Aos amigos e irmãos de estrada, meus cumprimentos. Minha história começa quando eu tinha 13 anos e troquei minha bicicleta e meu vídeo game por uma Mobilete 50cc. Pior que o cheiro de óleo queimado e sujeira de graxa foi a expressão da minha mãe… Nossa, minha velhinha queria me matar.
Já no primeiro dia descobri que não se usa só o freio dianteiro em rua de chão batido. Foi meu primeiro e memorável tombo. Voltei para casa todo ralado, a moto arrebentou o cabo do acelerador e tive que levá-la para casa ligada em aceleração máxima kkkk.
Éramos 9 irmãos, mas só eu desenvolvi essa paixão pelas motocicletas. Aos 17 contava os dias para tirar habilitação. Já havia tido muitas motos, mas não podia ir muito longe, então eu ia para a beira da BR-471 e ficava olhando para o horizonte e me perguntando – o que tem lá? Quando vou poder ir? como será? – Via as motos passarem em grupos e acenava como que desejando boa viagem e dizendo – me esperem, um dia serei eu.
Mas sempre tem alguém que tenta te puxar pra baixo. Eu escutei muitas pessoas dizerem – cara, tira isso da cabeça, é coisa de quem tem dinheiro e tempo, você é pobre e o máximo que vai ter é uma CG pra ir pro trabalho. – Nada contra CG, eu tive duas.
Já a minha mãe dizia – filho, não gosto que você ande de moto pra cima e pra baixo, isso é perigoso, mas se você realmente quer, vai atrás dos teus sonhos, nada é impossível se você realmente acredita e se agarra a isso.
Lembro como se fosse hoje. Completei 18 anos e fui correndo tirar habilitação com o dinheirinho suado que havia economizado.
Tinha feito 21 anos, terminei o colégio, fiz cursos técnicos e já estava casado, mas não tinha nenhuma viagem de expressão na bagagem e isso me apertava o coração. Minha esposa, vendo aquilo e sabendo da minha eterna paixão, me presenteou com minha primeira moto de viagem, uma Honda CB 400 1982. Um amigo dela ia se mudar e não poderia levar a moto. Foi uma pechincha. Ela não entendia nada de moto, só sabia que era uma moto grande, maior que todas as outras que tive. Olha, vou contar, nunca me senti tao feliz. Era velhinha, mas viajei por todo o meu estado do Rio Grande do Sul e Uruguai com aquela CB, que nunca me deixou na mão, porque sempre cuidei bem dela. Ficou comigo vários anos. Foi daí que eu aprendi que não existe moto velha e sim moto mal conservada.
Há 3 anos meu casamento chegou ao fim, depois de 14 anos. Não viajava há muito tempo, pois minha esposa preferia o carro. Durante uma viagem de carro, estava em um posto de gasolina e pararam uns 7 ou 8 motociclistas em viagem para o Deserto do Atacama, destino com o qual sonho desde que tinha minha Mobilete. Chegou um menino numa bicicleta, talvez uns 13 ou 14 anos, e disse para um dos motociclistas que estava tomando um café – sabe, eu tô treinando com a minha bike pra um dia comprar minha motona igual a essa – apontando pra uma VStrom 1000 – e vou ir lá onde vocês estão indo. – O cara deu uma risada e disse – mas você nem sabe pra onde a gente tá indo… – O garoto nem pensou e respondeu – não importa, eu vou de moto, então posso ir pra qualquer lugar que eu quiser. – Eu parecia estar me vendo ali, naquele garoto. Então o cara tirou da bolsa um adesivo do motoclube, colou na bike do garoto e disse – então agora você é um membro e irmão de estrada. – Que felicidade no rosto daquele menino, quando o cara disse – sabe, quando eu tinha sua idade eu entregava jornal pra ajudar em casa e tinha uma bike igual a essa, então não desista. – Fiquei pensando onde foi que eu me perdi, onde foi que deixei o tempo passar e não fiz o que queria, empilhando desculpas pra não fazê-lo. Quando eles foram embora, notei que tanto eu quanto aquele menino estávamos olhando pro horizonte e as motos sumindo, nós dois com aquele brilho nos olhos. Decidi que era hora de retomar meus sonhos.
Passei um mês pesquisando e comprei uma GTR 650. A partir de então não parava um fim de semana em casa, mas por ser uma moto esportiva, não ia muito longe. Mas ela me satisfazia. Minha mãe dessa vez ficou feliz, porque eu ainda estava meio abatido com a separação e a moto me devolveu um motivo pra correr atrás.
Um dia cheguei todo contente – mãe esse fim de semana vou a Colônia de Sacramento. – Mas veio aquele balde de água fria – a meu filho, até que enfim, é lá que fica aquele deserto que você quer ir desde que era criança? – Metade da minha alegria ficou por ali. – Não mãe. Esse fica muito mais longe, não tenho como ir agora. – Eis que ela respondeu – e por que não meu filho? o que te impede, não tens as pernas, os bracos, ou isso fica lá em Marte? – E lá se foi a outra metade da minha felicidade. Eu estava dando mais desculpas pra não correr atrás. E a velhinha seguiu pisando – quando você vai ter tempo, quando estiver igual a sua mãe agora? Eu tenho a minha desculpa, qual é a sua? – Faz 2 anos esse diálogo e minha mãe estava já muito debilitada por causa de um câncer. Não fiz a tal viagem, a saúde da minha mãe piorou e ano passado ela nos deixou. Vendi minha moto e segui com minha vidinha, trabalhando, morando sozinho, fazendo nada.
No dia 12 de dezembro passado, dia em que minha mãe faria aniversario, lembrei da pessoa que, mesmo não gostando de motos, me encorajava a seguir com meu sonho. Talvez ela acreditasse mais nisso do que eu. Lembrei mais uma vez do olhar daquele menino do posto e fiquei com aquilo na mente o dia todo. Naquela semana cheguei a sonhar que ia numa viagem longa, nem sei pra onde, só com uma mochila e de Mobilete. Então o menino de 12 anos que ainda existe em mim decidiu: em 2017 eu estarei lá, sem desculpas.
Estou economizando um dinheiro e vou comprar uma moto trail, com a qual sou apaixonado, e estou procurando companheiros para formar um grupo pequeno para fazer essa viagem em novembro ou dezembro. Quero manter contato para planejar rotas, valores, fazer essa viagem com segurança e gastando o mínimo possível.
Então, se você, como eu, já adiou demais sua viagem de moto por diversos motivos e tem muitas desculpas, a hora é essa. Vamos lá. Quem está escrevendo aqui é uma pessoa normal, como você. Tá com medo? Não tem tempo? Não sabe? Eu também não sei, mas tomei as rédeas da minha vida. Nunca fui, não sei o que me espera, mas cansei de ouvir que é difícil, que não deveria ir assim, que algo pode dar errado. Danem-se! Vou pôr minhas botas, subir na minha motoca e o resto… quando eu voltar eu conto. E se Deus quiser vou poder contar até para os meus netos. Então, fico no aguardo, e espero que os que deixaram seu sonhos pra trás, deixem as desculpas de lado e bora viajar. Se faltava convite ele está aqui. Se tem medo de viajar, medo de passar vergonha com os veteranos da estrada, eu também não tenho experiencia em viagens tão longas, mas uma coisa eu digo… vou viajar, viver, voltar e vou postar aqui neste mesmo site tudo que fiz e vivi.
Abraços em todos os amigos da estrada!
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