9º dia – Cafayate – Fiambalá

Dormimos muito mal, demoramos para arrumar as coisas e estávamos preguiçosos.

Enquanto tomávamos o café da manhã, um casal, acompanhado de uma amiga, se aproximou e pediram para tirar fotos nas motos. Terminamos o café e colocamos as motos no saguão do hotel para que subissem nelas e tirassem suas fotos. Pessoal muito alegre, estavam fascinados com nossa viagem e não pararam de fazer perguntas. Foi muito legal e nos animou bastante.

Adicionei no GPS o nome da próxima cidade, Fiambala, que seria a partida para a travessia do Paso San Fernando.

Saindo da cidade, ainda fomos avistando vinhedos, grandes fabricantes de vinho e wine resorts. Fascinante, vale passar alguns dias conhecendo a cidade e seus atrativos.

De Cafayate, a estrada segue por um asfalto, cortado dezenas de vezes por badenes, espécie de rebaixamento no asfalto, feito para facilitar a passagem da água do degelo ou de chuvas torrenciais nos picos das montanhas.

Seguimos por El Paso, ao invés de desviar este trecho por Amaicha Del Valle. Desta forma, passamos por vários pequenos povoados, daqueles que as casas não tinham quintal na frente e acabavam direto na rua. Interessante, deviam ser antigos.

Continuamos neste trecho por 40 km, até novamente voltar para RN-40. Mas antes, passamos um rio seco, com uns 500 metros de largura, com cada pedra enorme.

Na RN-40, seguimos por trechos com ótimo asfalto e por trechos com grandes pedras. Estavam fazendo a camada de compactação para posterior cobertura asfáltica.

Somente depois de Hualfin, acabaram os trechos de terra. Nessa cidade, paramos para abastecer e encontramos com um tcheco e um americano que estavam fazendo um pequeno lanche. Conversamos, abastecemos e voltamos a conversar com eles. Não estavam viajando juntos, se encontraram ali ao acaso, o tcheco comprou uma Vstrom 1000 nos EUA e foi descendo, tudo organizadinho. O americano, no melhor estilo “porra loca”, com uma Suzuki, com enormes mochilas penduradas e com direito a um enorme pelegão sobre o banco. Conversamos animadamente e depois cada um seguiu seu caminho. Engraçado que eles estavam viajando sem GPS.

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Algumas dezenas de quilômetros depois, acabaram as curvas e a estrada virou um retão plano que devia ter mais de 100 km. Dai, começou a me dar sono, pois estávamos seguindo em media a 100 km/h.

Para mim, estas retas são piores que pilotar em estrada sem pavimento, onde o estado de alerta é constante.

Fomos administrando o cansaço até chegarmos a Belém. Acredito que deveria ser depois das 14 horas, pois estava tudo fechado, mercado, panificadoras e até restaurantes! Consegui achar um pequeno comércio, questionei se poderiam fazer sanduiches e fomos atendidos.

Caí na besteira de perguntar se o rapaz do lugar gostaria de comprar US$ 100, pois meus pesos argentinos estavam acabando. Ele pegou um jornal e falou que a cotação era $1 = 4,90 PA e que ele poderia me pagar 450 pesos por 100 dólares. Eu expliquei que este câmbio oficial era fictício, ninguém consegue compra dólar na Argentina na cotação oficial, o dólar para compra é vendido por 7 pesos. Ele disse que eu estava querendo me aproveitar da situação e começou um blablabá. Eu paguei minha conta e fui embora.

Chegando na cidade de Tinogasta, a minha situação econômica, com base na moeda local, estava tensa. Tentei cambiar dólar e ninguém queria, fui no posto YPF, o gerente ligou para o dono questionando se eu poderia pagar em dólar e cambiar 100 dólares por peso, mas o pedido foi negado. Eu não poderia deixar para resolver isso em Fiambala, que era uma cidade muito pequena. Com certeza não haveria comprador para dólares.

Até que o frentista perguntou se eu tinha cartão de debito! Situação resolvida. Enchemos os tanques e os galões com gasolina reserva para o Paso San Fernando, e ainda, como ele havia acabado de receber 220 pesos em dinheiro de uma abastecimento, ele me deu o dinheiro e passou no meu cartão. Agora eu tinha por volta de 400 pesos argentinos. Faltavam pouco mais de 40 km para chegar em Fiambala.

Chegando lá, fui direto ao posto, tentei a mesma conversa dos dólares e nada, nem cartão. Abastecemos com o pouco que faltava e fomos procurar hotel, achei um que aceitava cartão, mas estava lotado.

O rapaz me indicou um outro bem mais simples. Ficamos por lá ao preço de 200 pesos.

Depois do banho, saímos para jantar. Gastamos quase 140 pesos, e ainda tínhamos que comprar algo para comer no caminho com os 60 pesos restantes.

Depois da janta, fomos procurar um supermercado, quando de repente um rapaz, perguntou meu nome, de onde eu era, colocou um fone em mim e me deu um rádio HT, para uma entrevista ao vivo para a radio local, daquelas rádios que tem vários alto-falantes espalhados pela cidade !!

Foi bem engraçado. Compras feitas, bolacha, sucos e repor o estoque de água.

Voltamos ao hotel no exato momento que começou uma tempestade. As motos estavam bem na frente do hotel. Segundo a recepcionista (que mora ali), a garagem era nos fundos. Pegamos as motos e fomos ao fundo. A garagem era um cercado feito com um tecido rasgado ! Voltamos para a frente do hotel, mas antes, vimos uma grande moto Yamaha, com placa de Porto Alegre. Ba tche, um gaúcho, que logo saiu na porta dos fundo do hotel. Dei um grito pra ele, chamando pra frente, pois iríamos colocar as motos sob a varando do hotel.

O gaúcho, Iuri, dono da Ténéré 1200, estava viajando com sua esposa Maira, tinham acabado de chegar do Paso, por volta das 22 horas. Começamos uma longa conversa, contaram seus causos da viagem, que haviam encontrado com quatro motociclistas na saída de Copiapó, indo em direção ao Paso, sem combustível reserva e sem ao menos saber que havia trecho sem pavimento. O encontro com este casal, não sei porque, mas nos deu um ânimo maior para seguir viagem.

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Logo após a tempestade, veio uma tempestade de areia, pois Fiambala é rodeada por montanhas e dunas enormes.

Quando a chuva voltou, a luz acabou, ficamos um tempo no escuro, até conseguirem ligar o gerador do hotel.

Nisso, o Iuri, escutou um barulho na frente do hotel, foi ver e voltou com a noticia que haviam chegado mais dois gaúchos, isso por volta das 23 horas ou mais.

Chamei ele para ver o meu suporte Ram para a GOPRO. Junto às nossas motos, estavam as dos gaúchos, sendo que a primeira coisa que eu fui ver foi de onde eram as motos: uma Transalp, do Telmo, de Santa Maria RS, a outra era de outra cidade próxima (Marcio desculpe, esqueci o nome da sua cidade), uma Vstrom 650.

Ali mesmo já começamos outra animada conversa. O Márcio, quando viu a placa das nossas motos, falou pro meu filho: “Parece que te conheço”.

Daí comecei a contar que em janeiro de 2012, depois de desistir de uma viagem para os EUA, de onde voltei do Atacama, encontrei com oito gaúchos de moto, com uma SW4 de apoio. O márcio começou a rir, e falou: “Baralho, você é o cara da Ténéré 250, que estava triste, voltando pra casa…..”

Que felicidade encontrar com ele e relembrar deste dia. Esse pessoal de Santa Maria era tão, mas tão gente boa, que insistiram muito para que eu voltasse para o Atacama com eles. Que grupo fascinante.

Como a luz do gerador não era suficiente para suprir com energia o ar condicionado do quarto, eu abri a janela que ficava sobre minha cama, pois estava muito calor.

De madrugada, chegou um carro barulhento atrás de hospedagem, atrapalhando nosso sono. (mais um dia)

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Saída: Cafayate, Argentina
Destino: Fiambalá, Argentina
Km percorrida: 470 km
Km acumulada: 4.260 km


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