagem mais longa da história: foram 39,8 mil quilômetros do Rio de Janeiro ao Alasca. Isso com direito a um desvio de 3 mil quilômetros para participar do Encontro Internacional de Motos de Sturgis, o maior do mundo, nos Estados Unidos. No evento, ganhou um troféu por ter percorrido a maior distância, na mesma moto, para chegar ao local.

Em busca de um recorde, motociclista de 70 anos fará viagem de 45 mil Km da China até Portugal.
No ano passado, o estradeiro saiu do Rio de Janeiro e chegou ao Alasca

Neste ano, no Projeto Eurásia, o aventureiro quer ir além. Se cumprir o percurso, será o recordista em qualquer categoria, não apenas na terceira idade. “Se alguém de 40 anos quebrar a marca, não vou ligar. Preocupa-me mais se algum outro maluco de 70 anos resolver fazer esse trajeto”, brinca. Os planos de Augusto, porém, afastam qualquer loucura. Ele faz roteiros detalhados e, graças a um programa de mapeamento global, consegue prever até os buracos que encontrará pelo caminho. Além disso, passa pelo menos seis horas por semana na academia, malhando principalmente braços e pernas.

A saúde está em alta. O único percalço do motociclista, em 56 anos de estrada, foi uma cirurgia sofrida no joelho direito, decorrente de um acidente. Há três meses, 60% da estrutura óssea teve de virar titânio — o que, para ele, não representou um problema. semanas depois da cirurgia, viajou cerca de 6 mil quilômetros, de Nova Friburgo (RJ), onde mora com a esposa, a Currais Novos (RN), em direção a um encontro de motociclistas. “O médico fica doido comigo, mas sabe que não consegue me segurar”, diverte-se.

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O principal mandamento de Augusto é percorrer 800 km por dia para fazer a viagem render. “Por isso eu ando sozinho, Os que dizem que vão me acompanhar costumam ficar no meio do caminho, não aguentam. O cansaço acumula depois do quarto dia”. Nem as motos suportam o esforço. Por isso, troca de veículo uma vez por ano.

Com tanta experiência, o problema mais na estrada nem é a saudade de casa. A comida do interior dos países asiáticos é vista por Augusto como principal vilã e, para evitar problemas, vai comprar ração humana em uma empresa paulistana que prepara alimentos para expedições ou conflitos. Para dar a çargada falta só encontrar a moto ideal. O veterano negocia patrocínio com duas empresas que banquem um veículo para a ventura ou parte dos US$ 60 mil necessários para tocar o projeto.

Como ignorar o medo

Atravessar uma autoestrada canadense ladeada por manadas de bosões, alces e ursos está longe de ser o pior obstáculo enfrentado por Augusto. Ao chegar ao país da América do Norte, ele ainda perguntou à polícia como lidar com os animais, mas ouviu que não havia como ser ajudado em caso de ataque. Mesmo assim, seguiu em frente. “Não podia voltar, estaria desmoralizado”, explica.

Os percalços solucionados nos quase 40 mil quilômetros do Rio de Janeiro ao Alasca tiraram dele qualquer resquício de receio em relação à próxima aventura. “Agora, olho para o medo com total sensação de indiferença”, afirma. Para augusto, a mais impressionante história das viagens foram os quatro dias de travessia da Colômbia para o Panamá no barco de um contrabandista norte-americano, com direito a uma tempestade tropical. “Botei até a alma para fora, foi o dia em que mais pensei que iria morrer até hoje.”

Depois dessa, nem mesmo enfrentar na estrada o início de um furacão ao chegar ao Colorado, estado norte-americano, conseguiu deixá-lo assustado. “Voamos eu e a moto, literalmente. Minha sorte é que a queda foi amena e que o acostamento dos Estados Unidos é todo gramado”, comemora.

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O roteiro

Augusto ainda estuda o caminho para cumprir os 45 mil quilômetros de estrada, mas já sabe: terá de atravessar a fronteira de países envolvidos em conflitos recentes. A viagem começará em Hong Kong, em maio, e só vai terminar pelo menos quatro meses depois, quando embarcar no avião, em Lisboa, de volta para o Brasil.

Previsão

27 países e 2 principados visitados
45 mil quilômetros rodados
4 meses de viagem


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