11º dia – de Rio Gallegos a Ushuaia

Se tiver um dia em que me arrependi de algumas decisões, esse seria o dia. Acordei bem cedo e tomei café, abasteci a moto até jorrar (quase) e fui até o quilômetro 0 da Ruta 40, que fica mesclada com a ruta 1 até o litoral no Cabo Virgenes.

Ao iniciar a viagem, ainda na cidade, como sempre faço de manhã, molhei a ventosa com água para grudar melhor e posicionei o GPS na bolha. Rodando eu não percebi o quanto frio estava e só notei porque começou a doer meu rosto, mãos e canelas. A temperatura estava a 0°C. O GPS não colava mais, congelou a ventosa e tive que ir ao destino no escuro, seguindo as placas mais velhas que a estrada.

Amanhece tarde e não conseguia ver onde passava com a moto. Quando entrei na ruta 1, a mais ou menos 100 km/h, quase fui ao chão porque o rípio era bem solto.

Depois de 3 horas rodando, finalmente cheguei ao km 0 da Ruta 40, com muito frio e forte vento. Mas cheguei feliz, registrando e passeando por ali mesmo. Ao retornar já era por volta das 10 horas e conseguia ver bem o trajeto.

Encontrei seis motociclistas tentando chegar ao marco zero da Ruta, um deles vi claramente que viajava como eu, “sozinho”. Os outros estavam em grupo.

Levei duas horas para voltar à Ruta 3. A volta foi mais rápida porque já enxergava bem o caminho. Fui até a cidade novamente abastecer, já que indo para o fim do mundo não há postos entre Rio Gallegos e a ilha da Terra do fogo. Aproveitei e lanchei no posto. Enchi de gasolina repetindo o ritual e (péssima decisão) fui sentido Ushuaia (770 km) acreditando chegar ainda com uma réstia de luz do dia. Seriam nove horas para percorrer a distância.

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Chegando ao Paso Integración Austral peguei um vento forte, de cerca de 100 km/h, que me obrigava a pilotar inclinado, mas passei. Segui até Punta Delgada para pegar o Ferry Boat. Ali me dei conta que não conseguiria chegar com luz do dia ao fim do mundo, mas “que se dane” (só fazendo cagada).

Desembarquei e o GPS me induziu ao erro quase fatal. Quase em Cerro Sombrero, estava na 257 e o GPS me indicou seguir por ela e não pela Y-79. Até então não tinha noção se havia asfalto, pois imaginava que era tudo rípio até San Sebastian. Resumo: fui pela 257 com um rípio tenso e o tempo passando. Eram 110 km do pior rípio que já peguei.

Não era um erro somente meu, pois muitos caminhoneiros estavam usando aquela rota, pois desconheciam, assim como eu, que a Y-79 está praticamente toda asfaltada. Quando cheguei e passei pela aduana em San Sebastian, já na reserva, abasteci e segui até o sol se pôr perto de Tolhuin. Percebi que tinha que parar, mas resolvi tocar adiante (mais um erro). O clima mudou de árido para úmido em poucos quilômetros.

A noite chegou e resolvi seguir um carro, mas não consegui porque o pessoal andava a milhão. A certa altura, faltando cerca de 60 km, começou a chover e a nevar (neve?) e fiquei mais tenso ainda. Não sabia se o piso iria congelar. Meu termômetro indicava que não estava para tanto. A chuva com nevasca durou 10 minutos e foi o suficiente para estragar o meu dia.

Até que eu consegui alcançar um comboio de carros de turismo e fui seguindo sem pressa, com fome e cansado como jamais fiquei na viagem. Finalmente cheguei à cidade às 21 horas e notei que não foge ao roteiro de cidades portuárias, com muita bagunça e lixo nos cantos.

Achei um hotel na Hernando de Magallanes com a 25 de Mayo. Ufa, enfim. Tomei um banho bem quente e pedi uma comida pelo telefone, já que a gerente brasileira me ajudou.

Percorridos 790 km


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