(Ainda em) Campina Grande

Acordando às 6h, tomaram café reforçado e o gerente do hotel lhes disse que a despesa seria por conta do Moto Clube. Agradecendo a atenção que este lhes dispensou no hotel, pegaram suas maletas com roupas e foram caminhando até a moto, que estava numa loja com as pastas das ferramentas nas suas laterais.

No caminho até a loja iam sentindo que havia alguma coisa estranha e por isso até comentaram entre si. É que ninguém do Moto Clube havia aparecido para despedir-se deles. Nem os diuturnos e notáveis cicerones. Mas de qualquer forma tinham sido muito bem tratados por todos eles, até melhor do que mereciam.

De repente, qual não foi a surpresa que tiveram ao dobrarem o quarteirão e já próximos da loja viram grupo de motociclistas que ali estava esperando-os. Na frente deles estava Agenor, presidente do Moto Clube Campinense e ao seu lado o tesoureiro, Mário. Dizendo tratar-se de uma surpresa, queriam levá-los até a estrada, tal como se os visitantes fossem autoridades com direito a batedores.

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No retorno que fizeram, passaram novamente pelo Posto Policial de Café do Vento, mesmo Posto onde na ida em 11 de março fora carimbado o caderninho quando subiam para Campina Grande. Acontecia, porém, que desta vez não eram os mesmos dois policiais que lá estavam.

Pedindo para carimbarem o caderninho, enquanto um deles ficou conversando com o Fernando, o outro foi conversar com o piloto. Este, examinando a moto, olhou o piloto de cima embaixo e então falou para que lhe mostrasse a carta de habilitação (de todo o trajeto Rio-Campina Grande, ida e volta, foi o único que pediu documento). O piloto tirou-a da carteira e lhe entregou (era de cartolina, ano 1953, com foto, categoria A, Prontuário 200.822, assinado pelo diretor, Sr. Estrela).

Ele olhou para ela, olhou para o piloto e disse estar registrado na carteira “obrigado ao uso de óculos”. A resposta do piloto foi sim e que ele estava de óculos como podia ser visto. Não satisfeito pediu a receita dos óculos. Perplexo com a burrice ou esperteza do bobalhão ou as duas coisas juntas, o piloto, já ficando aborrecido, perguntou:

“Por quê? Por acaso você tem algum aparelho pra medir o grau?”

Nisso, o outro guarda que conversava com Fernando percebendo o lance do tal colega bobalhão foi por trás dele e disse baixinho no ouvido (mas deu para escutar). “Eles são cariocas, da capital!” (essa expressão capital referia-se a Distrito Federal, pois na época a capital do país estava no Rio de janeiro). Foi o suficiente para que o picareta “ficasse na dele” e devolvesse imediatamente a CNH.

Gentilmente, o outro pegou o caderninho e carimbou-o. Os dois agradeceram e foram embora sem olhar para a cara do pretenso espertalhão ou notório bobalhão.

Nota: Nas consultas feitas no caderninho dos carimbos, foi verificado que a quase totalidade das anotações foram feitas com excelente caligrafia, o que mostra ter havido na época grande cuidado do governo por esse item no tocante à educação/instrução (caligrafia). Haja vista serem os livros antigos de registros em cartórios, atas, inclusive cartas e originais de livros, os quais eram feitos com caligrafia desenhada e muito elegante.

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Por não existir na época máquina de datilografia no Brasil, os textos eram feitos somente à mão, razão das letras serem bem desenhadas e belíssimas. Isso acontecia por haver nas escolas aulas de caligrafia (com cadernos específicos) junto com outras matérias.

Seguindo com a narrativa, mais adiante chegaram de volta a João Pessoa, atravessando-a e indo direto à paradisíaca praia de Tambaú.

Vendo-a pela primeira vez num dia de sol maravilhoso e céu totalmente sem nuvens, extasiaram-se com aquela visão espetacular.

Imenso mar de águas mornas e límpidas nas cores verde/azul a perder-se de vista. Cores que, graças à existência de corais e tendo por parceira a luz do sol, adquiriam matizes e nuanças indescritíveis, proporcionando maior beleza àquela linda visão. Mais distante, mas dentro desse mesmo quadro maravilhoso aflorava-se das águas, porções de areia em forma de coroa, dando majestosa visão ao lugar.

Destacavam-se também nessa natureza, coqueiros, palmeiras e grandes árvores frondosas fincadas nas brancas areias existentes em toda orla da imensa praia. O belíssimo e luxuoso hotel Tambaú, que hoje adentra pela praia até ao mar, ainda não existia naquela época.

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A chegada deles coincidiu no momento em que dois pescadores haviam retirado do barco pesqueiro dois cações-lixa medindo 2 metros cada um e colocando-os sobre encerados abertos na areia, para depois abri-los.

Embora estivesse a moto na areia, conseguiram colocá-la no descanso central e foram a pé até onde estavam os pescadores a fim de admirarem aqueles belos e fortes cações (tubarões).

Satisfeitos com a bela visão da praia de Tambaú, às 11h prosseguiram viagem em direção a Recife, aonde chegaram às 13h30.

Por ser hora do almoço, a mãe do Fernando serviu-lhes uma gostosa refeição. Ao terminar, trataram de providenciar os preparativos para a viagem de retorno ao Rio a qual fariam no dia seguinte de manhã.

Tendo sobrado um tempo para se distraírem, no final do dia foram passear pelas redondezas.

Ao voltarem para casa, Zezé perguntou se precisavam de algum dinheiro, no que o piloto perguntou se poderia emprestar novamente alguma importância. Ele pagaria no Rio de Janeiro, já que ela também preparava seu retorno para o Rio (onde morava), só que de avião. E como iriam continuar se encontrando no Rio de Janeiro, lá acertariam toda e qualquer conta atrasada.

Motociclistas Invencíveis

Semanalmente vamos publicar, aqui no Viagem de Moto, capítulos do livro Motociclistas Invencíveis, romance extraído de uma viagem com moto ocorrida em 1960.

Conduzindo na garupa da moto um amigo, piloto sai do Rio de Janeiro por estradas de terra a fim de encontrar sua linda namorada, que saindo de Itabuna (BA) para morar no Rio de Janeiro, de repente, da noite para o dia, desaparece sem deixar rastros. Chegando a Itabuna, o piloto descobre que ela fugia de assassinos (contratados para matá-la), pelo fato dela ser testemunha do assassinato de seu pai, ex-cacaueiro na região.

Por acontecerem muitas aventuras e novos amores pelo caminho, foram até a Paraíba.

Enfrentaram sol, poeira, chuva e lama. Ajudaram, foram ajudados, acontecendo inclusive que, por levarem uma garota (estava num leito de morte) entre eles dois até ao hospital, salvaram sua vida. Em si, a história mostra como eram os motociclistas Nos Deliciosos Anos Dourados.


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