05 de junho – Springville, NY

Bem, hoje é o dia. Vou passar em Buffalo e comprar uma roupa de chuva na HD, naturalmente escolhendo uma cor discreta e depois cruzar a fronteira com o Canada. O Alaska está logo ali em cima, pensei.

O dia prometia, começou bem logo cedo. De vez em quando a gente pega um Super 8 com o café da manhã decente e esse era um deles. Outra coisa que me deixou satisfeito foi o “gatilho” que fiz na tal da chaparreira, embora tenha quebrado duas agulhas, a sacana já não caia.

Empanturrei-me de wafles com aquele melado, que faz nossa glicose disparar rumo à estratosfera, vesti-me à carater e parti pronto para o que viesse e desse. Primeiro, uma parada em Buffalo para a compra da sensacional roupa de chuva que, eu tinha certeza, espantaria toda a chuva do meu caminho e ficaria guardada eternamente no bagageiro da moto.

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Roupa comprada, GPS “setado” para a fronteira com o Canada, que está logo ali, a 14 milhas de distancia. Bastante movimento, mas nada que se compare a uma Linha Amarela num sábado pela manhã. No caminho, vou pensando se devo modificar um pouco a pronúncia do meu inglês, afinal, os canadenses tem uma certa influência francesa, etc. e tal, mas pensei e achei melhor deixar como está, ou seja: uma bosta. Eis que chego na fronteira e na minha vez de fazer a imigração, entro com a moto em uma baia, uma policial muito simpática me atende e pede o meu visto. Visto, que visto? Penso eu. Já tenho visto americano e pela dificuldade de consegui-lo ele deveria me permitir entrar até em Marte. Não, eu teria de ter um visto para o Canada. Chateadíssimo, mas sabendo que as regras aqui são cumpridas, falei com a policial que não me restava alternativa senão voltar pelo mesmo caminho. Nããããoooooo, voltar é o cacete. Com meus documentos (passaporte e documentos da moto) presos, a cancela trancada, fui encaminhado por dois policiais (sem algemas, talvez devido à idade) para uma sala onde me perguntaram um monte de coisas e eu respondi outros tantos. Se as respostas eram coerentes com as perguntas não sei mas os caras me entregaram um formulário, cheio de carimbos e siglas que eu deveria entregar na volta, na imigração americana. Não tem como escapar, uma fica a 50 metros da outra. Quando chego na imigração americana é que o caldo entornou de vez. Ainda tive tempo de passar um rádio para o Cyro ( tinha um carro na minha frente ) e dizer que achava que iam me passar a “pulseira”. Chega minha vez, o tal do formulário dizia simplesmente que tentei entrar ilegalmente no Canada a partir dos EEUU. Agora era a policial americana, muito menos simpática, desconfiadíssima até mesmo da minha heterosexualidade, pois ao conferir a placa da moto com meu nome e o certificado em nome do Cyro começou a imaginar coisas que nem me atrevo a pensar, a filadaputa. Agora a coisa ficou séria. Travaram os documentos e a moto. Fui encaminhado para uma sala onde tinham uns 30 “foras-da-lei” como eu. De chaparreira e colete de couro, não me sentia deslocado no meio daquela babel, era nego de turbante, outro com um quipá, a mulher cheia de véus, 4 chineses quietinhos num canto, uma familia cucaracha falando alto e tomando “esporro” e eu ali, quieto, esperando os “comandos” brasileiros saltarem de para-quedas e resgatarem-me a qualquer momento. Como os “comandos” deveriam estar em greve ou em alguma passeata gay, depois de quase 3 horas fui chamado por um policial que aceitou minha explicação. Sai dalí frustrado, tenso, mas resolvi tirar uma foto daquele açude metido a besta senão a oposição não acreditaria que estive lá. Parei a moto num estacionamento, tripoide com câmera fotográfica às costas vou caminhando em direção à tal de cachoeira procurando um local para fazer o registro fotográfico. Eis que vejo a entrada de um parque, com uma tabuleta ideal para meu propósito. Acontece que tinham 3 mulheres batendo fotos, ainda me ofereci para faze-lo mas a resposta veio malcriada e na bucha : “We don’t need any help!”. Danem-se, pensei enquanto aguardava. Acontece que as mulheres eram cucarahcas pois falavam naquele inconfundível castelhano rápido entremeado de risadas. E nada delas acabarem com as fotos. Começou a se formar uma fila com pessoas que também queriam tirar fotos naquele local. Acabei ficando de saco cheio, armei o tripoid com a câmera no meio da rua, coloquei a máquina em self-timer, disparei-o e tomei meu lugar em frente a placa. Ah, pra que, as cucarachas começaram a xingar e eu a responder com saudáveis e didáticos “putaquiparius”.

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Elas ainda ensaiaram continuar, mas parti para uma pose mais ousada.

Depois dessa elas se retiraram soltando os famosos “maricón”, “hijodeputa” e outras maravilhosas expressões castelhanas. A partir desse momento recuperei-me. Brasil 1 x 0 Argentina (não sei de onde elas eram mas adoro pensar que eram argentinas).

Sai dali e fui para Buffalo parando num Subway. Liguei o notebook, falei com amigos e me lembrei de uma sugestão de meu filho Breno: “- Pai, vai a Cleveland, lá tem o Hall of Fame do Rock and Roll. Gaste nossa herança mas gaste com bom gosto e sabedoria !”. Bingo ! Apesar da hora, do cansaço e das confusões, montei na Camila e falei: “- Cleveland, aqui vou eu !” Afinal, o que são 200 milhas pilotando uma motocicleta? Como dizem os mineiros espichando o beiço “- É logo ali, sô”.

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