20º dia – De Nice a Torino, com parada em Monte Carlo

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Acordamos em Nice com o som insistente da chuva batendo nas telhas da claraboia. Sem uma janela para a rua, era difícil imaginar o que nos esperava lá fora — mas dava para sentir que o dia prometia emoções.

Tomamos um café da manhã reforçado, ajeitamos as bagagens e saímos para buscar as motos que haviam passado a noite estacionadas na rua. Uma garoa fina nos acompanhava, o tipo de chuva que parece não molhar, mas encharca. Vestimos as capas e seguimos para a Promenade des Anglais, a icônica avenida beira-mar de Nice, palco de carnavais e cenário de filmes franceses. Mesmo debaixo d’água, não resistimos a parar para algumas fotos — com alguma dificuldade, é claro. Ali, deu pra ver que não é só mineiro que encara praia com chuva: tinha gente no mar, desafiando o tempo fechado.

Pegamos a estrada rumo a Mônaco. O trecho entre Nice e Monte Carlo, conhecido como Corniche, é simplesmente espetacular: falésias dramáticas mergulhando no Mediterrâneo, estradinhas serpenteando o penhasco, e cidades empoleiradas nas encostas. Tudo isso envolto numa névoa espessa, que deixava o visual ainda mais cinematográfico.

Chegando a Monte Carlo, a chuva apertou. Estacionamos as motos e fomos conhecer a cidade a pé, de capa de chuva e tudo. Monte Carlo, com seus cassinos luxuosos e carrões nas ruas, parecia um cenário de filme — mas, sinceramente, a experiência ficou meio ofuscada pela água que insistia em escorrer pela testa. Nem fotos conseguimos tirar direito. Uma pena.

Decidimos seguir viagem, configurando o GPS para evitar as autoestradas e explorar as cidadezinhas da Côte d’Azur. Passamos por verdadeiras joias da Riviera Francesa, como Menton, Roquebrune-Cap-Martin e Villefranche-sur-Mer — todas lindas, cheias de casarões coloridos, ruelas de pedra e aquele charme francês —, mas o trânsito estava infernal. E mesmo com a capa de chuva, o calor grudava na pele.

Cruzamos a fronteira com a Itália por Ventimiglia e, como se não bastasse o trânsito anterior, dentro de um túnel enorme encontramos um verdadeiro purgatório: tudo parado, e o calor aumentando a cada minuto. Não teve jeito — enfiamos as motos no corredor e até na contramão, devagarinho, para sair daquele forno improvisado. Quando finalmente avistamos a luz do sol, tiramos as capas de chuva e respiramos aliviados.

Sem chuva, seguimos por Sanremo e Imperia, duas cidades que mereciam uma parada mais demorada, mas que naquele dia ficaram só como paisagens de estrada. Pegamos o rumo do interior, atravessando trechos dos Alpes Italianos, onde a temperatura amansou um pouco e o verde dominava o horizonte.

Já nos arredores de Torino, o Vanildo fez sinal de que a gasolina estava na reserva. Meu tanque ainda marcava 1/4 — viva a autonomia da Transalp! Paramos para procurar o posto mais próximo pelo GPS. Achamos um logo à frente, mas estava fechado: férias coletivas, como é comum na Itália durante o verão. O segundo posto não aceitou nossos cartões no sistema automático. Partimos então para um terceiro, a 7 km dali, fora da rota, numa cidadezinha chamada Narzole. A estrada estava em reforma, com trechos de terra batida, mas seguimos assim mesmo.

No fim, deu tudo certo: encontramos o posto funcionando. E ali, numa parede simples de um posto perdido no interior italiano, estava pendurado um retrato do Ayrton Senna. Um detalhe que emocionou — como se, de alguma forma, o Brasil estivesse ali nos desejando boa viagem.

Abaixo, você pode ver um vídeo com imagens desses momentos de estrada, chuva, sol e muita aventura.

Números do dia:

  • Distância percorrida no dia – 270 km
  • Distância percorrida até o dia – 5.113 km

Despesas do dia:

  • Café da manhã em Nice – 8,00
  • Lanche na divisa – 7,00
  • Gasolina em Narzole – 19,00 Euros, 14,23 l, 1,335 / l, 295 km, 20,7 km / l
  • Jantar em Turim – 22,00
  • Hospedagem em Turim – 31,50

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