Olhar a história em cada lugar que passar e ver paisagens deslumbrantes pilotando uma moto pelo Velho Continente é um sonho que cada vez mais motociclistas brasileiros estão conseguindo realizar. O câmbio favorável é um dos fatores que tem impulsionado este mercado. O outro é a quantidade cada vez maior de agências de viagens que se dedicam a facilitar para todos a realização desse sonho.
Muita gente, como eu, tem aproveitado o preço normalmente baixo dos veículos usados, para adquirir a moto lá na Europa e realizar um roteiro por conta própria, o que é altamente recomendável, caso a viagem dure muitos dias.
Mas não é sobre o planejamento ou tipo de viagem que eu vou tratar agora. É sobre alguns cuidados que os brasileiros devem ter ao transitar pelas estradas européias, que apesar das regras definidas pela União Européia para o conjunto de países que a integram deixar muita coisa parecida, algumas normas e leis são próprias e válidas para cada país, incluindo as que tratam da legislação de trânsito.
Por terem extensão territorial muito pequena em comparação com o Brasil, dependendo da sua rota você poderá percorrer estradas de três ou quatro países em um único dia. E durante este percurso, terá que se submeter a três ou quatro legislações diferentes para o trânsito, que às vezes podem ser parecidas, mas que podem ter algumas particularidades.
Pesquisando na internet encontrei algumas que destaco a seguir. O não cumprimento pode deixar em maus lençóis os motociclistas mais desatentos.
- Antes de mais nada não custa lembrar que para poder conduzir motocicletas na Europa é obrigatório portar a Carteira Nacional de Habilitação na categoria A. Apesar de não ser obrigatória, é interessante levar também a Permissão Internacional para Dirigir, documento emitido pelos Detrans, pois ela tem as informações da CNH traduzida em várias línguas, o que pode ser útil se for parado para fiscalização.
- O seguro contra terceiros é obrigatório. Recomenda-se fazer um seguro completo e abrangente, que cubra algumas despesas, como defeitos e acidentes. Verifique se o seguro contratado cobre igualmente todos os países que visitará.
- As surpresas começam na Espanha. O nível de álcool no sangue varia de acordo com o tempo de carteira do motociclista. Se possuir carta há menos de dois anos não poderá exceder os 0,3 g/l. Se for apanhado, e como visitante, terá de pagar a multa no ato, com um desconto de 30% sobre o valor. Se usar óculos será obrigado portar um par a mais e apresentar caso solicitado.
- Já na França, a lei permite os 130 km/h nas auto-estradas, e é bastante rigorosa quando as condições de visibilidade são ruins: o limite passa para 50 km/h, em todas as vias.
- No coração da sede da União Européia, a Bélgica, os limites de velocidade nas zonas residenciais, é de 20 km/h. Por incrível que pareça, é este valor que encontrei nos sites de referência.
- As estradas da Alemanha costumam induzir em erro os turistas mais apressadinhos. Apesar da velocidade limite de 130 km/h nas famosas autobahns ser uma “recomendação”, existem trechos com limite estabelecido, e é cada vez mais comum encontrar radares nestes locais, principalmente junto a entradas e saídas das auto-estradas. E a polícia não perdoa quem exceder os 50 km/h quando estiver com neblina, ou supere os rígidos limites impostos na área urbana. Mas não é tudo. Se o veículo que você estiver conduzindo não for emplacado na Alemanha, não se admire se lhe pedirem uma caução caso seja multado (na falta de pagamento, o veículo poderá ser retido). Se cometer uma infração grave, o seu nome ficará registrado em um banco de dados, e durante um período você ficará proibido de circular pelo país conduzindo qualquer veículo.
- Nas auto-estradas da Áustria, o limite de velocidade é de 130 km/h, mas baixa para os 110 km/h, todas as noites, entre as 22h e 05h em algumas estradas como a A10 (Tauem), A12 (Inntal), A13 (Brenner) e a A14 (Rheintal). Também na Áustria as infrações graves poderão impedi-lo de “rodar” pelas belas montanhas daquele país por um largo período de tempo.
- As auto-estradas italianas com três pistas para cada lado permitem circular a 150 km/h, enquanto nas demais auto-estradas o limite é de 130 km/h. Tanto nestas vias como nos túneis é obrigatório circular com as luzes acesas, 24 horas por dia.
- No Luxemburgo, o limite de velocidade é reduzido para 110 km/h nas auto-estradas sempre que o tempo estiver chuvoso. O consumo de álcool durante a condução é permitido até aos 0,8 g/l. Se cometer uma infração, saiba que a polícia pode cobrar de imediato as multas, em dinheiro!
- A Suécia é um paraíso em termos de segurança rodoviária. Começa logo com uma taxa de alcoolemia baixíssima (0,2 g/l), portanto, cuidado até com uma simples cervejinha… A velocidade máxima permitida nas auto-estradas oscila num máximo de 90 ou 110 km/h, segundo a sinalização local. Mas nas zonas residenciais, zonas de creches e escolas, os 30 km/h são mesmo para serem cumpridos. As luzes são sempre para andarem acesas. E, atenção, porque gasolina não está disponível em todos os postos de combustíveis suecos, onde os automóveis usam em sua maioria o diesel.
- Do outro lado da fronteira, na Dinamarca, também terá que ter atenção, pois os postos de abastecimento estão em todos os lados, menos nas auto-estradas. E fora dos grandes centros não conte com eles durante a noite. A legislação dinamarquesa também é bastante rígida, estabelecendo limites de 110 km/h nas auto-estradas; 80 nas estradas e 50 km/h nas localidades, devendo circular sempre com os faróis acesos.
- Nas altas latitudes da Europa, a Finlândia é conhecida como o país dos mil lagos. A não ser que esteja pensando em conhecer o país de barco, atente aos 20 km/h nas zonas urbanas, pois a polícia finlandesa é implacável neste ponto. Deverá andar sempre de luzes ligadas e não verá pedágios. Neste país, a condução perigosa custa tanto como o excesso de velocidade (multa de 70 euros).
- Esquerda! Decore esta palavra quando andar nas estradas do Reino Unido, Irlanda, Chipre e Malta. Nestes países o trânsito é no sentido oposto ao nosso.
- O Código de Trânsito Britânico impõe limites de 48/96/112 km/h para as cidades, estradas e auto-estradas, respectivamente. A taxa de alcoolemia situa-se nos 0,8 g/l.
- Na Irlanda você não poderá exceder os 48 km/h nas cidades; 97 km/h nas estradas e 113 km/h nas auto-estradas. A taxa de alcoolemia é igual à britânica (0,8 g/l), e a polícia de trânsito irlandesa não cobra as multas no local, limitando-se a dar um formulário que você poderá pagar em até 21 dias em qualquer posto da “Guarda Siochana”.
- O uso do celular durante a condução multiplica por cinco o risco de acidente mortal. Esta prática é explicita ou implicitamente proibida em todos os países da UE.
- Os sinais de trânsito da Europa são muito parecidos com os nossos, mas tem alguns que são bem diferentes. Os principais dizem respeito ao sinal de “proibido transitar”, que é um círculo com borda vermelha e fundo branco. Se a proibição for para motos, será um círculo de borda vermelha, fundo branco e uma moto no meio. Esta placa acima quer dizer que é proibido circular com automóveis e motocicletas nas ruas onde ela estiver instalada. Outra placa diferente é a “proibido ultrapassar, que é o mesmo círculo com um carro vermelho e outro preto. “Direção proibida”, que é um círculo todo vermelho com uma linha branca central. Os sinais de conversão, com fundo azul, ao invés de mostrarem o que é proibido, mostram o que é permitido. Neste link tem a maioria das placas com explicação em português.
- Em todos os países é obrigatório do uso do capacete.
- Em alguns países, motocicletas de até 150cc são proibidas nas auto-estradas.
- Para quem se propõe a uma longa viagem de moto, saiba que, na Europa, e não deve ser diferente aqui, a sonolência ocupa o 8.º lugar entre as causas de acidentes (numa lista de 21 fatores levantados). Evite passar mais de duas horas seguidas pilotando, pois está provado que a partir de então, a atenção cede claramente o protagonismo a favor do sono. Pare para descansar – numa zona apropriada ou numa estação de serviço. Mas não durma mais do que 10 ou 15 minutos, senão entrará em sono profundo, e quando acordar terá dificuldade em concentrar-se. Ainda antes de voltar à estrada, beba um café, apanhe ar e caminhe um pouco a pé.
- Outro aspecto a cuidar é a alimentação. Afaste-se de comidas pesadas antes e durante a viagem. Um estômago demasiado cheio funciona como uma pílula para o sono. E, sobretudo, não cometa o mais comum e perigoso dos erros, que é considerar-se imune à fadiga. Uma larga percentagem dos acidentes provocados pelo cansaço ocorrem na velocidade que o veículo seguia, sem avisos prévios nem vestígios de frenagens. E sempre com graves consequências.
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