8º dia – Camocim/CE – Jericoacoara/CE

Hoje eu peguei estrada por volta das 8h30. De camocim, retornei 28 km até Granja e de lá peguei a CE-085, uma estrada com bom asfalto, bem sinalizada e pouco movimento. Rapidamente cheguei em Jijoca de Jericoacoara, a cidade onde fica o Parque Nacional de Jericoacoara.

Ao entrar na cidade, passei por um grupo de guias que fizeram sinal para parar, mas segui em frente, à procura de um estacionamento para deixar a moto, como havia planejado.

Antes de encontrar um estacionamento, um rapaz veio com uma moto, emparelhou comigo e começou a fazer sinal para parar. Parei e ele me perguntou se queria ir para Jericoacoara. Respondi que sim e que estava procurando um estacionamento. Ele me disse que, se eu quisesse, poderia ir com minha moto até a vila. Falei que tinha lido que era melhor não ir com carro próprio ou moto e ele disse que se eu era bom na moto, tirava de letra, desde que tivesse um guia para orientar. Pronto, fisgou…

Tá bom, já estava na cabeça a vontade de ir com a moto até lá para ver como seria. A oferta foi um estopim…

O nome do rapaz é Cleonildo. Fechamos o serviço. Ele me disse que deveria baixar a pressão dos pneus quando chegasse na estrada de terra, para facilitar a pilotagem. Fomos para a estrada. No meio do caminho, ele parou e perguntou se não queria ir para a vila passando pelas principais atrações – as lagoas e a Praia de Preá. Disse que o desafio era um pouco maior que se fosse direto, mas teria a oportunidade de ir a lugares muito especiais, para tirar fotos incríveis com a moto.

Vambora!!!

Ele seguiu na minha frente, pilotando uma Honda CG 125 Fan com grande perícia, parecia que conduzia uma bicicleta.

A Primeira parada foi na Lagoa Paraíso, em um restaurante anexo a uma pousada, ainda dentro de Jijoca. Com água doce e transparente, tem um restaurante com mesas na praia de areia clara e redes dentro da lagoa para os clientes. Um mergulho trouxe grande alívio para o calor que sentia.

Depois de alguns minutos relaxantes, voltei para a moto e o Cleonildo reduziu a pressão dos dois pneus da moto. O desafio iria começar.

Seguimos em frente, por uma estradinha com trechos parte de terra, parte areia. A condução da moto na terra era muito tranquila, até parecia diferente de quando eu estava na estrada e pegava trechos ruins, como ocorreu ontem. Uma parte porque os pneus murchos davam maior aderência. Também acho que, neste caso, eu preparei a mente para pegar estrada ruim. Além disso, a velocidade era muito mais controlada e não tinha a concorrência de caminhões e automóveis para dividir espaço e levantar poeira. Os trechos de areia exigiram muito mais atenção e técnica.

Chegamos em outra área da Lagoa Paraíso, onde os turistas eram atendidos em uma barraca. Além das mesas com quiosques na areia, como na parada anterior, também haviam redes na água e barco para passear pela lagoa ao preço de R$10. A água tinha um tom esverdeado e permitia ver o fundo com facilidade. Um visual incrível.

A estrada até ali estava mais tranquila para percorrer do que eu imaginava.

Depois de mais um tempo nadando, voltamos para a estrada. Demos a volta e passamos por um trecho em que a areia era mais fofa e em maior volume. Um buggy vinha em sentido contrário, o que me fez baixar para a primeira marcha e a moto travou. Parou totalmente na vertical, suportada pela areia em suas rodas, mas não saia do lugar. Fiz sinal para o Cleonildo e ele retornou para me ajudar. Retirou areia da frente do pneu dianteiro e se postou atrás da moto para empurrar. Coloquei os pés na areia, procurando tirar meu peso da moto, acelerei, e ela seguiu em frente, me permitindo passar a segunda marcha.

Paramos ao lado da lagoa para uma foto. Alguns buggys passaram e os passageiros olharam espantados para o maluco que percorria a trilha de buggys com uma Harley. Alguns tiravam fotos.

Perguntei para o Cleonildo se teríamos pela frente outros trechos como os que acabamos de passar, que achei o mais difícil até então. Ele respondeu que havia um trecho pequeno, mas que depois melhoraria. Seguimos em frente. Mas parecia que cada vez complicava mais. Busquei manter o modo de conduzir a moto como estava fazendo até então, que se mostrava bastante eficiente, fazendo a viagem render bem.

Passamos pela Lagoa Azul. Paramos num lugar onde só haviam buggys e uns poucos 4X4. As pessoas continuavam olhando com espanto e exclamando: uma Harley!!!

Da Lagoa Azul fomos para a Praia de Preá, onde encontramos várias pessoas praticando o kitesurf, dando um contraste muito bonito entre o azul do céu, o verde do mar e o colorido das velas. Uma parada para hidratar, passar filtro solar e seguir em frente.

Na saída, um cara perguntou: “- Vai conseguir passar por ali?” apontando para o fim da rua, coberta de areia fofa. Vamos tentar. Foi o trecho mais complicado. Tentamos passar pela praia, imaginando que a areia estaria mais compacta pela umidade, mas não deu certo, não consegui percorrer nem 50 metros. Retornamos para a estrada e conseguimos desenvolver boa velocidade. Eu já estava muito cansado pelo esforço e pela adrenalina, que estava nas alturas. A todo instante, achava que iria cair. Mas não caí. Seguimos em frente.

Paramos na Árvore da Preguiça, onde consegui tirar a foto mais impressionante da viagem (até agora). É a que está no final, comigo e a moto.

O Cleonildo perguntou se queria pegar o caminho que levava próximo à Pedra Furada. Sabia que não daria para tirar uma foto com a moto lá, então falei que iria depois a pé, a partir da vila. Seguimos passando por mais trechos complicados até chegar em Jericoacoara.

Interessante que achei as ruas da vila tão complicadas para andar de moto quanto o caminho que havia pegado até ali. A cidade foi construída sobre as dunas, e as ruas são cobertas por areia fofa. Depois descobri que até andar a pé por elas era complicado.

Sobre minha aventura, fiz uma coisa que muita gente vai chamar de maluquice. Pode ser. Mas para mim foi mais uma realização. A foto com a moto em frente da Árvore da Preguiça, entre as dunas de Jericoacoara, não tem preço. Não caí nenhuma vez, mas várias vezes pensei que cairia. Por quatro vezes tive que contar com o apoio do Cleonildo para tirar a moto atolada em um banco de areia. E cheguei extenuado em Jeri. A moto chegou coberta de areia e vai precisar de uma boa lavada. Aparentemente, nenhum dano.

Sobre a pilotagem, acho que me saí melhor que esperava. Percorri 30 km, a maior parte de areia, em cerca de duas horas.

O pneu com pressão baixa ajudou muito. Procurei não rodar com primeira marcha, mas manter a moto em boa velocidade, com a segunda ou terceira engrenadas. Das vezes que atolei foi porque Achei o trecho à frente complicado complicado, senti medo de cair e reduzi a velocidade. Não consegui manter o sangue frio suficiente o tempo todo para que não ocorresse.

Muito importante a técnica de olhar para um ponto da estrada onde queria ir e não para o pneu da moto, para um buraco ou obstáculo próximo. Olhar 15, 20 metros à frente permitia que eu escolhesse os melhores caminhos antes de chegar neles. Preferia os trilhos deixados pelos buggys. Quando via “costelas” eram um indicativo de que a areia estava mais firme, de modo que sempre procurava passar pelos locais onde elas estavam.

Acho que foi uma prova de que qualquer moto anda em qualquer terreno, basta aplicar a técnica certa. Com alguns tipos de moto, será mais cansativo e difícil. Em outros não. Se for com uma moto de enduro, uma pessoa com prática em off road vai achar que este percurso que fiz tem baixo nível de dificuldade. Numa big trail, sem pneus e treinamento off road, ou qualquer outro tipo de moto, não recomendo fazer o que fiz. Jamais com garupa. Se me perguntarem, direi que valeu a pena, gosto de desafios. Mas não faria novamente, deixaria a moto em Jijoca e iria numa das muitas pick-ups que fazem o transporte de pessoas entre a cidade e a vila.

Em Jeri, consegui uma pousada simples a R$75 a diária. Não tem ar condicionado, mas além do bom preço é perto da praia e da área de maior movimento da vila, onde fica o comércio e os restaurantes e, apesar da proximidade, fica num lugar silencioso e sossegado.

Assim que cheguei, deitei e dormi. Mais tarde saí para um passeio pela área badalada, caminhei até o alto da duna do Pôr do Sol, que no final se escondeu atrás de uma nuvem e frustrou muita gente. Fui deitar cedo.

{gallery}0213/Nordeste/08{/gallery}


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *