29º dia – Ribeirão Preto – Belo Horizonte

Quando abri a cortina do quarto do hotel e olhei para fora vi que o céu estava bastante fechado, mas não chovia. Na rua, poças d’água e galhos caídos indicavam que havia chovido forte à noite. Como seriam apenas 550 km a percorrer nesse último dia da minha viagem de moto, fiquei mais tranquilo e só saí às 9 horas de Ribeirão Preto.

Peguei a SP-334, Rodovia Cândido Portinari, boa estrada, duplicada e bem conservada. Pedagiada, mas moto não paga. Apesar da chuva fina que caía em alguns trechos, as boas condições da estrada permitiram uma velocidade média excelente. Depois de Batatais segui pela SP-351 até a divisa com Minas Gerais, uma estrada também em bom estado na maior parte do percurso. E o rítmo de viagem continuou muito bom.

Viagem de moto pelo Brasil

Logo que passei a divisa peguei a BR-265. Um pouco travada, com muitas curvas e chuva, me fizeram reduzir a velocidade. Em uma curva, a moto saiu de traseira, me obrigando a corrigir o traçado. Imaginei ser óleo na pista. Um pequeno susto foi um aviso de que deveria respeitar os meus limites, da estrada e da moto.

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Depois que passei pela cidade de Passos, notei que a moto estava dançando muito, principalmente quando passava por trechos de asfalto molhado, parecendo quando andamos com nossas motos em asfalto com ranhuras. Pensei que o pneu poderia estar vazio, talvez furado. Parei a moto no acostamento para ver. A pressão estava aparentemente ok, mas quando olhei para a banda de rodagem, quase caí para trás. Estava completamente careca, restando apenas algumas ranhuras nas laterais. Caramba! Não tinha completado nem 5000 km e acabou. Além de me impor um ritmo muito forte de viagem para percorrer quase 2800 km em três dias, a ansiedade me fez negligenciar nos últimos dias as verificações diárias do óleo, pastilhas de freio, luzes e pneus da moto, como vinha fazendo desde o princípio da viagem.

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O caldo já havia entornado, então, comecei a pensar o que fazer. Faltavam pouco mais de 300 km para Belo Horizonte. E chegar com a moto em um reboque, depois de mais de 15.000 km rodados, seria muita sanagem. Tinha parado de chover, a pista estava secando e, tirando as reboladas que ela deu quando passei em algumas poças d’água, a viagem estava rendendo muito bem. Resolvi seguir em frente.

Segui sem problemas até a cidade de Formiga, onde parei para abastecer. Passava pouco do meio dia e o GPS indicava que chegaria em casa às 15 horas. Tinha combinado com o Alex, um amigo de Belo Horizonte, que nos encontraríamos nesse horário em Divinópolis, 90 km distante de onde estava e de lá seguiríamos juntos até Belo Horizonte. Estava adiantado para o horário que tinha falado para ele que chegaria ao local. Resolvi almoçar no restaurante do posto, o que não costumo fazer durante minhas viagens, para chegar no horário marcado com o amigo.

Segui em frente bem devagar. Ainda faltavam 20 minutos para o horário marcado quando parei no Posto Policial na entrada da cidade. 

Pouco depois das 15 horas chegaram o Alex e seu pai, Sr. Aníbal, cada um pilotando uma Moto BMW. Cumprimentos, foto e, vamos em frente?

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Quando estávamos saindo, começaram a cair algumas gotas de chuva. Na medida em que avançávamos pelo contorno da cidade, a chuva foi aumentando. Em poucos minutos virou um temporal, com vento muito forte e muita água. A moto dançava sobre a pista. Não conseguia enxergar mais que 50 metros à frente e quase nada quando passava por um caminhão que vinha no sentido contrário.

Paramos sob a cobertura de um posto de gasolina da beira da estrada para esperar um pouco. Esperamos por mais de uma hora até que diminuiu, quando continuamos nossa viagem em direção a Belo Horizonte.

Eu ia na frente e os amigos me seguiam. Constantemente verificava no retrovisor os faróis brilhando por entre as gotas de chuva que caíam. Pouco antes da pequena localidade de Azurita, distrito de Mateus Leme, ví um farol de moto avançar mais rápido para me ultrapassar. Pensei que um dos amigos queria me avisar de alguma coisa. Reduzi a velocidade e a moto passou muito rápido por mim, quase nos tocamos. Não era um dos amigos. Um rapaz na garupa apontava o indicador na minha direção e falava algo. Pensei que ele teria entendido errado minha manobra e estava procurando confusão. Fiz sinal de que não tinha entendido e ele perguntou gritando -“Você estava com os outros dois?” Olhei para o retrovisor e não vi os faróis dos amigos. Pensei o pior. O rapaz completou – “Soltou a corrente”. Agora entendi. Parei no acostamento, esperei os carros passarem e fiz a manobra para retornar.

Voltei cerca de um quilômetro. A moto do Alex estava atravessada na estrada, em um trecho em obras, sem acostamento. Os carros desviando. Parei a moto onde podia e corri para ajudá-lo a arrastar sua moto para a beirada da estrada. A corrente havia se partido e prendido entre a balança e a coroa, travando a roda. O Alex ligou para a concessionária da estrada pedindo um reboque e prometeram enviar um breve para levar a moto até o posto de gasolina mais próximo. Ele ligou em seguida para o seu seguro, pedindo apoio.

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Ficamos esperando na chuva, os carros passando perto. “Seu” Aníbal fazia sinais para desviarem. Passou um tempo que parecia uma eternidade. O Alex ligou novamente para a concessionária e depois de verificarem, pediram desculpas porque o reboque havia sido enviado para outro lugar.

Eram 17h30. Não tinha o que fazer ali a não ser levar mais uma história para contar. As condições do pneu não me recomendavam viajar à noite. A família esperava ansiosa minha chegada. Tinha que seguir em frente. Pedi desculpas ao amigo. Ele pediu que seu pai me acompanhasse e ficou esperando o reboque. Seguimos juntos debaixo de uma leve garoa. A moto continuava rebolando, mas meu pensamento era chegar em casa a salvo. Fomos até um posto de gasolina próximo à minha casa, onde havia abastecido no dia da saída. O Alex mandou notícias que haviam levado a sua moto para o posto, mas a seguradora ainda não havia conseguido um reboque para ele. Agradeci a companhia e segui para casa, onde cheguei por volta das 18h30.

Hodômetro da moto no dia de iniciar a viagem: 88.612.
Hodômetro da moto na chegada: 104.307
Total de quilômetros percorridos: 15.695

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