Reclamando de “barriga cheia?

Para os atuais motociclistas, aqueles que reclamam por falta de infraestrutura nas rodovias quanto à deficiência na sinalização em razão da precária orientação por placas; buracos nas vias; atendimentos falhos em postos de combustíveis; assistência mecânica duvidosa; dificuldades em conseguir alimentos e tudo mais, não lamentem o que têm e apenas cobrem por melhorias, pois já foi muito pior. Se fizermos pequena comparação, atualmente os motociclistas desfrutam de um maravilhoso ‘céu de brigadeiro’ nas rodovias, postos de combustíveis, sinalizações e tudo mais.

Motociclistas que outrora se aventuravam estrada afora poderiam ser classificados como os antigos e históricos “Bandeirantes”, por entrarem pelas matas e estradas sem saber quando, como e onde chegariam, ou até se chegariam a um lugar qualquer. Não tinham socorros médicos, provisões suficientes ou sequer um rudimentar mapa para orientá-los. Muito menos comunicação que era praticamente nenhuma. Desbravavam adentrando pelo Brasil enfrentando todos os riscos, fossem eles fortes intempéries, trilhas perigosas, animais, doenças ou o que mais fosse.

Não tinham destino porque o destino eram as aventuras. E fossem aonde fossem, acontecesse o que acontecesse, buscavam sempre o novo, o diferente, e maravilhavam-se com as surpresas que pela frente iam surgindo na forma de desconhecidos e perigosos desafios que tinham de ser enfrentados e principalmente vencidos. Ou poderia ser na forma das belíssimas aparições naturais que os premiavam com suas belezas.

Era justamente em tudo isso que estava o gostoso sabor da aventura.

Sobre esse fato posso ‘falar de cadeira’ porque fui um desses veteranos malucos que muitas saudades guarda dessa época maravilhosa. Época em que não havia essa violência atual porque as pessoa se respeitavam, eram mais amigas, solidárias. O amor imperava.

E isso pode ser visto no livro “ Motociclistas Invencíveis “.

Atrevendo-me mostrar como era o motociclismo anterior por estradas de terra, cito como exemplo algumas modalidades esportivas, tais como: Trilhas, Motocross, e até o Rally Dakar. São modernas e sofisticadas simulações daquela realidade de outrora, com a diferença que hoje vemos caravanas compostas de carros, ônibus e até helicópteros, com alimentos revigorantes, equipes médicas e mecânicas acompanhando os atuais participantes, a fim de dar-lhes o máximo de assistência e segurança (até conforto) durante todo o transcorrer da competição.

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Mas como para tudo na vida existe uma compensação, se antes nada disso havia, acontecia que aonde os veteranos ‘desbravadores’ montados em rudimentares motocicletas chegavam, eram alvo de festas e gentilezas prestadas desde os mais aristocratas aos mais simples e acanhados moradores dos locais visitados. Perguntas mil eram-lhes feitas a fim de saberem das novidades, pois até um modesto rádio, na época era artigo de luxo, havendo até locais onde eram completamente desconhecidos. Televisão, computador, telefone celular ou tudo mais, nem pensar, porque isso não existia e se alguém falasse que um dia apareceria, diriam ser mentiras inventadas por algum “lunático”.Isso é mordomia que antes não havia em razão da época.

Eram outros tempos. Mas se por um lado haviam dificuldades, por outro esses veteranos motociclistas eram premiados ao receberem afeto, carinho e respeito em todos os locais por onde passavam ou chegavam. As pessoas eram mais confiáveis, mais generosas, amorosas.

Isso acontecia porque acima de tudo havia o mútuo respeito.

Foram “anos dourados”, poéticos, onde amizade, solidariedade e confiabilidade, emanavam dos poros das pessoas e contagiavam outrem.

Hoje temos motocicletas com “designer” espetacular; maior conforto; mais modernas e avançadas, com múltiplas versões para se escolher; mas na sua maioria sem personalidade, sem carisma, sem o “charme” das tradicionais, das clássicas.

Sofisticaram o visual, diversificaram potências, modernizaram seus sistemas motores, elétricos e de injeção, mas a forma básica permanece porque é imutável. São características impossíveis de serem alteradas porque são naturais e espontâneas, coisa intrínseca e inexplicável que só as clássicas possuem!

Mas como a esperança é a última que morre, existe a possibilidade dos novos motociclistas serem agradavelmente surpreendidos com o reaparecimento de uma “lenda” no motociclismo mundial.

Basta viver e verá!

E quanto aos autênticos motociclistas afirmo existirem coisas que também são imutáveis, tais como dignidade, amizade, união.

Porque essas qualidades estão na essência dos reais, fraternos e verdadeiros motociclistas.

João Cruz é autor do livro Motociclistas invencíveis
j.v.cruz@oi.com.br

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