Acordamos cedo e o dia estava cinzento e frio. Após o café, saímos e resolvemos passar na Nau Victoria para umas fotos. De dia é outra coisa. A Nau é muito bonita mesmo. Pena que não estava aberta para visitação.
Seguimos um pouco pela Avenida Litorânea e chegamos a um memorial em homenagem aos aviadores combatentes da guerra das Malvinas. Não sei se era a todos que lutaram naquele local ou somente aos que morreram. Estava bonito e bem conservado, com destaque a uma carcaça de um jato militar exposto em um pedestal. Foi como “cair na real” vermos que essa guerra estava mais próxima de nós que imaginávamos.
Na hora de sair comentamos que estava muito frio, e devíamos nos agasalhar bem. Pegamos a estrada na planura e poucos quilômetros à frente passamos por um ciclista solitário. Fiquei pensando comigo, como um ciclista poderia estar solitário em uma imensidão tão desolada como aquela. Mais uns três ou quatro quilômetros, o Ronaldão parou e paramos junto. Ele disse que estava com frio e precisava colocar mais roupas.
Enquanto ele se vestia, o ciclista pelo qual tínhamos passado há pouco chegou. Fizemos sinal para que ele parasse para tirarmos uma foto e conversar. Falando em bom espanhol, ele nos disse que era francês, que tinha ido para Montreal no Canadá. Começou a pedalar de lá em direção ao sul e já estava chegando a Ushuaia. Estava a uns 930 km de lá, mas depois de atravessar as Américas, isso já não era nada, não é mesmo? Ficamos admirados pela ousadia, persistência e coragem desse explorador, mesmo porque havia trechos que não dava para fazer de bicicleta de uma cidade a outra em um dia. Ainda mais com aquele vento terrível. Nos despedimos e ele seguiu sua viagem solitária.
Chegamos a Rio Gallegos já pela hora do almoço. Paramos em um grande posto muito movimentado. Lá encontramos pela primeira vez um grupo de três motociclistas de Recife, dois em BMW GS 1200 cc e um de Harley-Davidson 1800 cc. Não sabíamos de nenhum restaurante para almoçarmos juntos. Saímos para procurar e nos desencontramos. Nós encontramos um restaurante na rua bem ao lado do posto. Simples, mas comida de boa qualidade e com preço justo.
Já eram quase 15h quando saímos sentido fronteira com o Chile, onde chegamos por volta de 17h. Os trâmites ocorreram normalmente, exceto pela chuva de granizo e a perdida que o Rogério deu no banheiro. Eita dor de barriga, sô! Vimos novamente a turma de Recife, mas eles já tinham finalizado os trâmites e saíram antes de nós.
Assim que terminamos, seguimos rápido também para a tão esperada travessia do Estreito de Magalhães. Já estava ficando tarde e o cansaço já batia. Chegamos ao estreito aproximadamente 50 minutos depois. Não esperamos quase nada e já embarcamos. Tivemos sorte. A balsa é muito grande. Carrega diversos caminhões, carros e motos. A passagem é paga dentro da própria balsa e ao meu ver foi muito barata. Curtimos muito a travessia. Fomos para a parte aberta mais alta da balsa. Estava um vento forte e gelado, mas eu não queria perder aquela visão de um mar tão azul e que tinha uma correnteza muito forte no meio da travessia. Estava a olhos vistos e parecia um rio dentro do mar. Pela nossa diversão, a travessia passou rápido, mas pelo relógio foram uns 50 minutos.
Após a balsa a estrada era de concreto. Não sei porque eles usam esse tipo de pavimento lá. Pode ser devido ao frio ou às chuvas constantes. Chegamos na pequena Cerro Sombrero por volta das 20h40, abastecemos as motos e fomos para o hotel. Conhecíamos somente esse hotel na cidade, e era muito utilizado por empregados de empresas petrolíferas, pois essa é uma região de muita exploração de petróleo. Na portaria do hotel vimos uma turma de estrangeiros muito animados. Eles estavam viajando em um caminhão adaptado para passageiros e havia inclusive uma cozinha. Vimos também uma moto Honda Africa Twin 1000, de um casal que vimos anteriormente também.
O nosso trecho previsto para esse dia seria até a cidade de Rio Grande, já na Argentina novamente, mas devido aos atrasos na fronteira e na travessia do estreito de Magalhães, pela primeira vez não conseguimos cumprir o trecho do dia. Demos entrada no hotel já era próximo de 21h30, e o sol tinha acabado de se esconder. Eu não vi nenhuma vez, mas conforme nos informaram, o sol também estava saindo por volta de 04h30. Os dias realmente são muito grandes lá nessa época do ano. No inverno é o contrário. A luz do dia dura de seis a sete horas somente. A mudança no trajeto do dia não nos atrapalhou, pois no dia seguinte o trecho seria muito curto mesmo.
Nesse dia rodamos 520 km, e o vento e o frio nos acompanhavam sempre. Ainda bem que estávamos bem protegidos pelos equipamentos e não sofremos com isso.
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