Em plena selva amazônica, a caminho de Manaus, pela “Rodovia Fantasma”
De Humaitá rumaram para Manaus, ainda pela BR-319, que nesse longo trecho é conhecida como “Rodovia Fantasma”. Nos mapas, consta um aviso: “Antes de trafegar pela BR- 319, certifique das condições da estrada”. Nela, os primeiros 40 km estão asfaltados precariamente. Depois segue-se mais ou menos 100 km de terra, com milhares de buracos. A partir daí a BR-319 praticamente não existe. Daí o apelido: “Rodovia Fantasma”. O que na verdade existe é uma trilha tomada pela floresta, com buracos e crateras se sucedendo, onde atravessar as dezenas de cursos d’água só é possível através de verdadeiras armadilhas de madeira, que se transformaram as pontes. É a natureza reocupando o lugar que o homem teima em lhe tomar, rasgando as entranhas da mata.
Em todo esse trecho, com cerca de 640 km, não existe nada onde se apoiar. A gasolina para as motos foi transportada em garrafas pet de dois litros amarradas à bagagem. No início do trecho, três motociclistas argentinos, que vinham de Buenos Aires, pilotando motos BMW GS-1200 (excelentes máquinas, próprias para esse tipo de aventura), juntaram-se ao grupo. A esse propósito, considerando o forte espírito de camaradagem que prevaleceu no grupo, Felipe Miranda afiançou que depois dessa viagem, passou a enxergar os argentinos com outros olhos. Nada da desconfiança secular que foi inculcada entre esses dois povos vizinhos. “Nunca mais vou falar mal dos argentinos”, disse ele.
Durante o trajeto tiveram que refazer várias pinguelas de madeira, para que as motos pudessem passar. No segundo dia desse percurso, o Tenente Trant caiu com sua moto em um buraco da Rodovia Fantasma. De imediato um dos argentinos parou a sua moto e o socorreu. A Lander 250 cc quebrou a carenagem, o painel, o bauleto e a manete da embreagem. O piloto machucou o ombro e teve que continuar a viagem tomando analgésicos, considerando as fortes dores decorrentes do ferimento. Já em Belo Horizonte, diagnosticou-se rompimento de ligamentos, com indicação de cirurgia para a correção da lesão.
O primeiro pernoite aconteceu com os pilotos armando suas barracas “iglu”, para uma pessoa, na área cercada de uma torre da EMBRATEL. A precaução tinha sua razão de ser. Desligados os motores, as “vozes” da floresta soavam aterradoras e a presença de felinos de grande porte era certeza. A segunda noite os encontrou em um vilarejo, chamado Castanho. Ali todos se acomodaram em uma tosca pensão. No terceiro dia desse percurso, os motociclistas chegaram a um vilarejo, cerca de 100 km de Manaus, chamado Igapó Açu. Ali, pela primeira vez, nossos aventureiros foram apresentados aos botos cor-de-rosa. À beira do curso d’água, uma indiazinha batia as mãozinhas nas águas e os botos apareciam. De tão mansos, pareciam cães amestrados. Os pilotos, já cansados da viagem, emocionados, assistiram esses momentos de perfeita interação entre o homem e a natureza, tão diferente do que estão acostumados a ver nas grandes cidades. Atravessaram o Igapó Açu em uma balsa e seguiram para Manaus.
Em Manaus, nossos aventureiros se despediram dos amigos argentinos. Naquele longínquo Amazonas, a capacidade dos homens se tornarem amigos ficou selada pelos acenos de mãos. Tanto os argentinos, quanto os brasileiros, nunca mais seriam os mesmos. A fraternidade os havia tocado, unindo-os para sempre, depois de juntos vencerem uma série de vicissitudes. Os argentinos seguiram para a Venezuela e os nossos aventureiros foram em busca de uma concessionária Yamaha, para darem manutenção em sua motocicletas. À medida que pilotavam pela cidade, outros motociclistas, curiosos, a eles se juntavam. Alguns deles já vinham acompanhando a viagem dos nossos pilotos pelo site www..brasilmotos.com.br, onde um diário da viagem era postado.
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