Hoje pela manhã, depois de todo paramentado, moto com bagagem arrumada e tanque cheio, saio do hotel e quando vou entrar na estrada vejo o lago em frente. Meus amigos, desliguei moto, tirei capacete e luvas, peguei a câmera fotográfica e o horário que tenha a santa paciência, uma visão daquela justifica tudo. Fiz o melhor possível, pensando na forma como aquela beleza foi a tristeza e ruina para muita gente.
A estrada para Potes acompanha o rio Esla que, junto com o Yuso e o Orza formam a represa que inundou vale do Riaño e as 7 cidades que ali existiam. A forma com se deu foi traumática, sendo os habitantes expulsos por forças militares que ocuparam o vale até o dia em que foram fechadas as comportas, em 31 de dezembro de 1987, um dia antes da entrada em vigor da diretiva europeia que, por motivos ambientais, proibia construções de represas como a de Riaño. Loucuras dos homens…
O trecho entre Riaños e Potes é curto, cerca de 60 km, e ótimo para a pilotagem, sendo que sua beleza, por vezes, tira a concentração de um circuito que exige muito do conjunto moto-piloto.
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Saindo de Riaños, sempre subindo, passamos pelo Parque Picos de Europa, as curvas e a subida vão ficando cada vez mais acentuadas, frequentemente “cotovelos” de 180 graus em aclive, obrigando uma primeira marcha até atingirmos o ponto culminante, exatamente na divisa entre as Comunidades Autônomas de Castilla y Léon e Cantábria, onde há uma estação de Sky. A descida, também linda, exigia ainda mais, agora dos freios também.
Como de hábito, mantenho um nível de segurança que permite a pilotagem com um mínimo de adrenalina, mas agora, longe de casa, com uma moto que não me pertence, sozinho e numa estrada sem movimento, aumento um pouco mais esse nível, mas ainda assim sem atrapalhar ninguém e, claro, usando sempre o “freio motor”.
Lá ia eu tranquilamente quando vejo pelo retrovisor um grupo de motos se aproximando, encostei na direita e os caras passaram voando baixo, o que estava no final do “bonde” acabou me ultrapassando na curva sem se importar com a possibilidade de um carro em sentido contrário. Devem ter achado muito engraçado. No dia seguinte parei para socorrer um deles preso embaixo da moto. O sacana caiu numa reta, naquela calha de concreto na lateral da pista. Seus colegas ainda estavam chegando, porém eu estava mais próximo e fui ajudar o cara a sair debaixo da moto. Apenas arranhões, um retrovisor quebrado e algumas marcas numa Honda Transalp. Agradecimentos, apertos de mão e lá fui eu pensando: “- Tanto lá como cá é tudo a lesma lerda !”
De Potes a Santander continuei minha viagem de moto por estradas pela Europa passando por secundárias e mais uma vez fui abençoado. Que estrada! Que cenários. Peguei a direção de Hermida e logo entrei num Canyon que quase nos intimidava. Altas escarpas, a estrada roubada à rocha à direita e o rio Deva correndo à esquerda, limitado pelo paredão que subia até impedir a visão do céu. Lindo, mas o melhor me aguardava: a cada 5 a 10 km um pequeno povoado de não mais do que umas 50 casas, quase todas de pedras, algumas remanescentes da idade média, onde a estrada era a avenida principal. Todas com jardins ou vasos de flores, como que saudando os passantes, mesmo que fossem um velho motard e sua fiel escudeira. Maravilhoso.
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Em Santander, já no principado das Astúrias, caímos num transito infernal. Errei a estrada umas 4 vezes (3 delas com ajuda do “carcará sanguinolento”) e acabei perdendo um tempo enorme. A solução foi entrar numa Autovia de 120 km/h e apertar o passo para correr atrás de um hotel em Pamplona. Consegui aos 45 do segundo tempo. Agora era banho, comer algo e dormir pois amanhã temos mais trabalho pela frente.
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