Viagem de moto pela Argentina, Bolívia e Chile: em três pasos

Em 2017 surgiu a ideia, que foi mantida na memória, de poder realizar uma viagem de motocicleta pelo noroeste da Argentina, e daí aproveitar para também conhecer a Bolívia e retornar ao Chile, onde já havia estado anteriormente, em 1999, em carro.

Tentei cruzar o Paso de Jama para o Chile em duas ocasiões, quando não foi possível: a primeira, por acumulo de neve no lado chileno; a segunda, por deslizamento de terra que bloqueou a estrada de acesso (RN52), na cidade de Volcán/Argentina.

Desde 2016 residindo em Buenos Aires, tendo uma Yamaha Super Tenere 1200, La Poderosa, que foi trazida de Brasília. O momento seria esse, mas, em razão de compromissos profissionais, o espaço de tempo para as férias se restringiria à primeira metade de agosto de 2018, em pleno inverno na Argentina, com temperaturas entre -5 e 10C, e baixíssima pluviosidade. Prevaleceu a sensatez do “planejar”.

O planejamento inicial considerou o eixo das já visitadas cidades de Buenos Aires, Rosário e Córdoba como a primeira etapa e talvez a que pudesse ocasionar dissabor inicial. A quatro dias da data de saída planejada, o clima preponderante nas províncias argentinas de Buenos Aires, Entre Rios e Córdoba, por onde seriam percorridos os cerca de 700 quilômetros iniciais, continuava chuvoso como há muito não ocorria. Já enfrentei chuva em uma viagem de motocicleta, mas, também com frio, o quadro se modificaria para pior e não havia razão para submeter-me a isso.

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O plano B consideraria realizar o roteiro completo, de carro; e, o C, postergar a saída, de moto.

Porém, no dia 2 de agosto a chuva se foi, o sol reapareceu e a temperatura subiu. E o melhor: a previsão meteorológica para os próximos 7 dias era a mesma. Logo, a saída no dia 4, às 8h30 – pois, no inverno, o nascer do sol ocorre a partir desse horário -, poderia ser mantida.

A partir de Córdoba, a viagem se tornaria mais interessante, uma vez que ficaria para trás a monotonia, as retas com alturas de 0.50 a 3 msnm e a mesmice das paisagens que caracterizam esse trecho. Daí o caminho escolhido é só para o alto. Incluirá as províncias argentinas de La Rioja, Catamarca e Salta, até alcançar os quase 5.000 msnm no Altiplano, ou Puna, da cordilheira dos Andes, ainda na Argentina, na província de Jujuy, fronteira argentino-boliviana–chilena.

Os quilômetros faltantes são proporcionais à rarefação do ar e resta saber como será a reação do organismo. Nas vezes anteriores lá por cima, “no pasó nada”, talvez por haver antecipadamente bebido chá e mascado folha de coca, livremente vendida nessa zona, por razões culturais e orgânicas. Faltariam ainda muitos quilômetros, mas a expectativa e a disposição seriam outras. Com injeção, penso que a motocicleta não ficará punada ou com soroche, que é como denominam o mal da altitude da Puna.

A viagem foi planejada para ser realizada em três pasos. O primeiro, La Quiaca/Villazón, fronteira entre a Argentina e a Bolívia; segundo, Jama, fronteira entre a Argentina e o Chile, e que dará acesso à região de San Pedro de Atacama e ao Pacífico; e o terceiro, Los Libertadores/Mendoza, fronteira entre o Chile e a Argentina, por onde será iniciado o regresso para casa, em Buenos Aires.

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Entretanto, como pode ocorrer em viagens de motocicleta, condições climáticas adversas ou outras, imprevistas, poderão determinar alterações no percurso e das datas programadas.

A viagem em motocicleta pelo noroeste da Argentina permitirá conhecer aspectos humanos, topográficos, gastronômicos, culturais, climáticos etc. únicos. Suas paisagens e a mística das tradições quéchua, aymará e inca e dos costumes autóctones que a caracterizam convertem-na em região de especial interesse turístico.

O roteiro inclui montanhas; vulcões (La Ruta de los Seis miles); restos de civilizações antigas, como Quilmes; povoados construídos com adobe (Ruta del Adobe); parques nacionais (Talampaya e Los Cardones, este, com as maiores espécies de cactos do planeta); salares; vinícolas de Cafayate e do Valle Calchaquies e seu renomado vinho da uva Torrontés; peñas salteñas; reduções jesuíticas (Jesus Maria); churrasco de carne de llama; encostas impressionantes, como as Cuestas del Portezuelo e del Lipán e as Quebradas de Las Conchas e de Humahuaca e suas montanhas de 14 cores); e muito mais.

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Na Bolívia, ainda não é certo o roteiro, embora o salar de Uyuni esteja no plano de viagem e as bandeiras já tenham sido compradas. Tem havido relatos de dificuldades de abastecimento de combustível para estrangeiros. O paso La Quiaca/Villazón é a rota preferida de entrada na Argentina de contrabandistas e traficantes, apesar de policiado. Desde ontem, as forças armadas argentinas foram autorizadas a apoiar a segurança interna, como no Brasil, e tropas militares serão deslocadas para essa região nos próximos dias. Teoricamente, ficará mais segura.

No Chile, além de San Pedro de Atacama, onde haverá permanência de dois dias, serão visitadas cidades no Pacifico, como Antofagasta, La Serena, Viña del mar, Valparaiso e outras de interesse ou oportunidade; o monumento La Mano del Desierto, na Ruta 5, a rodovia Pan-Americana; e Santiago, de onde ocorrerá o retorno para a Argentina, com provável parada em Mendoza.

O planejamento inicial contempla cerca de 9.000 km de estradas em três países, a maior parte no Altiplano, deserto do Atacama e litoral do Pacifico chileno.

Certamente, a viagem já se constituirá méritos pessoais dignos de reconhecimento “flat ou iron butt”, suficientes para o agraciamento com o brevê Condor de los Andes, da Argentina, cuja imposição simboliza que o motociclista cruzou a cordilheira dos Andes, minimamente por três pasos. Os que desejarem, viajem junto. Para tanto, acessem os hiperlinks, a seguir.

Cordial abraço.


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