The Wild Angels

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Esqueçam os grandes estúdios e suas produções milionárias, o maior gênio comercial da história do cinema se chama Roger Corman. Poucos têm o seu talento de explorar novos gêneros estando sempre atento aos giros do mundo. Em 1966, treze anos já haviam se passado
desde que Marlon Brando pilotara sua moto no clássico The Wild One (O Selvagem). Mas os motoqueiros dos anos 50 eram diferentes, e o filme com Brando tinha mais o espírito “rebelde sem causa”. Já nos anos 60, os Hell’s Angels representavam uma nova geração, bem mais agressiva e temida pelos representantes da lei e da ordem. Inspirado neste novo tipo de motoqueiro, que usava suásticas e cruzes de ferro, Corman criou “The Wild Angels” possibilitando o nascimento de um mito, Peter Fonda, e uma nova febre cinematográfica: os “biker movies”.

A trama é simples: Blues (Fonda) é o líder de uma gangue de motoqueiros no sul da Califórnia. Ao tentar recuperar a moto de Loser (Dern), que havia sido roubada, eles acabam entrando em confronto com a polícia. Loser é baleado e vai parar no hospital em estado grave. Blues e seu grupo planejam resgatar Loser, mas o resultado vai ser trágico.

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Comportado para os padrões hollywoodianos de nossa época, o filme provocou muita polêmica quando de seu lançamento -uma especialidade de seu diretor e produtor, o lendário Roger Corman. Proibido no Reino Unido, só foi lançado na ilha da rainha em 1971, com severos cortes. Nos EUA, Corman foi processado pelos próprios Hells Angels, que o acusaram de ter feito uma imagem distorcida do grupo.

O destaque da história fica por conta da relação “amorosa” entre Blues e sua namorada Mike (Nancy Sinatra). Depois da morte de Loser, Blues torna-se melancólico e distante. Esse clima do personagem vai ser posteriormente a semente de Capitain America em Easy Rider.

A trilha sonora tem alguns bons momentos, nas mãos do lendário (para mim) Davie Allan e sua banda The Arrows, especialmente no hit “Blues’ Theme”. O single chegou ao número 37 da parada da Billboard, onde permaneceu por 17 semanas. Foi a primeira música que Eddie Van Halen aprendeu a tocar na guitarra.

Reparando na trilha e vendo como em 1966 ainda era absurdo pensar em distorção. Nas cenas mais loucas, onde os motoqueiros quebram tudo, a música parece uma versão instrumental de alguma música dos Beach Boys com bongôs e congas. Aliás as congas aparecem nesse e em vários outros filmes da época como um símbolo de pura selvageria. Vai entender. 3 anos depois, a trilha de Easy Rider já seria completamente diferente, misturando folk, country, psicodelia, overdrive e fuzz.

Quanto à iconografia nazista, os motoqueiros dessas gangues usavam esses símbolos para chocar as pessoas. Até onde constam os alfarrábios, nenhuma dessas gangues tinha qualquer espécie de envolvimento com política ou ideologias, e só queria saber de curtir, beber e pilotar as máquinas. No começo do filme um homem diz “nós costumávamos matar caras que usavam essas coisas”, ao que os motoqueiros respondem… nada. A origem disso deve estar no fato de que essas gangues da California nasceram logo após o fim da II Guerra Mundial, quando os soldados que voltaram bastante perturbados do front se recusavam a se misturar na sociedade, preferindo ficar de fora do esquema e curtir sua depressão em paz.

A imagem de Marlon Brando em “O selvagem” pode ser um ícone de rebeldia, mas o motoqueiro definitivo do cinema sem dúvida é Peter Fonda. “The Wild Angels” abriu as portas para “Easy Rider” (Sem destino), além de gerar dezenas de imitações. O elenco é composto de vários futuros nomes de peso: além de Fonda, Bruce Dern, Diane Ladd (esposa de Dern e mãe da atriz Laura Dern, que foi concebida durante as filmagens de Wild Angels) e Nancy Sinatra, isso mesmo, a filha do “old blue eyes” Frank Sinatra! Na equipe de Corman, nomes como Monte Hellman e Peter Bogdanovich. A direção tem momentos altamente psicodélicos, precedendo o filme seguinte de Corman com Peter Fonda, o lisérgico The Trip. The Wild Angels é um clássico absoluto dos filmes B que merece ser reconhecido.


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