Moto Aventura Norte Sul – Parte IV

Brasília era um destino especial por vários motivos e precisarei voltar no tempo para explicar isso.

O Motocapital é um evento anual que reúne diversas tribos de motociclistas por vários dias, acampando, assistindo shows e interagindo entre si. Na edição do ano passado, Fefe e Maumau, ainda novatos nos Biduzidos encontraram brevemente com o Alfredo que estava então integrando o grupo Pocasombra com o qual viajou. Daí em diante começou a germinar a ideia de fazermos uma confraternização no próximo Motocapital. Seria um ponto médio entre norte e sul, permitindo que os nortistas participassem inclusive do Churrazidos, evento anual dos Biduzidos. Mesmo sem qualquer confirmação de presença, Fefe adiantou-se e alugou um espaço. Uma tenda de 6mX6m e passou a instar todos a comparecerem. A princípio eu e a Marcia tencionavamos apenas ir a Brasília, aproveitando para visitar os amigos Diniz, Wallace e Canellas, porém pensando melhor percebemos que seria melhor aproveitar a chance de viajar e aumentar o trajeto, conhecendo lugares novos. Coincidentemente fomos convidados pelo Felisberto para conhecer o nortão e adoramos a ideia, ainda mais porque ele se propunha a ser nosso guia na empreitada turística. No final de vários projetos analisados, tudo culminaria em Brasilia.

E lá estávamos nós, rodando pelo Distrito Federal em formação de fileira dupla. Seis motos e um carro de apoio que rodaram juntos centenas e centenas de quilômetros agora estavam chegando ao destino do grupo. O IX Brasília Moto Capital.

Entramos na Granja do Torto com nossas motos e logo fomos procurando o local de nossa tenda. Depois de alguma confusão terminamos verificando que ela ainda não estava completamente montada, faltando porém apenas um fechamento lateral. Tomamos posse e imediatamente buscamos contato com o Alfredo, que já estava sendo recebido pelo Wallace no aeroporto onde este trabalha. Percebendo a necessidade de iluminação, pedimos ao Wallace que providenciasse os materiais suficientes para resolver o problema com simplicidade. Fomos então informados de que Alfredo estava sem acomodações para aquela noite, pois chegara um dia antes do previsto em suas reservas de hotel. Como a área do nosso hotel não era das mais assediadas, sugerimos que ele fosse até lá e tentasse hospedar-se. Cansados que estávamos, também fomos ao hotel e encontramos com os amigos. Alfredo teve sorte e conseguiu exatamente o que necessitava. Acomodação para aquela única noite. Para os outros dias estava lotado, o que nos fez perceber que o evento ia “bombar”.

Saimos de manhã para visitar o Shopping dos Importados, pois havia algumas compras a fazer, entre elas um Narguilê para o Felisberto. Ele conhecia uma loja especializada nisso e fomos para lá. Encontramos a loja e logo o Monaski a pesquisar uma caixa pra guardar seu Narguilê teve sua insígnia dos Bodes do Asfalto reconhecida pelo dono da loja. Como muitos sabem, os Bodes do Asfalto são um grupo de motociclistas maçons e o André, dono da loja, maçon que é, imediatamente cumprimentou Monaski como maçon. Começou então uma camaradagem que se extendeu a todos nós e rapidamente transformou-se em simpatia recíproca. André brindou-nos com seus melhores tabacos que saboreamos prazerosamente. Oferecemos-lhe nossos adesivos e broches dos Biduzidos e convidamos os novos amigos a comparecerem no Churrazidos a se realizar no sábado. Eles aceitaram e confirmaram presença. Ficamos impressionados com sua cortesia e gentileza .

Como tivéssemos que montar nossa tenda, despedimo-nos do Rei do Arguile – André, fomos almoçar no Shopping Center e seguimos para a Granja do Torto. Sabíamos que o Zeca, irmão do Felisberto ia levar-nos churrasqueira, mesas e cadeiras. Além disso, tínhamos que fazer a instalação da iluminação. Chegamos lá e mãos à obra… Fez-se a luz ! Enquanto ficamos organizando as coisas na tenda, Monaski, Pâmilla e Marcia foram buscar a Juliana, minha filha que veio de avião de São Paulo. Ela foi carinhosamente recebida pelo Wallace. Alfredo saiu e foi dar entrada no outro hotel, onde tinha reservado previamente. Enquanto isso eu, Fefe e Maumau levamos as motos para uma boa lavagem e enceramento. No fim da tarde a mulherada chegou e ao anoitecer saímos para passear pelo evento que já estava explodindo em festa ! Depois acendemos o Narguilê e ficamos curtindo boas baforadas até que o cansaço venceu e fomos para o hotel. Monaski e Iron ficaram no acampamento, fazendo companhia para a Jú.

De manhã, Monaski trouxe a Jú ao nosso hotel e ela aproveitou o bom banho e café da manhã. A Pâmilla foi fazer reparos no sensor de ré da Outlander, enquanto eu, Maumau e Felisberto íamos ao supermercado comprar carnes, gelo e utensílios necessários para o churrasco. Decidimos começar já na sexta feira à noite. Voltamos ao hotel e saímos todos para almoçar com o Wallace e Janaína no Mangai, onde encontramos Alfredo e os Pocasombra. Depois do almoço, Wallace ciceroneou um passeio turístico rápido pelos principais pontos de Brasília com parada para fotos. Voltamos então para o hotel e pouco depois partimos novamente para o evento. Alí encontramos acampados, João e Preta que haviam chegado na noite anterior. Tratamos de botar fogo na churrasqueira e logo começou a sair lingüiça e frango. Os Pocasombra apareceram e foram ótima companhia. Deixei as carnes, cupim e costela, temperadas e embrulhadas com papel alumínio na churrasqueira para cozinharem lentamente até o dia seguinte. A noitada foi muito agradável, mas o frio intenso convenceu-nos, a mim e ao Fefe de voltarmos para o hotel de carro, motivo de chacota certa no dia seguinte. Alfredo já havia se despedido de todos, pois iniciaria sua volta no sábado a São Paulo.

Sábado era o dia do Churrazidos ! Tomamos o café do hotel e tratamos de sair cedo, pois queríamos aproveitar ao máximo possível esse dia especial. Fiquei contente ao perceber que as carnes tinham assado perfeitamente e bastava acender novamente o fogo para dar-lhes um tostado externo. João e Preta estavam de partida. Reorganizamos a tenda e começamos a festa. Logo apareceram André, seu filho e sobrinho com impressionante aparato de Narguilê e fumos excepcionais que foram cuidadosamente montados e serviram a todos. Pouco depois, Maumau chegou trazendo consigo a Maumoa – Thayane e sua prima. Foi um prazer conhecer a Maumoa e constatar que é uma menina alegre e risonha que também se divertiu muito no pouco tempo que ficou conosco. As carnes estavam do agrado de todos e aproveitei a churrasqueira para fazer novamente o arroz de garrafa pet, que chamou muito a atenção dos transeuntes, bem como dos convidados. Não ficou tão bom quanto o primeiro, mas estava “comestível” e junto com a farofa, os tomates, pães e carnes, compôs nossa refeição. O Wallace, apesar dos contratempos de saúde de sua mãe e do Arthur, consegui um tempinho para dar-nos um abraço, curtindo também um pouco do que tínhamos a oferecer. Os Pocasombra também. Carlão inclusive fez questão de receber o carimbo do nosso evento em sua camiseta Pocasombra. Aliás, carimbamos todos os coletes inclusive de visitantes como o “Risadinha”. A camaradagem era total entre todos e o clima geral do evento era muito alegre e descontraído, com muitas pessoas visitando nossa tenda, fotografando nossas motos, intercambiando adesivos, broches e bordados.

A tarde já ia além da metade quando André e sua turma deixaram-nos. Deixei a churrasqueira aos cuidados de Iron e Ribamar e saímos, eu, Marcia, Fefe e Pâmilla para passear pelo evento e tomar um bom café expresso, papeando descontraidamente, enquanto a Jú curtia os shows com Monaski e Maumau. Quando voltamos à tenda, resolvemos colocar o restante das carnes e deixar assando para quem tivesse fome. Todos tinham… Os comes e bebes foram na conta certa para satisfazer o nosso pessoal e convidados, mas sem sobras. Ótimo !

Mas… finalmente, cansados, começamos a recolher as coisas e organizar nossa partida da tenda que não mais voltaríamos a ver. Na noite não tão fria deixamos o agitadíssimo evento, despedindo-nos assim do IX Brasília Moto Capital, evento que surpreendeu-nos pela tranquilidade e ausência de atos de vandalismo e violência. Clima de paz e harmonia geral, todos curtindo o motociclismo em suas mais variadas facetas. Realmente muito bom.

O Brasília Moto Capital merece algumas considerações à parte:

Trata-se de um evento muito grande, que dura 4 dias com milhares de motos e visitantes.

Realiza-se na Granja do Torto e lá dentro pode-se encontrar praça de alimentação, shows de música, apresentações artísticas e humorísticas.

Além disso, dezenas de lojas são montadas oferecendo uma ampla gama de produtos voltados ao uso da moto e sua cultura. São adereços, vestimentas, peças, acessórios, capacetes, serviços que não são fáceis de encontrar fora das principais metrópoles. Isso permite que motociclistas de diversas partes do país compareçam na certeza de encontrar novidade com preços atrativos.

Praticamente todas as tribos e os principais moto grupos participam ativamente, com tendas montadas, grupos de campistas, ostentando coletes, brasões e insígnias. isso cria um ambiente peculiar e surreal onde os motociclistas se tornam personagens. Muitos visitantes ficam encantados com os acampamentos e churrasqueiras. Talvez tenham idéia de que aquela gente toda é nômade e vive assim, livre pelas estradas, acampando aqui e ali. Pude perceber um profundo respeito entre os motociclistas presentes e nos tratávamos como uma nação de irmãos sempre solícitos diante das necessidades dos demais.

Existe também um lado ecumênico, com cerimônias religiosas e muitos grupos missionários, o que não inibe também um forte apelo sensual e o estereótipos de rebeldia nas roupas, no visual e na atitude de muitas tribos. Apesar disso, não vi conflitos, competições ou confrontos.

Embora o evento estivesse restrito à Granja do Torto, também notava-se nas ruas do Distrito Federal grande agitação com os pequenos grupos de motos passando em desfile, visitando monumentos, restaurantes, enchendo hotéis. Nosso hotel, por exemplo, ficou completamente lotado de motociclistas.

Interessante também notar que a maioria das pessoas com quem conversei já tinham planos de voltar no ano seguinte, com mais amigos e mais organização, o que faz prever que o evento deva ainda aumentar.

O último dia em Brasília… num misto de tristeza e ansiedade, despertei ainda sem saber ao certo o que íamos fazer no que se referia à estrada…

Dois dias antes decidíramos aumentar nossa viagem, aproveitando o fato de estarmos em trânsito e preparados para pernoitar fora, passando por Campo Belo – MG, terra do nosso querido amigo Wlad, recém operado e impossibilitado de viajar. Por coincidência, enquanto estudávamos o trajeto o Felisberto falava com um grupo de mineirinhos que moravam em Patos de Minas, cidade que estava exatamente em nosso trajeto. Rapidamente aproximei-me deles e perguntei ao mais velho, Walter, como estavam as estradas e se eu poderia acompanhá-los. Fui muito bem recebido por todo o grupo e me disseram que sairiam no domingo às 10h. Perfeitamente dentro dos meus planos !

Ocorre porém, que depois disso Wallace havia proposto acompanhar-nos até fora de Brasília e não querendo perder nenhum minuto de sua companhia achamos ótimo, pois poderíamos sair ainda mais cedo, com mais chances de chegar com o dia ainda claro. Mas as coisas mudaram um pouco quando o Arthur, filhote do Wally ficou adoentado com uma virose transtornando as noites de sono da família. Conhecendo o Wally e o quanto gosta de dormir, logo imaginamos que iria adorar ficar em casa cochilando ao invés de motocar no domingo de manhã.

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